A magia da BR 156

Era o último dia de novembro de 2005, muitas escolas já haviam encerrado e isso tornava o pequeno Claudinho uma criança triste. Era, portanto, época de férias, tempo em que não havia mais deveres escolares, que todos podiam brincar até tarde da noite e que também se podia dormir um pouco mais no dia seguinte.

Havia tantas atividades para fazer que alegraria um grande número de crianças durante aquele período, exceto Claudinho que se entristecia em não poder viajar como seus colegas. Naquele dia, ele ouvia seus colegas que diziam:

— Incrível! Nessas férias irei para a casa de minha tia que mora à beira-mar, na Praia de Canoa Quebrada, em Fortaleza!

— E eu irei para as montanhas com meus pais onde construiremos uma super cabana!

— Eu parto habitualmente para o exterior com meus pais, mas este final de ano iremos para o Havaí, será bem mais interessante do que no ano passado quando visitamos o Alasca e quase congelamos!

Mas, o mar, as montanhas, as ilhas ou o deserto não diziam nada para Claudinho que ficava todas as férias em Porto Grande, um município no interior de Macapá, no Estado do Amapá.

Ele ouviu todas aquelas coisas e voltou para casa muito pensativo. Sentou-se num banquinho para observar a longa estrada que passava diante da casa dele, que, aliás, estava deserta naquela hora, ninguém circulava porque já era mais de meio-dia.

Nem sombras de nuvens se deslocavam no céu, nem uma formiga sequer atravessava a estrada por causa do sol a pino quase que escaldante.

Claudinho ficara sozinho depois que seus pais morreram, estava sendo criado por uma senhora que se apiedara dele, mas que também não tinha posses.

Longe dos seus colegas, ele se entediava diante daquela estrada deserta, sem ninguém para conversar, pois sua mãe adotiva estava trabalhando.

Ele estava tão concentrado em seus pensamentos quando de repente ouviu uma voz:

— Nossa, está tão quente! Este ano o calor está demais, acho que vou sufocar aqui!

Claudinho pensou: É estranho, escutei alguém falar e não vejo ninguém, talvez um raro habitante não tenha saído de férias. Ele olhou em todas as direções e não viu mesmo ninguém. Será que era sua voz interior falando? Voltou a mergulhar em seus pensamentos, mas subitamente:

— Ah não! Estou transpirando demais, se isso continuar eu vou derreter como um chocolate ao sol!

Claudinho verificou e viu que não era dele que vinham aquelas palavras, estava realmente quente, mas como ele já se acostumara ao calor e não estava transpirando, ele disse enfim:

— Quem está falando? —perguntou procurando com os olhos por uma resposta.

— Sou eu, a estrada, a BR 156!

— Ah não! Não estou dormindo e por isso também não estou sonhando. A BR 156 agora virou uma estrada falante?

Talvez o sol tenha batido tão forte que ele notou traços reluzentes sobre a estrada, poderia até dizer que ela realmente transpirava. Claudinho puxou um lenço do bolso e começou a enxugá-la enquanto a estrada continuava a falar:

— Oh, obrigada meu amiguinho, você é tão amável. Como pode ficar fora de casa diante de um calor insuportável desse? Eu se pudesse estaria ao abrigo de um para-sol... Talvez dentro de uma piscina com água fresca ou me refrescando no Mar em uma das Ilhas do Caribe!

— É mesmo Estrada? Só que eu não posso pensar assim, lá dentro eu só tenho um quartinho com uma janelinha bem estreita. Aqui fora me sinto bem melhor! —respondeu o garoto.

— Eu compreendo Amiguinho, ficar fechado não é o melhor, mas agora o necessário seria que caísse uma chuvarada por aqui, assim me sentiria bem melhor! —respondeu a estrada.

— Queres que te molhe um pouco? Propôs o garoto.

— Oh meu amiguinho, és tão gentil, é claro que eu gostaria sim, mas não te preocupa tanto comigo, só algumas gotas de água bem fresca será o suficiente!

Claudinho entrou em sua casa e retornou depois com um balde cheio de água e pedaços de gelo. Derramou ao longo da estrada nos lugares em que ela mais transpirava, mas a água evaporou instantaneamente.

— Eu sinto muito! Desculpou-se Claudinho que tinha a impressão de não ter feito nada.

— Não é sua culpa meu menino, é essa onda de calor que aquece demais. Estou agora me sentindo como se estivesse toda mole, é como se eu estivesse me desmanchando toda!

Claudinho constatara que o brilho de transpiração da estrada se transformara em uma matéria opaca, um pouco colante e muito maleável.

— Oh... Veja meu amiguinho, estou descolando do chão! Oh céus, estou surpresa em poder me mover para qualquer direção, se for isso mesmo já sei o que fazer e já estou indo. Direção: Férias...! — exclamou feliz a estrada.

— Ah não BR, tu não vais partir e me deixar aqui agora! —disse o garoto triste ao ver que ficaria sozinho outra vez. Mas a estrada voltou-se para ele e disse:

— Não se preocupe meu menino, eu levo você comigo. Mas diga-me, qual seria o lugar das suas férias preferidas?

— Bem, primeiro eu gostaria de ver o mar, pois nem aqui e nem em Macapá não existe o mar, só o Rio Amazonas e outros rios!

A estrada se desdobrou até uma praia distante e... Tchibum! Um banho bem refrescante tomou Claudinho junto com seu tapete volante no Mar do Caribe.

Os dois brincaram tanto de mergulhar, a estrada levantava-se acima do mar em diferentes altitudes, aberta, enrolada, em forma de colchão pneumático flutuando ao sabor das vagas, aproveitando as delícias das ondas do mar e das férias. Depois, Claudinho pensou que poderia mudar de direção e disse muito feliz:

— Para as montanhas minha Estrada Fantástica!

— Seus desejos são uma ordem Majestade! —respondeu a estrada.

E Hiupiiii... A estrada se enrolou como um rolo, depois desenrolou na direção das grandes montanhas e, tão facilmente, ela escalou um alto cume. Claudinho desceu pela mata virgem e se pôs ao trabalho que também era um dos seus sonhos: construiu uma cabana que bordeava a encosta da grande montanha. Eles dormiram ali, no dia seguinte, Claudinho disse a estrada:

— E agora minha Estrada Fantástica, nós iremos para o exterior! Para a descoberta do mundo!

Maravilhada, a estrada desdobrou seu tapete na direção dos mais lindos recantos do mundo, fazendo seu pequeno passageiro visitar os mais belos lugares do planeta. Claudinho passou assim uma temporada extraordinária como nunca houvera passado. Eram as mais maravilhosas férias de sua vida. Mas eis que fevereiro já se aproximava e o dia da volta às aulas se projetava. Claudinho voltou-se para a estrada e disse seriamente:

— Vamos minha BR Querida, volte agora para o Porto Grande, pois eu preciso estudar!

— Tens certeza? —perguntou a estrada que teria bem continuado para outro percurso.

— Certíssimo...! —respondeu Claudinho.

— É preciso estudar e deixar as brincadeiras para o próximo ano! Tenho um longo ano pela frente, mas prometo que todos os dias estarei contigo dentro do meu coração, minha amiga. Nas próximas férias nos divertiremos ainda muito mais!

E assim, o pequeno habitante de Porto Grande se divertia com a magia da BR 156 a cada ano, quando chegava o tempo das férias.

Aronedla
Enviado por Aronedla em 20/12/2015
Reeditado em 20/12/2015
Código do texto: T5485927
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