Canções de Guerra - Capítulo 2

--Capítulo 2 --

Logo no raiar do dia seguinte, D. Henrique e sua cavalaria já saíam deixando para trás a pequena vila, famílias e seus bens mais preciosos. Viajaram algumas horas até que chegando no local do encontro pararam, com tempo ainda para organizar as tropas antes da chegada de Lorde Emmanuel, que trazendo mais homens e carros viria a se unir aos demais que ali estavam para seguir adiante. Henrique seguia com seu olhar profundo e sombrio, pele pálida e mãos frias frentes à brisa que corria na campina. Seu coração batia fortemente, sabia que não ia de ser fácil, lhe encorajava o pensamento de honrar a morte da sua amada na investida bárbara sobre suas terras, e com seus olhos molhados, estava prestes a derramar uma lágrima quando um forte estrondo de marcha irrompeu sobre a área onde estavam.

Era a comitiva de Lorde Emmanuel descendo a elevação mais próxima. Aquele rosto danificado por cicatrizes de guerra sempre lhe foi comum. Henrique e Emmanuel sempre foram muito próximos, mas com o sucesso na invasão da Normandia, Emmanuel foi elevado à Lorde pelo seu rei. Havia muito tempo que Henrique não vira tantos guerreiros, filas e filas de soldados armados com escudo e lança, imponentes com seus elmos encouraçados e olhares profundos de raiva, tristeza e melancolia. Henrique entendia muito bem esse sentimento. A maioria desses soldados e cavaleiros também perdera seus familiares há algum tempo e nutriam o mesmo sentimento de vingança de Henrique. Mas a maioria esmagadora de pessoas era de camponeses comuns que ainda conseguiam segurar uma estaca com pontas de ferro para combate. Estavam cobertos apenas por duas camadas de tecido fino e sabiam que morreriam fácil na guerra. Não havia outra escolha, ou morriam no campo de batalha e protegiam sua família que continuavam a esconder em montes atrás do castelo de seus nobres, ou morriam como covardes junto a eles. Cumprimentaram-se outra vez depois de tanto tempo, e Emmanuel agradeceu a D. Henrique pela disposição das tropas para liderar o contra-ataque ao exército inimigo.

- Como vai vossa senhoria, meu lorde? – disse Henrique à Emmanuel com um sorriso sarcástico no rosto.

- Pare de me chamar assim, idiota! Sabe que não sou superior algum seu! – retrucou Emmanuel dando um abraço apertado no seu grande amigo.

Henrique não tinha muitos amigos. Era normal tratar seus servos como seres inferiores à ele. Os dois cresceram juntos no mesmo castelo, e por Henrique, mesmo tendo perdido seus pais ainda bebê, ter sobrenome nobre, foi adotado pelos pais de Emmanuel e tratado como filho. A esposa de Henrique sempre foi muito doente e ele havia perdido sua filha para saqueadores 20 anos atrás. Emmanuel era seu único amigo, mas isso não importava. Ele não estava mais sozinho, e agora não era hora de pensar muito. Agora, como um só, como um exército, uma nação, marchariam contra o inimigo. A Britânia nunca esquece.

Leonardo Nali
Enviado por Leonardo Nali em 01/05/2016
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