Segredos da Lua

Já a tarde caía quando nos recolhemos muito lentamente. Havia uma paz no céu completada pela luz sutil do por do sol. Ali sentados no banco de madeira do nosso pequeno chalé, demoramos mais um tempo observando o sol chiar no horizonte, os pássaros retornarem para suas casas e aproveitamos um pouco mais a brisa suave no rosto antes de entrarmos.

Um pouco depois, adentramos a sala do chalé, me dirigi a cozinha para preparar uma bebida quente, porque apesar de um fim de tarde agradável, estávamos no inverno e a noite estava chegando trazendo o frio.

Por volta das 22h, sentada na cabeceira da cama tentava me concentrar na leitura do meu livro, mas minha atenção estava voltada para a janela a minha frente. No final de um corredor de árvores, encoberta, a lua me observava. Até que ouvi uma batida na porta da sala, acordei do desvaneio, olhei para o outro quarto a minha frente e Jace, meu irmão de coração, já estava dormindo. Restou então a mim ir atender a porta; levantei-me e fui em direção a soleira.

Cautelosamente, abri a porta e me deparei com dois jovens vestidos com uma espécie de roupa nativa de alguma tribo. Perguntaram de imediato como chamava-me, mas antes de poder questionar qualquer coisa pegaram-me pelo braço e levaram-me floresta adentro.

No meio do caminho foram explicando-me quem eram e porque me tiraram dessa maneira do chalé. Por quase cerca de 20 anos, pensei que fosse sozinha nesse mundo, encontrada dentro de um cesto de palha por uma senhora a beira do acostamento da rodovia que ficava nessa mesma região, cresci sempre a procura de minhas origens, mas a única pista que tinha era uma marca de nascença em formato de lua em meu pulso.

Fiquei extasiada em primeiro momento, mas fui ligando uma coisa a outra, e como fazia sentido agora muita coisa que me acontecera. Os dois rapazes me informaram que a tribo deles estavam precisando de mim, que na verdade vinha sendo aguardada há algum tempo. Contaram-me que quando nasci estava ocorrendo uma guerra entre as duas maiores tribos e que minha mãe, Dandara, por conta de um ferimento grave não chegou a me conhecer, e Uriah, meu pai, para me proteger preferiu distanciar-me daquele conflito, até o momento certo do meu retorno para cumprir meu destino.

E esse dia havia chegado. Falaram-me que eu não tinha o meu nome atoa, pois fui destinada a lutar e a restabelecer a paz entre os povos, e que somente a guerreira da marca da lua poderia acabar com a destruição que surgira.

Não queria acreditar nessa lenda e loucura que estavam me falando, entretanto, no instante que coloquei meus pés sobre o perímetro daquelas terras meu sangue ferveu na veias, parecia lava precipitando de dentro de mim, e não era mais eu que estava ali. Fechei os olhos e pude sentir tudo a minha volta, o cheiro fresco da folhagem, o orvalho caindo, os animais correndo de medo e principalmente o cheiro de fumaça a queimar meu nariz.

Abri os olhos e vi a minha frente um turbilhão de coisas, guerreiros lutando, fogo e sangue por toda parte. Não sei porque instinto, mas em um salto desviei de uma flecha em um movimento perfeito de anos de prática. Olhei ao meu redor e tudo era caos. Levantei-me, meus músculos reagiram, meus membros responderam a cada movimento feito. Me esgueirando por entre os guerreiros e corpos, devolvendo um golpe ou outro; foi tudo muito intenso.

Em um último momento me vi correndo em direção de um guerreiro mais velho, possivelmente o chefe daquela tribo, mas nesse instante um clarão surgiu a minha volta, e na mesma hora não estava mais naquela clareira.

Acordei sonolenta tentando me localizar. As palavras "seu destino está apenas começando jovem guerreira, sua batalha é ainda maior..." ecoavam pela minha mente. Tudo indicava que não passará de um sonho, que acabará dormindo lendo o livro, mas a flecha em minhas mãos e meu coração descompassado apontavam outra situação.

Viajante Das Letras
Enviado por Viajante Das Letras em 25/08/2016
Reeditado em 06/02/2017
Código do texto: T5739903
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