VIKING

Centenas de corpos espalhados pelo chão frio

Um rio de sangue se mistura com a lama úmida do solo

Amigos, irmãos, filhos, pais, sobrinhos

Todos mortos agora. Lutamos lado a lado

Ombro a ombro, unidos lutamos como um só

Fomos heróis lutando pela glória de nosso povo e por nossa terra

Os trovões de Thor ecoam no céu

Vejo a carruagem de fogo de Odin

Valquírias guerreiras descem dos céus para buscar as almas de meus soldados

Para levá-los aos salões dourados do Valhalla.

Onde beberão nos rios de mel e se alimentarão com as mais saborosas ambrosias

Agora resto apenas eu

O último homem de meu exército de corajosos

E por Asgard lutarei até a minha última gota de suor

Pelo martelo de Thor e pela espada de Tyr eu juro

Que levarei comigo muitos de meus inimigos.

Nem a minha morte e a de meus irmãos será em vão

Nuvens negras anunciam a tempestade que cairá logo mais

O vento bate em meu rosto tocando minhas cicatrizes de batalha

Lembro de minha esposa e de meus filhos que agora estão distantes

Estou longe de casa, em terras desconhecidas

Gostaria de lhes dar um último adeus e um último beijo

Queria poder me aquecer nos braços de minha esposa de pele clara e cabelos vermelhos

Vermelhos como o fogo que nos aquecia a noite enquanto fazíamos amor

Não verei meus filhos brincar mais e não os verei crescer

Não ensinarei meu filho a lutar e ser um guerreiro como eu

Jamais terei a honra de lutar ao lado de meu menino

Hoje lutarei até o fim

Nunca me renderei

Sinto o cheiro da chuva

Misturando-se com o cheiro do sangue de meus homens mortos

Queimem meu corpo em um drakkar e o jogue ao mar

Deixe que o feroz kraken se encarregue do resto

Meus dedos estão congelados pelo frio

Meu cabelo está molhado pela chuva sagrada

Em minha mão direita eu seguro meu machado

Que recebi das mãos de Erik machado sangrento

Na mão esquerda seguro minha espada

A mesma que ganhei de Halfdan o negro

Em meu braço esquerdo também

Está meu escudo

O mesmo que era de meu pai

Lutarei pela honra de meus irmãos mortos nessa batalha

Por meus filhos e por minha esposa

Pela honra de meu povo e de meus antepassados

Lutarei pelo meu reino

Por minha coroa e pela glória

O vento aumenta

Balançando meus cabelos e minha barba

Ouço o urro dos inimigos

Olhando para mim como animais

Olham para mim como se eu fosse sua presa

Ouço o chiado de suas espadas desembainhadas

Os tambores de guerra tocam com força

Fazendo o chão tremer sob meus pés

Não sinto medo

Meu último berseker está caído ao meu lado

Era um bom guerreiro

Uma flecha atinge meu braço direito

Outra acerta meu ombro esquerdo

Sinto a lança penetrar minha carrne

Sendo parada pelo osso

Os ferimentos ardem como brasa

Um corte profundo em minha perna

Sangue escorrendo pelo corpo

Misturando se ao suor e a chuva

Centenas deles correm em minha direção

Gritando e se debatendo como animais

Estou imóvel

Com os pés fincados no chão

Nem os trovões serão capazes de me derrubar

Músicas e poemas serão entoados em meu nome

Pelos bardos

Hoje é um bom dia para morrer

Ninguém passará por mim

Meu escudo defende um golpe

Minha espada perfura um estômago

Meu machado arranca uma cabeça

Outra espadada acerta o peito do inimigo

Outra cabeça se vai pelo aço de meu machado

Um a um vou eliminando

Luto como um lobo

Derrubando as bestas que tentam me cercar

Eles não podem com minha fúria

O meu aço lambe suas carnes

Meu corpo está banhado com o sangue deles

Luto como o verdadeiro rei de meu povo

Destroçando um por um

Uma flecha atinge meu peito

Uma lança perfura minhas costas

Uma espada corta minha barriga

Não sinto a dor, pois hoje eu sou imortal

Não me levarão tão fácil

Uma pilha de corpos vai se amontoando no chão

A terra que meus pés pisam está coberta de sangue adversário

Minha respiração está se acabando

Meu peito está fraco

O ar falta

As vistas estão escurecidas pelo beijo da morte

Matei dezenas deles

Mas agora meu corpo está enfraquecido

Ouço os gritos das valquírias e o som de seus cavalos dourados

Valhalla me aguarda

Meus joelhos enfraquecidos se dobram

Batendo na lama

Não consigo me erguer mais

O general deles se aproxima

Ele tira sua espada da bainha

Pronto para o golpe que tirará minha vida

O sorriso de minha mulher vem em minha mente

O golpe fatal vem em minha direção

Pronto para cortar minha cabeça

E num último lampejo de força eu desvio do golpe e arranco a cabeça do general inimigo com meu machado

Seu corpo cai pelo chão

Sua cabeça rola ao lado dos cadáveres de seus soldados mortos pela minha lâmina

Sinto uma lança me acertando por trás

Na altura de meu coração

Acabou

Não pertenço mais a este mundo

Meu corpo cai ao lado do general inimigo

Meus olhos vão se fechando lentamente

Ouço ao fundo o som das risadas de meus filhos

No céu consigo ver o corvo negro de Odin

É o meu fim

Morro feliz por ter lutado como o verdadeiro rei de meu povo

Estou cada vez mais sem ar

A chuva cai em meu rosto e minhas narinas

O frio toma conta do meu corpo

Os vão se fechando

Ouço cada vez mais alto

O som da música festiva que me recepcionará

Vinda dos salões do Valhalla

Hoje morro pela glória

Por meus irmãos

Por minha família

E pela honra

Pois eu sou um viking

K H A O S
Enviado por K H A O S em 27/10/2016
Reeditado em 15/01/2018
Código do texto: T5804943
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.