LABIRINTO  METAFÍSICO

 

 

   No âmago de cada ser humano, encontra-se um labirinto metafísico, entre sentimentos paradoxalmente necessários. Em cada ínfima partícula da realidade, existe ao menos um resquício do amor que nos preenche com vida, e desse fato sabia muito bem a jovem Rachel Vaz. Como qualquer indivíduo, ela possuía infinitos anseios, dúvidas, perspectivas e projetos de vida, e seu maior plano era percorrer os labirintos dos sonhos em busca de amores lídimos. Sua missão, portanto, poderia ser embotada de lágrimas ou de risos, mas ela tinha plena convicção de que poderia vislumbrar amor nos túneis da alma humana e, assim, provavelmente, ter-se-ia uma esperança de que o mundo externo não seria totalmente rendido aos disparates materialistas.

 

   É claro que não se tratava de uma tarefa fácil; pelo contrário, percorrer os labirintos de seus próprios sonhos era uma lídima viagem introspectiva e, assim, tão abstrata quanto fantástica, constituindo também um grande desafio para o coração e para a mente.  Com esse objetivo de caminhar pelos labirintos oníricos, Rachel abasteceu-se de conceitos filosóficos, desde Platão até Sartre, sem descuidar de sua própria religiosidade, como escudo de fé que poderia manter sob sua constante guarda. Assim, a moça fechou os olhos com perspicácia e, meditando profundamente, conseguiu adentrar o labirinto metafísico dos sonhos.

 

 Quão deslumbrante era seu mundo interior ! Enigmático, sim, mas também imprescindível para uma compreensão de si mesma, enquanto pessoa que pode transformar-se e, também, modificar certos aspectos do mundo externo, ainda que tão violento. Impressionada, prima facie, com a magnitude de sua realidade interna, Rachel constatou que os labirintos de sonhos ali presentes eram múltiplos caminhos de escolhas que ela mesma poderia tomar na vida. “O homem está condenado a uma tal liberdade”,  já dizia o filósofo existencialista Jean-Paul Sarte, liberdade essa que forçava Rachel a escolher seus passos pelos intrincados labirintos dos sonhos, embora sob a égide da insegurança.

 

  Enquanto percorria os referidos labirintos de sonhos, Rachel sentiu-se, primeiramente, perdida entre tantas idéias, perspectivas e possibilidades de atitude. Tais caminhos insólitos, que se projetavam entre paredes abstratas de incertezas, eram tão desafiadores quanto a própria arte de viver.  De súbito, Rachel sentiu-se pequenina, enquanto mergulhava nos recônditos labirintos de sonhos na forma de projeções cinematográficas aparentemente desconexas, e tão surrealistas como uma pintura de Salvador Dali. Todavia, é preciso conhecer-se para transforma-se, enquanto ser humano, adentrando os próprios mecanismos do inconsciente. E com a bússola dos sentimentos, Rachel demoradamente passeou pelos labirintos de seus sonhos, vislumbrando que ali estava seu maior tesouro. Ela conseguiu sair de tal labirinto após constatar que todos aqueles trechos de incerteza repercutiam em sua própria personalidade e, ainda, na própria forma pela qual a jovem trafegava pelas ruas dos tormentos mundanos.

 

    Rachel compreendeu que o labirinto metafísico interno projeta, de certa forma, os mecanismos de nossas ações na realidade externa, embora totalmente complexa. E, quiçá, o primeiro passo para as transformações da realidade global seja o profícuo aprimoramento de nosso mundo interior, em meio aos labirintos vislumbrados no âmago do ser humano.

 

 

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