Da Noite para o dia

O desentendido Da Noite, alcunhado pelos amigos como da Lua, olhava para a coisa alguma da imagem do branco impregnado no preto. Fecundado entre o estrabismo e o daltonismo, Da noite, desconhecia as transparências. E se ao ser submetido pelos berros do vazio, gargalhava da incompreensão. "Quando saberemos que ainda somos de carnes, ossos, sentimentos, emoções, sofrimentos e deixaremos de esconder as nossas frustradas futilidades nas máquinas, animais domésticos, acúmulo de dinheiro e sorrisos descorados pela falta de autenticidade? Os saponáceos em contato com a água misturada com cloro, lava tudo. Limpa tudo. Danifica tudo."

Realmente, deveras, Da noite ou da Lua, devia ser um opaco sombrio das trevas, menos da claridade da luz do dia, a qual pertence aos inteligíveis que imperam, dominam o seu reino. O poder inicia sua divisão pelo claro e o escuro e em momento algum se permitem a homogeneidade.

Como os transformistas, Da Noite sumia, escafedia durante o dia, para reaparecer à noite. Certas vezes, não era encontrado nem nas noites sem luar. Misterioso... indagavam sobre o enigmático Da Noite: "por anda Da Noite, Da Lua, menos do dia"? E estando ele, onde estivesse, respondia ao berros para o silêncio aterrador da noite, o que fazia ribombar no alarido do dia: "Senhor que cavalga o mundo e sem tomar conhecimento de seu passado, fragiliza-se com os conflitos interiores, é andejo solitário tateando o negrume dos ambientes".

Em dose homeopáticas, Da Noite ia morrendo para existência; intemperança de pensamento que os normais e comuns chamam de "luz no final do túnel que os guia durante o ciclo vital." Amante do senhorio, que lhe impõe, serviço brutal.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 13/07/2017
Reeditado em 13/07/2017
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