O castigo dos Deuses

- Thormen'hall, desista dessa loucura, por favor!

- Não é loucura N'guie, é tão simples. Não acredito nessas tolices ancestrais. Sempre temos que girar três vezes os polegares antes de tomar água, girar a escapula esquerda uma vez antes de comer, olhar para o céu antes de dormir depois de ter recitado os cinco morticínios dos ancestrais, tudo é um p'daido, tudo um rêzha! Se pensamos, porque não podemos anotar?

- Eu não sei Thormen'hall, mas você lembra de Barui'n O'dun , na sua festa de 30 ciclos, acreditando que por ser um dos Devat's poderia obter miracon e por isso escapar do castigo das quatro divindades, ele apresentou um Flanan com flores além de cores, e no mesmo instante um vento soprou uma folha zian em seu pescoço, fazendo verter sangue na hora, a divindade filho se revelou na hora, e ninguém ousou socorrer O'dun temendo o castigo divino.

- Isso é uma lenda contada há mais de 100 ciclos, nem sei se existe mais alguém que esteja vivo que tenha visto ter acontecido "o corte da folha seca". Aliás, temos tantas histórias para crianças não saírem da linha que essa certamente é mais um delas, e outra coisa, não serei tolo em querer fazer na frente de todos, vou mostrar apenas pra você N'guie - Disse Thormen'Hall, contemplando os olhos puxados de sua prometida.

- É que eu tenho medo do que possa acontecer. Nunca ninguém conseguiu fazer isso que você quer fazer.

- Eu já fiz isso no meu pensamento, venha, vou mostrar no chão o que é.

Puxou pela mão como se fosse uma pena...

N'guie lembrava que na verdade era dois ciclos mais velha que Thormen'hall, e que ele tivera que vencer mais de dez pretendentes para pedir sua mão em casamento, inclusive ao filho do Devat's Morgon'el Baldu'n, nem acreditara que gritou desesperada na frente de todos quando o viu ensanguentado após as lutas e caçadas. Mas foram anos de amor crescendo. Desde pequeno os olhos azuis de Thor chamavam sua atenção, além de sua altura e sua pele negra. Era brincalhão com todos, mas um guerreiro da aldeia Khorotor da elite Kaikan, dos cinquenta, sendo o mais jovem de todos.

Mas N'guie temia porque Thor tinha um espírito curioso e desafiador. Certa vez quando tinha quatro anos de idade levou uma mordida de uma aranha de fogo porque achou que podia treinar ela. Ficou com a mão inchada por duas semanas. E sempre foi assim.

Chegando a beira do rio, onde havia um pouco de areia, Thormen'hall pega um graveto e se inclina para mostrar a N'guie o que passava pela sua cabeça, seria algo revolucionário. Não seria mais necessário ter que cantar e dançar Mald'nao para poder construir uma casa pequena ou uma roda para fazer um galpão, pois as medidas eram dadas pelo canto e pela coreografia, já que não podiam anotar nada. Aqueles traços que imaginara seriam a solução para tudo, não precisariam ficar dependendo de canções de vozes esganiçadas e rimas sem sentido coré-corão meia palma de uma mão.

Mas tão logo o graveto tocara no chão, um raio cai e fulmina Thormen'hall.

N'guie estava próxima e desmaia diante do clarão.

Quando acorda na aldeia, desesperada pergunta por Thor, mas pedem para ela se acalmar, porque ele era um homem forte e algo ele iria conseguir fazer.

Ela queria saber o que tinha acontecido e desesperada procura por ele, para encontrar na casa ao lado, seu amado deitado, com o braço direito separado na altura do ombro.

O deus pai da luz se fez notar.

Nunca desafie as quatro divindades.

Pierrot Gluton
Enviado por Pierrot Gluton em 25/09/2017
Reeditado em 26/09/2017
Código do texto: T6124908
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