Parte 05 – A história de Haraldson. Aprendendo a controlar a fúria!

Os dias se seguiram com longos percursos, passando por pequenas aldeias e encontrando alguns saqueadores medíocres que não valiam o fio da espada; eu me perguntava para onde estávamos indo, mas, Eijavick apenas dizia para eu ter paciência que nosso destino estava próximo. Entramos em território germânico e percebemos que não éramos bem-vindos; olhares, cuspidas no chão e gestos deixavam claro que aquele povo belicoso também era xenófobo. E, por algum tempo, pensei que ali seria nosso destino, ou mesmo nosso fim!

Para minha surpresa não foi isso que aconteceu …, o que aconteceu foi algo surpreendente e inesperado. Ao entrarmos em uma pequena propriedade rural, vimos um homem alto e forte aproximar-se com sua montaria que mais parecia um animal saído de alguma terra fantástica; era um cavalo de batalha tão grande que seu galope fazia a terra tremer e mesmo com todo o seu tamanho tinha um trotar ágil e profundo. Ao ver aquela besta enorme aproximar-se de nós, toquei no cabo de “Dente de Dragão”, esperando pelo pior. Mas, antes que eu tomasse uma atitude impensada, Ragnar aproximou-se e tocou minha mão; olhei para ele e vi sua cabeça balançando em clara indicação que eu devia conter meus ímpetos.

Haraldson avançou para a linha de frente, e sem erguer seu machado, ele apenas esperou a chegada do desconhecido; logo, eles estavam um ao lado do outro com suas montarias fungando impacientes; e após um olhar firme, ambos caíram em uma sonora gargalhada, abraçando-se fraternalmente. Eu fiquei ali, olhando sem nada entender, apenas a espera de alguma explicação …, afinal, estávamos em terras germânicas!

-Este, meus amigos, é Ulrich! – bradou Haraldson – Ele é meu irmão de armas e meu mais fiel companheiro!

-E vocês, meus bravos! – emendou Ulrich, também esfuziante – Se são amigos desse Danês dos infernos …, então, são meus amigos também! Sejam bem-vindos! Vamos …, vamos comer e beber!

Enquanto cavalgávamos em direção à propriedade de Ulrich, Eijavick aproximou-se de mim, divertindo-se com minha estupidez com o que estava vendo …, pois, na verdade, eu não sabia de nada e muito menos ainda porque Haraldson tinha um amigo em terras germânicas.

-Ulrich não é germano – comentou Eijavick, enquanto cavalgávamos.

-Não é! – exclamei estupefato – E como ele vive aqui …, nestas terras?

-Ulrich cria os melhores cavalos de batalha que você pode conceber – respondeu meu companheiro – E todos, de todos os lugares vem até aqui …, adquirir montarias …, sempre as melhores …, como a Leika aqui (ele acariciou a crina da sua égua). No momento certo, saberás mais sobre esses dois …

A casa de Ulrich era, na verdade, um enorme salão, construído sobre uma antiga ruína romana de pedra assentada; as grossas paredes subiam até uma armação de madeira larga, sobre a qual pousava um telhado feito de telhas romanas e trançados de casca de freixo e junco. Ao entrarmos, vimos duas mulheres cozinhando; elas nos olharam, porém, nada disseram. Sentamos todos à mesa em bancos feitos de tocos de árvores polidos, e logo fomos servidos pelas mulheres, que trouxeram carne de carneiro assado, pão fresco, sopa de peixo seco e cerveja.

Edda, nossa companheira, sentou-se ao lado de Eijavick, que estava à direita de Haraldson; Ulrich olhou para a mulher e deu um murro sobre a mesa, interrompendo o início da refeição.

-Nenhuma mulher senta-se à mesa com guerreiros! – ele berrou com voz grave, fixando seu olhar em Edda.

A Saxã ousou levantar-se, esboçando uma reação, mas foi imediatamente contida por Eijavick, que olhou para ela meneando a cabeça.

-Edda não é uma mulher! – disse Eijavick no mesmo tom do amigo do seu amigo – Ela é uma guerreira …, está conosco e assim permanecerá!

Houve um minuto de silêncio, seguido pela sonora gargalhada de Ulrich que bradou: “Se é o que você diz, homem do norte, eu acredito …, vamos comer!”

Enquanto comíamos, eu observava Haraldson e Ulrich; havia algo especial neles …, algo que os unia de uma maneira que eu jamais vira …, mais que irmãos, mais que amigos …, percebendo minha curiosidade, Eijavick cutucou meu braço, acenando com a cabeça para que fossemos para fora para conversar. Como eu já estava satisfeito, esperei que ele saísse e o segui discretamente. Encontrei o guerreiro do norte acariciando o dorso de sua montaria. Aproximei-me dele, e sem aviso, ele começou a contar:

Haraldson é Danês …, e os daneses adoram apenas duas coisas na vida: lutar e trepar! Ele cresceu aprendendo com o pai como se tornar um bom curtidor e também um exímio lutador; não completara dezessete anos quando conheceu uma jovem chamada Karen, filha de um caçador, e a desposou; foram morar em uma casa que ele mesmo construíra com a ajuda de seu pai; tiveram filhos, um casal, e viviam bem e em harmonia …, até que …, eles vieram …, saqueadores …, infelizmente, Haraldson não estava na sua aldeia, ele saíra para caçar junto com seu pai e com seu sogro. A carnificina foi de uma crueldade sem limites e ninguém foi poupado …, exceto Karen!

Ao retornar à aldeia, Haraldson ficou transtornado com o que viu; sua mente foi turvada pelo ódio e seu coração encheu-se de um desejo incontrolável de vingança. E esse sentimento corroeu ainda mais suas entranhas ao saber que eles haviam levado sua amada Karen. Com a ajuda de seu pai e de seu sogro, ele enterrou os restos mortais de seus filhos, e, em seguida, tomou uma montaria e saiu na caça dos saqueadores.

E eles haviam deixado um rastro de dor, sangue e tristeza pelo caminho; em cada aldeia que Haraldson chegava a cena era a mesma: sobreviventes retalhados clamando por misericórdia, mulheres implorando pela morte rápida e corpos e mais corpos deixados pelo caminho; cada vez mais o ódio do danês crescia em seu interior e ele não teria paz enquanto não encontrasse aqueles assassinos cruéis.

Nos dias que se seguiram, Haraldson não comia nem bebia, pois seu corpo era alimentado pelo ódio que nutria e pelo enorme desejo de vingança que pulsava em seu interior, impulsionando-o na direção dos animais que mataram seus filhos e levaram sua esposa.

Finalmente, em certa tarde, sua busca chegava ao fim; ele encontrara o grupo de saqueadores avançando em direção a uma nova aldeia; eram sete homens, montados em cavalos de batalha, trajando peles, com elmos feitos de ossos. Assim que os viu, Haraldson começou a gritar como um animal enfurecido, sacando sua espada e avançando contra eles, sem se importar com o fato e encontrar-se em desvantagem numérica. Os saqueadores, que eram guerreiros mercenários Visigodos, interromperam sua cavalgada, voltando-se para ver o inimigo se aproximando.

Um deles, de nome Eivar, olhou para os companheiros e disse que ficassem ali a sua espera. “Esse danês dos infernos é meu!”, ele bradou, enquanto sacava sua espada e corria na direção de Haraldson. E quando os dois se encontraram, o ruído do choque metálico das espadas e o relinchar nervoso dos cavalos tomou conta do ambiente. Haraldson combatia tomado pela emoção, enquanto seu oponente lutava com a frieza de quem saboreia a dor e o sofrimento do inimigo. Em certo momento, o danês se desequilibrou, caindo de sua montaria. Eivar, que poderia tê-lo ferido naquele momento, limitou-se a rir, enquanto apeava de sua montaria, pronto para reiniciar o combate.

E o brilho turvado de fim de tarde dava lugar ao manto negro da noite que se elevava no poente de maneira inexorável, enquanto a batalha pessoal de Haraldson se desenrolava ante um inimigo ágil e forte; em dado momento, Eivar golpeou o braço do danês, abrindo um corte enorme que começou a verter sangue, enquanto o clima gélido se incumbia de tornar penoso os movimentos de ataque e também de defesa. Mais um golpe na altura do joelho fez o danês dobrar-se ante a dor sentindo a paralisia de seu braço condená-lo a tornar-se mais uma vítima do Visigodo.

Com a vantagem do contra-ataque, Eivar divertiu-se com a ausência de agilidade de seu oponente, passando a golpeá-lo de forma estratégica, causando mais ferimentos e mais dor …, Haraldson, vendo a derrota avizinhar-se de si, com a certeza de que morreria sob a lâmina do Visigodo, ainda fez um esforço indômito para manter-se no combate; porém, um último e certeiro golpe de Eivar com sua espada, abrindo um rasgo na túnica de couro do danês, abriu espaço para que ele reiterasse o ataque, retalhando o peito de Haraldson. Incapaz de seguir em sua defesa, o danês sentiu o abalo do golpe, com sua vista turvando-se e a letargia tomando conta de seu corpo.

Haraldson desabou como uma pedra sobre o solo frio e úmido, com sua espada pousada ao seu lado; ele ainda tentou levantar-se, mas a bota de Eivar quase esmagou seu pescoço, pressionando com força; eles se encararam e o danês pode ver o riso de escárnio no rosto de seu inimigo; mesmo com dificuldade ele balbuciou o nome de sua amada. “Ah, você é o marido daquela vadia?”, disse Eivar cheio de ironia; “Pois saiba, danês, que ela foi valente até o final …, mesmo depois de ser estuprada por todos nós, ela ainda teve forças para cuspir na minha cara!”, ele prosseguiu impassível. “Não se preocupe …, ela ainda não morreu …, mas, morrerá, e eu deixarei os pedaços de seu corpo para alimentar os lobos, assim como farei com você agora!”, vaticinou o Visigodo, enquanto se afastava, deixando Haraldson entregue à própria sorte.

A escuridão da noite gelada, o vento uivando como uma ameaça invisível e o rosnar de lobos à espreita serviam de alertas para a mente turvada do gigante danês, cujas forças esvaíam-se como o gotejar do orvalho das árvores cobrindo o solo e deixando-o ainda mais frio. Em sua mente, mesmo entorpecida pela dor lancinante que queimava seu corpo, Haraldson guardava a doce imagem de Karen …, sua amada esposa …, a única razão de sua vida …, e foi com esse sentimento que ele viu uma figura etérea aproximar-se dele; ela resplendecia uma luz azul, cujo brilho intenso parecia iluminar toda a escuridão ao seu redor.

E quando a figura ajoelhou-se ao seu lado, seus olhos se encheram de lágrimas …, era sua doce Karen! Ela estava ali! Ao seu lado. “Não se preocupe comigo, amor da minha vida”, ela sussurrou com uma voz suave que parecia ecoar dentro de sua mente. “Você precisa resistir …, você não pode morrer, pois, se assim o for, eu não terei paz …, eu lutei e resisti por você meu amor …, não morra, por favor!”

Haraldson bem que tentou balbuciar algumas palavras, mas, infelizmente, sua energia vital se esvaía deixando-o à mercê do sono profundo da Senhora da Morte …, mas, algo aconteceu, algo inesperado e surpreendente.

“Calma, danês, você não vai morrer …, pelo menos não morrerá hoje!”, foi a última frase que ele ouviu antes de perder completamente os sentidos …, e vagueando por terras escuras, sempre à procura de sua Karen, sentindo o frio profundo da Senhora da Morte e pensando em como seria bom ir ao encontro de sua amada, Haraldson delirou …, delirou até que um sopro de vida insuflou sua alma …, “Ainda não chegou a sua hora, danês!”, ele entreabriu os olhos e viu um sujeito enorme com longa barba sorrindo com os dentes amarelados …, ao que parece a vida decidiu dar mais uma chance ao danês.

Enquanto, lentamente, ele se restabelecia, conheceu seu salvador: era Ulrich, criador de cavalos e hábil guerreiro que decidira aposentar-se para cuidar dos animais. “Afinal, eles tem mais bom senso que qualquer um de nós!”, ele comentou certo dia enquanto dava de comer ao danês. Com o passar dos dias, Haraldson melhorava a olhos vistos, e logo manifestou seu desejo de seguir em sua perseguição.

“Olhe, danês”, disse Ulrich com a boca cheia de carne, entre uma mastigada e outra, “Se você busca vingança, ela não lhe dará o consolo que almejas …, e mesmo que insista nisso, é preciso que você aprenda a lutar para vencer …, aliás, para vencer apenas não …, para aniquilar o inimigo”.

-Você pode me ajudar nisso – quis saber o danês.

-Nisso – exclamou Ulrich – Sim, eu posso …, mas fique sabendo que isso não alentará seu coração e muito menos diminuirá sua ira …, você precisa aprender a conviver com ela, transformando-a em sua aliada …, e, sim, isso eu também posso te ensinar!

Com o passar dos dias e a visível melhora física e mental, Haraldson sentiu-se apto para retomar sua espada e preparar-se para o combate; todavia, no primeiro embate com Ulrich, ele foi ao chão, aos risos do oponente.

-Tome, segure isto – disse Ulrich, enquanto lhe estendia o cabo de um machado de duplo corte.

Haraldson segurou o cabo da arma e foi puxado para cima pelo amigo; ele lhe estendeu a arma, e depois de um minuto de silêncio disse: “Você é um homem grande e, portanto, precisa de uma arma do seu tamanho …, mas, cuidado, manejar um machado exige dedicação e habilidade …, eu te ensino, mas cabe a você aprender que o machado se torne a extensão de seu corpo!”

E foi assim que Haraldson tornou-se um hábil guerreiro com o machado; e depois de algum tempo ele decidiu que era chegada a hora de ir ao encontro de seu destino. Antes de partir, despediu-se de Ulrich, que após um risinho enigmático, decidiu falar:

-Ouça, danês, eu o que você quer …, você quer Eivar e seu bando …, eu posso levá-lo até eles, mas, é preciso que compreenda que a vingança não trará sua amada de volta, nem seus filhos …, nem mesmo a vida que tiveste antes …, o que lhe trará consolo está dentro de você …, esse animal feroz que ruge em seu interior precisa ser domado, e apenas você pode fazer isso …, então …, te levo até Eivar, mas, não perca de vista que Haraldson, o curtidor morreu junto com sua família …, o que existe agora é Haraldson, o vingador!

Nem foi preciso resposta, pois, em poucas horas eles cavalgavam em direção ao reduto de Eivar e seu bando. Era um entreposto de passagem; um lugar sujo e sem lei, onde a força da espada e do medo reinavam absolutos. “Se você matar Eivar aqui”, disse Ulrich em tom solene, “ninguém vai ligar”. Haraldson dirigiu-se até um salão onde homens bebiam e, ao entrar, viu Eivar sentado em uma mesa; o visigodo, percebendo a presença do danês, levantou-se já com a espada em punho.

-Então, você sobreviveu, danês? – ele disse em voz alta e tom sarcástico.

-Sim, sobrevivi para matá-lo! – devolveu Haraldson, empunhando seu machado.

Todos se afastaram, enquanto os dois gigantes partiam para o combate feroz; de início, Eivar não deu muito valor ao danês, supondo que ele cometeria os mesmos erros de antes …, mas, com o passar do tempo, ele viu que seu oponente além de mais forte, estava impiedoso. E foi com essa ausência de piedade que Haraldson evitou os ataques de Eivar, devolvendo com golpes ágeis e vigorosos. Não demorou para que a luta tivesse um primeiro resultado, quando Haraldson atingiu o ombro direito do visigodo, deixando-o prejudicado para o combate.

Sendo ambidestro, Eivar continuou lutando, e oferecendo certo perigo ao seu oponente; no segundo golpe, Haraldson neutralizou o visigodo que viu-se sangrando e sem forças para continuar, caindo sentado ao chão.

Haraldson aproximou-se dele e deu-lhe um pontapé, fazendo com que Eivar desabasse sobre o chão de pedras. Deixando seu machado de lado, o danês incumbiu-se de aniquilar seu inimigo com as próprias mãos; e mesmo com o fim próximo, o visigodo ainda teve tempo de rir e blasfemar: “mate-me, danês …, lave seu ódio com seu sangue …, mas saiba que sua esposa puta já está morta, e seu corpo servindo de alimento para os lobos!”

Haraldson levantou-se, trazendo o corpo quase inerte de Eivar, e segurando-o pelo pescoço, esmigalhou seus ossos, deixando o corpo já sem vida cair como um monte de carne desmontada; finalmente, ele tomou seu machado e decepou a cabeça do visigodo, exibindo-a para os presentes. Os companheiros de Eivar, sacaram suas espadas, mas o surgimento de Ulrich portando seu machado e espada, fez os homens tremerem sobre seus joelhos …, eles conheciam a fama do guerreiro e não desejavam lutar com ele.

Ao seu turno, Haraldson ainda estava sedento de vingança e assim caiu sobre os homens tornando-os inválidos para qualquer outro combate; mãos e pés foram decepados, enquanto o sangue jorrava através de gritos e lamúrias de dor profunda. Haraldson olhou à sua volta, tomou um dos homens pelo pescoço, exigindo saber onde estava o corpo de sua Karen. Com certa dificuldade, o sujeito lhe indicou o local. Haraldson livrou-se do sujeito e saiu do salão tomando sua montaria e seguindo para o local indicado.

E qual não foi sua surpresa ao ver que, no local informado, havia um pequeno jardim florido, que parecia alheio ao frio à sua volta, exibindo um frescor e um aroma, indescritíveis; Haraldson saltou de sua montaria e caminhou hesitante até aquele pequeno campo; ao lá chegar, ele notou um pequeno facho de sol etéreo deitando sua luz dourada e brilhante sobre o campo.

“Eu estou aqui, meu amor”, ele ouviu o doce sussurro em seu coração …, era Karen! Ele sabia que era ela! “Você me vingou, dono do meu coração”, ela soprou em seu espírito. “Eu te esperarei para sempre, mas, agora, você deve cumprir sua sina …, e não deixe jamais que o ódio torne a alimentar seu coração, pois, seu coração me pertence!”. Haraldson, sentindo-se esvaído de energia vital, caiu de joelhos, chorando como um recém-nascido. Depois de algum tempo, ele sentiu a mão forte de Ulrich, pousar sobre seu ombro.

-Chore, danês – ele disse em tom firme – lave sua alma e siga o seu caminho …, ela está bem e você teve sua vingança …, agora, deixe represado esse ódio e o destine àqueles que merecem …, a todos aqueles cuja alma jamais encontrará refúgio entre os bravos …, àqueles que precisam ser libertados pela força do metal bruto …, esse é seu caminho e essa será sua sina …, venha, danês …, venha, que eu te ajudarei …

-Agora, Axel, você conhece a história de Haraldson – disse Eijavick, olhando-me fundo nos olhos – É por isso que ele gosta tanto de Ulrich …, sem ele, o danês já teria morrido, consumido pelo seu próprio ódio.

Acenei com a cabeça; aquela história era uma lição para mim …, de nada vale lutar apenas para saciar o demônio que arde em nosso interior …, é preciso domá-lo e canalizá-lo para coisa mais útil …, ou ainda, para ações mais dignas e cujo valor não pode ser medido em ouro ou prata. Mas, havia mais; Eijavick me mostrara que ele e seus companheiros não eram apenas um bando em busca de riqueza e aventura …, eles tinham um objetivo, e por algum motivo que apenas os deuses conheciam, eu fui posto em seu caminho.

Sim, eu também tinha uma missão a cumprir junto com eles …, eu ainda não sabia que missão era essa, mas, agora eu sabia que ela existia …, e meu espírito encheu-se de regojizo por saber que havia um destino …, havia uma direção …, olhei para Eijavick e ainda tentei demonstrar-lhe meu respeito e minha gratidão por ele …, mas o olhar do guerreiro deixou claro que isso não era necessário.