Uma questão de jurisdição

UMA QUESTÃO DE JURISDIÇÃO
Miguel Carqueija


Era uma noite tempestuosa em Gotham City! Além do pavor normalmente já causado por ventos fortes, chuva inclemente e raios, as pessoas se apressavam por chegar em casa porque a marca do morcego estava visível nas nuvens.
Batman e Robin não se fizeram esperar no terraço da Chefatura de Polícia. O Comissário Gordon e o Chefe O’Hara esperavam por eles.
O Homem Morcego sabia que só o chamavam em casos realmente graves.
— Batman, desta vez o assunto é estranho. Mas acho que você não se surpreende com mais nada...
— Comissário, o que importa mais para mim não é a estranheza do caso mas a sua urgência. O que pode estar acontecendo?
— Bem... — o comissário parecia algo embaraçado para se explicar — enfim, Batman, registrou-se um ataque de monstros lá perto do cais, e a polícia não conseguiu dar solução...
— Espere aí — interrompeu Robin, espantado — o senhor falou MONSTROS?
— Sem tirar nem por. Parecem umas quimeras, atacaram pessoas e as deixaram em coma... como se tivessem sugado alguma coisa delas, mas não ficaram feridas.
Gordon mostrou seu aparelho com algumas fotos recebidas. Realmente os monstros pareciam reais e eram horríveis, com grandes fauces e garras.
— Movem-se muito depressa e parecem imunes a balas. Precisamos resolver isso antes que o pânico se espalhe.
— Está bem. Dê-me a última localização conhecida e Robin e eu partiremos para lá.
Minutos depois já se encontravam no cais 9, agora deserto exceto por policiais que tentavam conter as quimeras que se movimentavam pelos telhados. Pareciam meio reptilianas mas não eram qualquer animal conhecido.
— Páreo duro — observou Batman, preocupado. — Creio que teremos de subir para enfrentar esses bichos.
— Esperem! — fez-se ouvir uma enérgica voz masculina.
Alguém surgira de súbito, descendo pelo ar... e foi o comissário quem primeiro reagiu, espantado:
— Superman!
— O que veio fazer aqui? — Indagou Batman, já enciumado.
— Fiquei sabendo do que está acontecendo por aqui. Se for uma invasão alienígena, deixa comigo.
— Não pedi ajuda, e a polícia pediu a minha ajuda.
— Isso é um pouco grande demais, Batman. De qualquer forma não tenho tempo para discutir agora.
– Perdão! Isso é assunto nosso!
A perplexidade aumentou. Cinco garotas de uniforme curto haviam aparecido, lideradas por uma de marias-chiquinhas imensas.
— São aquelas japonesas! Eu sou fã delas! – murmurou o Chefe O’Hara.
— Não podemos ser fãs de quem quer que seja! Somos policiais! — observou severamente o Comissário Gordon. — Portanto controle-se!
Não houve mais discussão porque as duas quimeras pularam para baixo e uma delas avisou:
— Saiam do nosso caminho, humanos ridículos!
— Isso fala! As quimeras falam? — disse Robin, muito admirado.
— Não são quimeras, bobo! — respondeu Sailor Marte. — Você andou lendo muito “Full metal alchemist”. São yumas, demônios corpóreos de quinta categoria, mas perigosos!
Os dois seres monstruosos atacaram, tentando romper o cerco. Batman lançou um ultra-som contra elas, que pareceu perturbá-las; mas desviaram-se e tentaram passar por cima do cerco. O Superman voou e acertou uma delas, jogando-a longe no ar, mas a outra dirigiu um jato de energia contra o Homem de Aço, que pareceu senti-lo dolorosamente. Desviando-se, lançou seu olhar de calor, mas as yumas desviaram-se facilmente e desceram. Os policiais descarregaram suas armas inutilmente, elas não pareciam sentir. Batman jogou uma bomba de fumaça que as envolveu. Quando os monstros saíram da nuvem formada, Sailor Marte jogou-lhes duas ofudas (papéis místicos chineses) nas testas, imobilizando-as momentaneamente, ação reforçada por Sailor Mercúrio com a sua “ilusão de água”.
— Agora, Sailor Moon! — exclamaram Sailor Vênus e Sailor Mercúrio.

Silver Crystal Power Kiss!
O jato de poder do cetro lunar atingiu os dois demônios e os reduziu a pó.
— Ufa! — suspirou Usagi Tsukino, a Sailor Moon. — Tomara que não tenha mais!
— Terá — disse o Comissário Gordon. — O Alexis aqui acaba de me confirmar outro caso aqui perto...
— Vamos já para lá! Diga só onde é — respondeu Sailor Júpiter.
— Esperem aí! — disse Batman com sua voz cavernosa. — Gotham City é a
minha cidade. Eu resolvo as coisas aqui junto com Robin e Gordon. A jurisdição é minha!
— Jurisdição? Você disse
jurisdição? — Minako, a Sailor Vênus, não escondeu seu espanto.
— Um momento! — interrompeu o Super-Homem. — Vocês aí sabem do que se trata? O que são esses seres?
— Sabemos — esclareceu Sailor Marte. — O Reino Escuro, organização comandada pela falecida Rainha Beryl, pretendia dominar a Terra e utilizava essas yumas extradimensionais. Quando derrotamos o Reino Escuro e eliminamos Beryl, seus generais e seu avatar Metalia, pelo jeito algumas yumas ainda ficaram na Terra, sem comando, acéfalas, e agora estão atacando para reporem energia, pois não possuem mais função por aqui.
— E por que em Gotham City? Por que não ficaram no Japão? — indagou Batman.
— Porque — esclareceu Mercúrio — sua base era no Pólo Norte e foi expugnada. Depois, não devem mais ter querido vir ao Japão, onde sabiam da oposição que haveria. Creio que foram atraídas por Gotham City porque essa cidade é muito sinistra.
Todo mundo olhou para Batman, como se ele é que estivesse atraindo yumas. O Homem Morcego não se deu por achado:
— Bem, está explicado, já sabemos o que está acontecendo. Agradecemos, mas agora quem vai agir sou eu. Como eu disse, a jurisdição é minha! E isso inclui você, Superman!
— Nada disso! — o Superman foi taxativo. — Se sua jurisdição é municipal, a minha é nacional! Não esqueça que eu trabalho até para o presidente dos Estados Unidos, que nem gosta de você! Essas garotas é que estão sobrando, pois nem devem ter passaporte!
— Para que passaporte, grandalhão? — ironizou Vênus. — Nós viemos por teleporte!
— Bem, de qualquer forma vocês não têm jurisdição aqui!
— E a jurisdição local tem mais direitos que a nacional! Superman, lembre que o governo estadual respeita a autonomia das prefeituras, e o governo federal respeita a autonomia de governos estaduais e municipais! Não é, Gordon...
— Bem, bem... eu... isto é...
— Em casos especiais — começou Superman — a jurisdição federal pode intervir...
— Oh, já chega! — Sailor Marte perdeu a paciência. — A questão toda é a jurisdição, vocês dois dizem? Pois bem: a
NOSSA jurisdição abrange o Sistema Solar!
— Pelo menos até Júpiter, pois eu sou a Sailor Júpiter! O Sistema Solar exterior tem outras guardiãs, mas nós cinco pegamos de Mercúrio a Júpiter!
— Isso não é reconhecido por aqui! Vocês nem pertencem à Liga da Justiça...
— E que tem isso? Vocês aqui na América não são contra monopólios?
— Não creio que a opinião pública concorde com vocês... — Batman tentou se fazer ouvir, mas o Superman interrompeu:
— O governo também não vai aceitar... isso terá de ser discutido na ONU...
Foi então que Sailor Moon, geralmente mais tímida que as outras, resolveu falar.
— Ora, vamos acabar com isso! Vocês dois deviam estar envergonhados! Em vez de nos aceitarem como reforços ficam aí discutindo jurisdição? Vocês acham que as yumas estão ligando para isso? Vocês são ou não são vigilantes do bem? Enquanto nós ficamos aqui discutindo jurisdição pessoas podem estar sendo massacradas perto daqui! E ainda querem que a gente vá discutir isso na ONU? Por quantos anos? Será que não é mais importante derrotar o mal e proteger a população?
Fez-se um grande silêncio. Sailor Moon voltou-se para o comissário:
— O senhor me parece uma pessoa bastante sensata, Comissário Gordon. Concorda comigo?
— Bem, eu... isto é... quero dizer...
— Obrigada por me dar apoio! Agora vamos lá, não há tempo a perder!
Estabelecido pelo rádio da polícia o local do problema, todo mundo partiu. Batman e Robin foram com seus cabos tipo cipó de Tarzan; a polícia nas viaturas; as sailors saltando pelos telhados. O Superman, voando.
— Ele vai chegar antes de nós — observou Sailor Vênus.
— Sim, vai, mas não vai resolver — ironizou Sailor Marte. — Ele vai ter que esperar pela gente!
— Com certeza — completou Sailor Júpiter. — Afinal só a Sailor Moon tem o cetro místico que pode exorcizar yumas! Esse pessoal fala em Deus na Constituição e esquece dele na vida prática!
— Por falar nisso, Sailor Moon, você foi grande em seu discurso — elogiou Sailor Mercúrio. — Ninguém teria feito melhor!
— Obrigada, Mercúrio... vamos agir! A propósito... por que não nos lembramos de trazer guarda-chuvas? Eu estou toda encharcada!



NOTA: este conto é uma fanfic (ficção de fã). Os personagens Batman, Robin e Comissário Gordon são criações de Bob Kane (1939) e o Chefe O'Hara aparece no seriado de tv produzido por William Dozier nos anos 60 (EUA); o Super-Homem foi criado em 1938 pelos desenhistas norte-americanos Joe Shuster e Jerry Siegel. Atualmente Batman e Superman estão na DC Comics e em filmes da Warner. As sailors (Sailor Moon e suas companheiras) foram criadas em 1991-1992 por Naoko Takeushi (Japão) no mangá publicado pela Editora Kodansha e filmadas pela Toei.
imagens da internet: acima, Batman e Superman; abaixo, da esquerda para a direita: Sailor Júpiter, Sailor Mercúrio, Sailor Moon, Sailor Marte e Sailor Vênus.


comentários: Ysolda Cabral, Sonya Azevedo, Alex Raymundo, Jurubiara Zeloso, Gabriel Solis

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 19/01/2018
Reeditado em 17/02/2024
Código do texto: T6230792
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.