Velha História

Era uma vez um casal muito amoroso que vivia com seus três filhos em um reino muito distante. Eles eram felizes, moravam em uma casa bonita com muitos animais e cercados por um campo com árvores e flores de todas as cores. Todas as noites os pais se sentavam com seus filhos em volta da lareira para contarem histórias.

Um dia o filho mais velho chamou seus pais e lhes disse que gostaria de correr mundo, de conhecer outros lugares. Seus pais tentaram lhe convencer do contrário, argumentaram que ainda era muito cedo e que haveria tempo para isso. Mas foi em vão. Por fim deram-lhe um cavalo resistente e muito brioso e um cachorro grande e forte, deram suas bênçãos recomendaram que tivesse cuidado e que fosse feliz em sua empreitada.

Após muitos dias de viagem, o filho mais velho chegou em uma casa que ficava à beira de uma estradinha. Pediu ao dono da casa alimentação e agasalho para ele e seus animais. Enquanto comia um alimento gostoso que lhe fora servido ele observou uma luz muito distante, quase impossível de se distinguir na escuridão da estrada. Perguntou ao bom homem que lhe dera agasalho que luz era aquela tão distante. Recebeu como resposta um aviso de que jamais deveria ir até lá pois todos que se dirigiam até aquela luz nunca mais voltavam. Ardendo de curiosidade e imbuído de seu espírito aventureiro decidiu ir até aquela luz distante.

Ao amanhecer pegou seu cavalo e seu cachorro e foi na direção de onde imaginava estar a fonte da luz. Após horas e horas de viagem chegou a uma casa humilde. Desceu do cavalo e bateu na porta da casa. Eis que quem abre a porta é uma senhora idosa com longos cabelos e com cara de vovó risonha. Pediu guarita para si e para seus animais. Ao adentrar a casa a boa senhora solicitou-lhe que amarrasse um fio de cabelo seu em cada animal. Ele achou engraçado tal pedido mas decidiu atender para agradar a sua boa anfitriã. Após um jantar delicioso regado a uma conversa prazerosa perguntou a senhora como poderia pagar por tão boa acolhida. Ficou surpreso quando esta respondeu-lhe: basta uma lutazinha comigo. Rindo bastante da reposta da velha disse-lhe que isso era impossível pois ele era homem forte e cavalheiro que jamais iria se desonrar com tal atitude fora de propósito. Após muita insistência decidiu lutar com sua anfitriã e assim o fez. Luta daqui e luta dali eis que, se sentindo cada vez mais fraco e surpreendido com a força e resistência da sua oponente, decidiu pedir ajuda de seus fiéis animais. Gritou "avança meu cavalo, avança meu cachorro", em contrapartida a velha gritava "engrossa meu cabelo". O cabelo da velha engrossou e engrossou impossibilitado estes de salvarem seu dono.

Muito tempo passou e enquanto isso na casa da família feliz o filho do meio decidiu que também iria correr mundo. Informou a seus pais do seu intento. Após tentarem inutilmente convencê-lo do contrário os pais deram-lhe um cavalo forte e um cachorro valente. Após receber suas bênçãos o filho do meio iniciou sua viagem.

Dias e dias de viagem se seguiram e eis que o filho do meio chega a uma casa que ficava à beira de uma estrada. Cansado ele resolve pedir guarita na casa. Um bondoso homem lhe atende. Estando já de noite e sentado na varanda da casa do seu anfitrião, entre uma conversa e outra, eis que seus olhos veem muito ao longe uma luz. Não, amigo, não vá até essa luz, pois todos que foram até lá nunca mais voltaram, tal alerta não surtiu o menor efeito ... seguindo viagem o filho do meio encontra a fonte de onde vinha a luz. Bate à porta de uma humilde casa e é recebido por uma senhora idosa que lhe oferece abrigo e alimentação. Seguindo o mesmo destino de seu irmão mais velho este é derrotado junto com seu fieis animais...

O tempo passou e o filho caçula da família feliz decidiu que era hora de correr mundo. Falou para seus pais que iria atrás de seus irmãos, pois muito tempo já passara e notícias deles não chegavam. Pegou seu cavalo e seu cachorro, recebeu benções dos seus pais e caiu na estada. Andou por estradas e caminhos, chuva e sol enfrentando. Após longa jornada chega a uma estrada pouco usada pelos viajantes. Parou na casa de um humilde homem. Pediu informações sobre seus irmãos, obtendo como resposta que antes dele dois rapazes altos e fortes, parecidos com ele, haviam ido em direção a uma luz distante naquela estrada e nunca mais voltaram. Decidiu passar a noite ali. Alimentou-se bem e a seus queridos animais. Acordou descansado e empreendeu viagem.

Horas e horas em seu cavalo o filho caçula de longe divisou uma casa. Aproximou-se dela. Medo e coragem se misturavam em seu espírito. Após bater à porta da casa é recebido por uma simpática senhora, idosa e com cabelos muito longos. Pede-lhe agasalho e alimentação para si e para seus animais. Esta pede-lhe que amarre fios de seus cabelos em torno do seu cavalo e de seu cachorro. Ele assim o faz. Mas ao contrário de seus irmãos apenas joga os fios de cabelo por cima destes sem amarrar de fato. A mesma trajetória vivida por seus irmãos traçasse para este... um saboroso jantar e um pedido de luta como forma de pagamento. O filho caçula aceita sem pestanejar. Confiança e insegurança atravessam sua alma. Em meio ao combate, sentindo que suas forças se esvaíam e temendo pela proximidade da morte pede ajuda aos seus animais. "Avança meu cavalo! Avança meu cachorro". A velha idosa e gentil, não mais que a encarnação de uma bruxa, grita "engrossa meu cabelo". Os cabelos engrossaram e engrossaram como se fossem correntes enormes. Mas estes escorregaram de cima dos amados animais do irmão caçula já que não estavam amarrados. E estes atendendo ao pedido de seu dono avançam sobre a criatura. Estraçalham-na, encerrando de vez sua existência matreira e nefasta.

O filho caçula volta para casa. Traz junto com seus alforjes uma história de dor, de perda, de luta. Um dia este sentara com seus filhos ainda pequenos ao redor de uma lareira e contará para estes uma história ... era uma vez em um reino distante...

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 26/02/2018
Reeditado em 08/04/2018
Código do texto: T6264769
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