Presentes em abundância
O Texugo ergueu-se sobre as patas traseiras para ver quem estava vindo através da floresta coberta de neve. Havia um rumor musical no ar, como o das campainhas do trenó da Feiticeira Branca, só que este soava... como se poderia dizer... mais alegre. E finalmente, viu o veículo causador do ruído. Era efetivamente um trenó, puxado por renas, mas quem viajava nele era um homem imponente e barbudo. O trenó parou à sua frente, com um rangido, e a figura, vestida de cetim vermelho e arminho, desembarcou. O solo congelado estalou ao ser pisado por suas botas pretas luzidias.
- Olá, meu bom Texugo! Estou em Nárnia, correto?
- Está nas terras da Feiticeira Branca, com certeza - o Texugo encarou com desconfiança o visitante. - Você é quem eu estou pensando?
- Em quem você está pensando? - Indagou candidamente o barbudo.
- Com essa roupa vermelha... eu quase diria que é o Papai Noel!
O homenzarrão abriu um sorriso.
- Pelo visto, ainda não fui esquecido! Sim, sou eu mesmo... o Papai Noel!
O Texugo lançou-lhe um olhar incrédulo.
- Mas... não pode ser. Pela maldição da Feiticeira Branca, nossa Rainha, em Nárnia há de ser sempre inverno, e nunca Natal... o que houve para estar aqui, agora?
Papai Noel continuou a sorrir.
- Aslan está voltando. O encanto da Feiticeira começou a ser quebrado!
O Texugo olhou ao redor, desconfiado, retorcendo as patas superiores.
- Vamos falar baixo, Papai Noel. Como sabe, por aqui até as árvores têm ouvidos. Que esta notícia não chegue à Feiticeira... pelo menos, enquanto Aslan não estiver de fato em Nárnia para poder enfrentá-la.
- Sim, compreendo... mas pode espalhar a boa nova entre seus amigos. E também que eu estou trazendo presentes em abundância para todos... todos os que se comportaram e não se deixaram corromper pela Feiticeira, naturalmente.
- Em nome de toda a comunidade da floresta, fico muito agradecido, Papai Noel - o Texugo fez uma vênia. - Mas... seria realmente correto deixar de fora as criaturas que, sem serem más, viram-se obrigadas a servir à Senhora de Nárnia?
Papai Noel bateu a neve das luvas, ar pensativo.
- Bem... só as criaturas realmente más deixarão de receber presentes. Se alguém foi obrigado a servir a Feiticeira por falta de opção, estará na minha lista de presentes.
O Texugo juntou as patinhas dianteiras, como que numa súplica.
- E o senhor tem alguma coisa para... mim?
Papai Noel voltou a sorrir.
- Claro que sim!
Inclinou-se sobre um saco volumoso que transportava na traseira do trenó, e após remexer dentro dele por alguns instantes, sacou um objeto de metal prateado, parecido com um saca-rolhas.
- Este é o seu presente... uma verruma mágica! Basta encostar a ponta no lugar onde quiser furar, e ela escava um buraco equivalente ao seu próprio comprimento. Se quiser que ela continue, basta enfiá-la na terra ou na madeira de novo.
- Ei, isso é genial! - Animou-se o Texugo, manuseando com cuidado o objeto. - E posso usar para furar pedra também?
- O que quiser! - Garantiu Papai Noel, subindo no trenó. E, estalando as rédeas acenou para o Texugo, em despedida:
- Feliz Natal!
- Feliz Natal e obrigado, Papai Noel! - Acenou o Texugo de volta.
Novamente sozinho, espetou a verruma no chão e a viu girar velozmente sobre seu eixo, abrindo um buraco no solo em segundos. O Texugo recolheu o objeto e pensou que estava na hora de fazer uma visita às masmorras da Feiticeira Branca.
Agora ele já tinha algo capaz de furar aquelas grossas paredes de pedra...
- [30-06-2018]