A INDESEJADA

A INDESEJADA

(Lazaro Faleiro)

No marasmo da mesmice do dia, o imensurável em maleável movimento, a fantasia; feéricos fantasmas, alegorias vêm, veementes, em minha direção, martelando melancolias, machucando o coração.

No reverso do universo em pluri-versos, eu me perco em percalços e falsos pensamentos, nulo, me anulo no mesclar da melodia de um místico memento que vem de dentro de mim, assim sem ninguém a me apoiar. Naquele sem fim de sofrimento e solidão, uma nesguinha de compaixão: Enigmático, prático, o Cristo Cósmico vem me ajudar. Na minimez e pequenez de um momento, na obscuridade e sagacidade de um reles relento, sem tento, sem alento, o rebento brota brabo, bruto. Um vulto vem veloz, voraz, voando, devorador; me ponho sem voz, em estupor.

O coração querendo carregar o mundo na insensatez da vez de um segundo, no enigmático e automático azar do pulsar acelerado, em destempero e desespero, a estremecer e a mexer com o corpo inteiro, contumaz e assaz tremedeira, sem eira nem beira, um eu sem léu, de déu em déu, um capacho, num treme-treme de cima para baixo, um enxurrio de cortante calafrio, o coração freme, quase que geme no percalço do descompasso, a querer pular e saltar do corpo em desconforto.

O pesadelo dos pés pesados, pendurados, em amarrio, frios, apoiando-se em nenhum lugar, parecia não me abandonar. Um quesito fortuito, gratuito, esquisito, sem sim nem não, a certeza do sinistro sem solução, me deixa sem ação, só a esperar o desfecho do azar.

Firmo forte o pensamento no pesadelo do momento, no desacerto do coração; austero, espero:

Diverso no reverso do diferente, de repente, veloz como a luz, um som vem soprando aos meus ouvidos desvalidos, me conduz a uma caveira com uma foice e uma cruz na mão que reluz, sem tanto, no espanto de um relâmpago; em seguida a desvalida, a sem nome, some no sem fim da imensidão...

Suspiro, transpiro tudo; fico mudo, fraco, um caco; fecho os olhos e me molho de espanto, no sem tanto da solidão e medo. Ali sozinho me sinto um brinquedo, um arremedo de gente, um indigente...

Um vento vadio, em assobio, frio, gelado, sibilado, parecendo algo do além, uma voz veloz vem sussurrar aos meus ouvidos, penetrando profundamente meus sentidos, indo até a intimidade de minha alma; aquele trem me traz tanta calma, quando sussurrante, penetrante, fala:

---- “ Oi?! Não tenha medo; isso aí é só o arremedo do que ela é; seja forte; já se foi; a magricela, a mal-amada, a indesejada, a morte! “

Iporá, 20 de fevereiro de 2014.

Lazaro Faleiro
Enviado por Lazaro Faleiro em 17/08/2018
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