BEHEMOTH - O LIVRO DO CAVALEIRO - CAPÍTULO I - ENCONTRO COM DESCONHECIDOS

Cercado pela Floresta dos Espíritos, o orfanato Saint Divine recebe crianças abandonadas pela família ou órfãos de guerra. Ali, sob a administração do padre Hannah e da madre Lígia, as crianças vivem em condições de trabalho forçado e de castigos físicos, além da alimentação precária que recebem. Comem carne em raras ocasiões quando são permitidos caçar algum animal na floresta.

As crianças menores, assustadas com as histórias assombrosas a respeito dela, preferem ficar dentro dos muros do Saint Divine. Enquanto que as maiores são imbuídas de procurar frutas e pequenos animais, caso queiram algo a mais para comer, já que o orfanato oferece apenas duas refeições diárias, a terrível sopa de cebola da irmã-cozinheira Afrodite.

É e neste lugar que vive Bastian, o pequeno garoto de 14 anos que está prestes a viver uma grande reviravolta em sua vida.

***

Sobre uma pequena construção de pedras, um altar em desuso, Bastian olhava para o céu estrelado, sonhando com a liberdade do mundo além do orfanato. Apesar de não ser prisioneiro, ele estava acorrentado pela situação na qual vivia. Sem família ou quaisquer bens, a situação de abandono o pressionava a suportar os abusos daqueles que administravam o orfanato. Um preço a ser pago para ter um lugar para chamar de lar.

Graças aos amigos e amigas que fizera, a vida era muito mais divertida quando estavam juntos. As outras crianças chamavam a Bastian e seus amigos, Hammax e Roma, de senhores dos espíritos. Sempre que os três saíam para caçar na floresta, eles voltavam com muita carne de caça e frutas, os espíritos nunca importunavam. Era uma verdadeira comemoração por parte das outras crianças, mas que sempre acabava com Bastian ou Hammax punidos pela sádica madre Lígia, que os impugnavam com dolorosas chicotadas por causa de algum pecado que ela inventara na hora. O padre Hannah também não era diferente da madre.

Apesar de todos os contratempos, ainda assim os três arrumavam alimentos melhores para as crianças menores. Aqueles três eram verdadeiros heróis naquele lugar abandonado pelos deuses.

- Você viu, Hammax? Disse Bastian, fazendo um sinal com as mãos.

- Sim, é provavelmente uma lebre.

- Shhhh! Façam silêncio, os dois. Querem assustar nossa presa?

- Claro que não, Roma.

- Então fiquem calados.

- Sim, responderam.

Roma tinha habilidades com arco e flecha que superavam as de Bastian e Hammax. Ela era a responsável por sempre abater mortalmente as presas. Vez ou outra não acertava a flecha que não fosse em um ponto vital. Por isso que a caçada sempre era em trio, quando não atingia em cheio o alvo, os dois meninos corriam atrás da presa ferida. Essa estratégia de caça sempre rendia boas recompensas.

- À direita, perto da árvore que tem a cara do padre. Viram?

- Sim, mas acho que você não acerta dessa vez. Desafiou Hammax.

- Eu acerto com os olhos vendados, seu trouxa.

- A língua da Roma é sempre afiada. Retrucou Bastian.

- Bastian, fique posicionado no seu lugar.

O vento soprou do sentido sudeste, algumas folhas levantaram, os cheiros da floresta ficaram mais forte e as narinas de Roma abriram levemente, seus ouvidos seguiam o arfar da caça. Ela retesou o arco e soltou a flecha. Não houve barulho nenhum. Será que ela acertara?

- Veja, tem sangue naquelas folhas e forma uma trilha. Os três falaram ao mesmo tempo.

- Bem, vamos segui-lo. Nós passamos quase a manhã toda para apanhar a lebre. Roma sugeriu.

- Não podemos voltar com as mãos vazias, os órfãos ficarão sem carne para comer. Hammax ponderou com os outros dois.

- Idiotas, lembrem que temos horário para voltar. Eu não quero levar uma surra do padre. Disse Bastian.

- Relaxa, irmãozinho. A gente leva algumas maçãs bem suculentas e seremos perdoados. Hammax propôs.

- Pode ser.

- Bem, se as duas donzelas já terminaram a conversa furada, então eu acredito que possamos prosseguir com a caçada. Roma gesticulava alguma coisa imprópria enquanto chamava os dois meninos.

O rastro de sangue seguia floresta adentro, e a partir daquele instante tudo era uma aventura, pois os três jamais foram tão longe. Apesar de conheceram os arredores dela por causa do orfanato, muitos pontos não tinham sido explorados de maneira adequada. O que conferia um ar de mistério. A madre sempre dizia que a floresta era infestada de gnomos comedores de crianças, o padre dizia que lá havia um cabana em que demônios usavam-na para cozinhar humanos. Qual seria a verdade por trás da misteriosa floresta?

As crianças caminharam por algumas horas. Não perceberam o tempo passar por causa das copas das árvores que deixavam o ambiente da floresta quase impenetrável pela luz, por causa também da pouca iluminação, as correntes de ar sopravam e traziam considerável frieza. Hammax espirrava, Bastian cantarolava e Roma resmungava. O trio estava em apuros?

- Como eu pude ser tão tola a ponto de vir até aqui com vocês dois, idiotas.

- Fique calma, Roma. O Bastian conhece o caminho de volta. Falou entre um espirro e outro.

- Não mesmo. Eu nunca vi árvores como estas daqui. Apontando para uma espécie de pinheiro retorcido.

- De qualquer forma, nós vamos perder nosso couro quando retornamos ao orfanato. O padre Hannah vai acabar com a nossa raça.

- Não seja tão otimista, Roma. O máximo que acontecerá é que eles darão uma festa porque sumimos.

- Estúpido.

- Calem-se, os dois. Escutem. Sussurou Bastian ao apontar para uma moita.

O rastro de sangue da lebre acabara exatamente ali. A sorte sorriu às crianças? A carne da presa não mostrava nenhum problema, com exceção de um pequeno detalhe, quase imperceptível se não fossem os olhos bem treinados de Roma, dois pequeníssimos furos no abdômen do animal. A menina não comentou nada com os outros garotos. Era hora de voltar

Enquanto caminhavam, o espirros de Hammax aumentaram por causa das rajadas de vento. Junto delas, uma fina camada de neblina começara a brotar do chão. Olharam para as copas das árvores e perceberam que a luz do sol estava fraca. A sombra do medo tocou em seus pueris corações. Que bestas encontrariam naquela floresta se passassem a noite ali? As crianças correram.

Com o ar pesado para entrar. - Esperem, eu preciso de cinco minutos.

- Roma, nós não temos cinco minutos.

- Ah, Bastian. Qual é, cara! Eu preciso de cinco minutos. Arfando ela disse. - Olhe pro Hammax também.

- Hammax!

Não perceberam, mas o menino Hammax não os acompanhou pelos últimos setecentos metros de carreira. Sem conseguir achá-los, Hammax parou em um lugar que dava para uma clareira.

- Que lugar interessante. Falava enquanto olhava para o céu com uma das mãos protegendo seus olhos. - Aqui a luz do sol não diminuiu e há pássaros cantando perto daquela caverna.

- Bastian, seu irresponsável! Você deveria prestar mais atenção naquele menino.

- Eu? Eu não sou o pai dele.

- Não seja ridículo. O Hammax considera você como um irmão mais velho.

A fala de Roma deixou Bastian profundamente preocupado. Realmente, desde que chegou ao orfanato, ainda muito criança, ele e Hammax eram inseparáveis, compartilhavam de tudo, até mesmo os castigos.

- Vamos atrás dele, Roma. Meu irmão não está tão longe daqui.

- Certo.

Com tantas árvores e luz do sol, Hammax apanhou muitas frutas, enquanto pensava na fartura que Roma e Bastian estavam perdendo. Sua mente divagava, como se estivesse um sonho tranquilo. Ali ele esqueceu as humilhações sofridas no orfanato e dos seus medos. Satisfeito de comer maçãs e amoras, o menino dormiu.

- Ora, ora. É ele, Roma! Achei.

- Acorda, seu bastardo.

- Ei, vai com calma, menina.

- Vamos, levanta. Por sua causa vamos passar a noite aqui.

- Como é, olhem ao redor. A luz do sol ainda brilha. Olhando para cima ele apontava.

- Você ingeriu algum cogumelo? Bastian balançava-o pelos ombros enquanto perguntava.

- Não, claro que não crianças. Ele está sob meu encantamento. Soando uma voz tenebrosa de uma macieira velha. - Vocês dois são fortes, mas o pequeno ai estava com tanto terror no coração que sucumbiu a meu feitiço.

- Quem é você? Perguntaram, com exceção de Hammax que ainda enxergava a luz do dia, apesar do ceu está pintado de vermelho e laranja.

- Eu sou Or'kan, da tribo dos Orcs. E adoro comer carne humana. Salivava o monstro.

- Não ouse nos tocar, seu demônio!

- Demonio? Não, não me ofenda assim. Aquelas criaturas não têm classe. Se encontrassem com um, provavelmente estariam mortas. Com seu sangue pintando cada folhinha desta floresta, hi hi hi.

Quem salvaria as indefesas crianças? Ali, no meio da floresta, será que elas seriam comida para um orc tão vil como Or'kan?

- Não seja estúpido Or'kan. Não assuste as crianças. Saia das sombras. Disse uma voz de dentro da caverna.

Uma sombra diferente se projetou de trás de Hammax. Era Or'kan, o mercenário orc das terras de Ninrode.

Não conseguiam acreditar, mas da caverna saiu um homem vestido de toga carmesim e fios dourados. Era um sábio das longínquas terras de Gaia.

- O que fazem aqui, crianças?

- Nós estávamos caçando uma lebre para o jantar. Roma respondia às perguntas. Bastian apenas olhava-os com certa desconfiança.

- Bem, vocês tiveram sorte, pois estamos caçando um pazuzu muito poderoso que tem atormentado algumas vilas. Vocês não o viram por acaso?

- Claro que não.

Enquanto conversavam, Hammax caminhava lentamente se afastando dele.

- Veja Or'kan, o menino está encantado pela magia do demônio.

- Finalmente pegamos aquela criatura cretina.

- Ei, ei, e o meu amigo?

- Bem, nós precisamos dele mais um pouco. Assim poderemos pegar o pazuzu e depois apanhar nossa recompensa.

- Recompensa? E vamos ficar sem nada?

- Como assim criança? Vocês são órfãos. Não precisam de moedas de ouro para nada

Roma e Bastian desafiavam com o olhar, o sábio.

- Vamos, lá, Willen. Dê um pouco da recompensa às crianças.

- Seu orc burro, nós estamos há semanas atrás desse monstro.

- Willen, eu juro pela Grande Fonte que se você não recompensar as crianças, na próxima missão eu o jogo num buraco de Minhocas Áries.

- Certo, vocês venceram. Ficaremos com setenta por cento da recompensa. Fechado?

- Meio a meio. Bastian retrucou.

- Seu pivete ganancioso.

Or'kan apenas ria de toda aquela situação. - Eles pegaram você, grande mestre sábio, Willen. O orc chorava de tanto rir.

A noite chegou. Willen tratou de invocar uma fonte de luz, e Or'kan estendeu algumas linhas que serviriam de alarme caso pazuzu aparecesse. Saíram da clareira. Avançaram floresta adentro. O frio tentava quebrar-lhes a motivação da caçada. O orc não o sentia por causa da pele naturalmente mais grossa que a dos humanos, o sábio era envolto numa misteriosa aura dourada, pouco visível à noite por causa da escuridão, e as crianças rangiam os dentes, menos Hammax que ainda seguia um caminho estranho graças ao encanto da besta.

- Vejam, é uma outra caverna! Apontou Bastian.

- Sim, ali está o esconderijo do monstro. Olhem os restos de caças ao redor.

O caminho até a entrada estava cheio de carcaças. O odor de carne morta impregnava o ambiente com um cheiro insuportavelmente azedo.

- Tomem muito cuidado, a partir de agora estamos no território de um verdadeiro predador. Willen advertiu.

Hammax avançou sem muitos receios. Seguido cautelosamente por Or'kan, que se escondia nas sombras.

Antes de entrar na caverna, uma mulher alta, branca feito o mármore, e com serpentes no lugar do cabelo, apareceu. - O que faria naquele lugar a terceira comandante do exército de Leviatã, Medusa? Perguntou-se Willen.

- Pazuzu, esta não é a criança. Eu preciso que você seja mais competente. Aumente seu raio de ação.

Atrás dela, uma criatura semelhante ao corpo de um homem extremamente forte, rosto de leão e asas de morcego estava em postura de reverência.

- Sim, minha senhora. Seu desejo será cumprido.

Assim como aparecera, a comandante Medusa desapareceu.

- Preciso me livrar desse infante. Ele será minha próxima refeição.

- Zéfiro, que voas pelos ares. Pai das fadas. Peço-lhe, abra os portões da ventania. Ventum Invictum !

Pazuzu foi lançado a alguns metros pela rajada de vento de Willen. Or'kan apareceu das sombras por trás de uma carcaça de veado, lançando pequenas adagas com veneno paralisante.

- Insolentes! Ousam desafiar a besta Pazuzu? Sentirão minha ira rasgar-lhes a carne.

As crianças apenas observavam tudo aquilo, totalmente absortos pela demonstração de poder dos três que lutavam.

- Que coisa incrível. Vamos ajuda-los, Bastian.

- Você ficou louca. Com um sopro daquele Willen nós viramos pó.

- Não seja covarde. Veja, Willen foi acertado com um soco, e o orc não vai conseguir num mano a mano sozinho.

Longe dali, no Orfanato Saint Divine.

O padre Hannah percebeu o desaparecimento das três crianças, logo tratou de investigar se alguém sabia de alguma coisa. Com todas os órfãos enfileirados, o padre andava de um lado para o outro, balançando a justiça divina, uma palmatória com pequenas lascas de madeira sobressalente na ponta.

- Ingratidão é um pecado severo que deve ser punido sem maiores demoras. Perguntarei mais uma vez até que alguém diga. - Onde estão os três?

- Não sabemos senhor padre. Diziam.

- Bem, irmã Constance, pegue o pequeno Sebastian. Acredito que a punição deva começar por ele.

As crianças esperavam que os três voltassem logo.

De volta a clareira.

- Or'kan, use a sua lâmina furtiva. Isso nós dará um tempo.

- Certo.

- Vamos, Bastian. Eu posso acertar o monstro daqui.

- Roma, não seja convencida.

A menina retesou o arco. Apontou. Os músculos do braço estavam firmes, os olhos não vacilaram. Sentiu o vento soprar. Parece que tudo ficara em câmera lenta. Era o momento, ela sabia, o sentimento do caçador havia aparecido. Soltou a flecha.

A criatura soltou um rugido terrível. Seu olho esquerdo estava perfurado. - Quem ousou? A besta olhou com a vista boa. Viu a pequena arqueira. Seria ela sua vitima.

- Corre, Roma. Sai dai. Bastian gritou.

Pazuzu saltou em frente a menina, que paralisada pelo instinto assassino, não esboçou nenhuma reação. A pressão de ser morta naquele instante era demais.

O monstro ergueu seu braços. Ele a mataria com um golpe bruto. - Luz celeste que brilha em meio a escuridão, seja nossa força, divinum lumen. Willen invocou um raio de luz que queimou uma das asas de pazuzu.

- Ahhh! Lâminas do vingador. Atacou Ork'an.

O monstro foi perfurado por uma ponta de adaga de âmbar envenenada. Se não fora pela resistência natural dos demônios a venenos, com certeza ele estaria morto. - Pazuzu lembrará desta humilhação. Voltarei e acabarei com todos. Disse o monstro. Enquanto encontrava os ares, apesar de ferido.

Ali, os caçadores e as crianças ficaram brevemente felizes, já que com a fuga do monstro eles ficariam sem recompensa.

- Foi tudo culpa sua, Willen. Disse o orc.

- Como é que é seu comedor de botas? Willen respondeu à provocação.

- Repete isso seu sabiozinho de uma figa.

- Não briguem. Vocês são parceiros de caçada. Disse Bastian.

Assentido com a cabeça, Roma confirmava as palavras do amigo.

- Isso mesmo, numa caçada é importante que a equipe esteja em sintonia. Ela comentou.

- Ah, claro. Você fala de sintonia e perde seu amigo no meio de uma floresta com um demônio louco a solta. Willen retrucou.

- Como é que seu sabiozinho de uma figa!?

- Repete isso sua trombadinha!

Hammax apenas ria de tudo aquilo. Não lembrara de nada do que tinha acontecido, além de ter adormecido durante a luta contra Pazuzu. - Logo, logo, chegaremos ao orfanato. Acho que o padre vai gostar de receber vocês dois.

- Chegamos, espero que a madre e o padre estejam de bom humor.

A primeira pessoa a avistar o trio, foi o irmão Caco. - Graças aos deuses estão todos bem! Levantava suas mãos enquanto falava. - Crianças, procurem o padre Hannah. Ele estava tão preocupado com vocês. Os três perceberam a falta de sinceridade nas palavras do irmão. Eles sabiam que algum muito ruim havia acontecido e que eles eram os culpados.

- Bem, veja irmão. Este é Willen, um sábio vindo de Gaia, e o grandalhão é Or'kan, um orc marrento vindo de Ninrode. Apresentou Roma. - Eles são caçadores de demônios e estão caçando um pazuzu pelas redondezas. Nós estávamos juntos.

- Que história interessante pequenina. Vá até o padre agora. Eu cuidarei dos convidados.

- Onde ele está? Bastian perguntou.

- Na sala de consagração divina (sala de oração).

As crianças saíram do pátio para ir em direção a sala de oração de Hannah. Mas antes resolveram passar pelos dormitórios, já que havia pouco movimento dos órfãos. Rina enxergou Hammax e correu chorando em sua direção. - Mano, o que aconteceu?

- Calma, maninha. Onde estão as outras crianças?

- Ah, muitas delas foram adotadas hoje mais cedo. Somente algumas restaram.

- Mas, seu malvado, ontem nós apanhamos por causa de vocês. Sebastian tá até agora deitado na cama com o bumbum roxo de tanta pancada.

- Padre desgraçado. Espero que aquele miserável pague pelos seus pecados. Roma resmungou.

- Adotados? Por quem? Bastian interpolou.

- Ah, uma bela senhora, bem alta e branca, vestida com um belo vestido rodado e um longo lenço cobrindo os cabelos adotou a maioria de nós. Ela dizia que os levaria para um lugar muito especial.

Estranho. Durante todos os anos que estive aqui, ninguém foi adotado. Os órfãos maiores de idade poderiam deixar esse lugar ou permanecer aqui, como no caso da irmã-cozinheira. Pensou Bastian. - De qualquer forma, espero que eles estejam bem.

- Vamos, Bastian. Chamou Roma e Hammax.

As crianças subiram as escadarias até a torre, atrás da biblioteca, onde ficava a sala de Hannah. O odor do lugar estava diferente, como se algo estivesse morto durante dias. Os infantes não ligaram muito, apenas subiram. A porta da sala estava entreaberta, e de dentro duas vozes conversavam, uma estava levemente alterada.

- Padre! Chamaram os três.

- Podem entrar.

- O irmão Caco disse que o senhor estava preocupado com a gente. Bastian tomou a frente do grupo.

- Sim, meus pequeninos. Vejam bem, a madre Lígia chorou tanto o desaparecimento de vocês ontem à noite, que consternada, ela sozinha, coitada, saiu floresta adentro para procurá-los. Retornando um pouco antes da madrugada começar a soprar.

- A madre realmente fez isto por nós?

- Mas é claro, Hammax. O amor de Lígia é como de uma mãe por vocês.

- Perdoe-nos, padre. Nós estamos arrependidos.

- Tudo bem, meus filhos.

- Onde está a madre? Acredito que ela esteja na cozinha.

- Vamos até lá para pedir desculpas. Disse Roma.

Os três saíram da sala do Padre. A atitude de Hannah estava estranha, as crianças jamais o tinham visto agindo com tamanha gentileza e cordialidade nas palavras, geralmente falava-se apenas em pecado e punição quando encontravam com o padre e a madre.

Antes de chegar à porta da torre que dava acesso à biblioteca, os caçadores apareceram ofegantes. - Crianças, precisamos sair daqui agora.

- O que aconteceu? Perguntou Roma.

- Este lugar é um ninho de ghouls.

- O que é isso, Willen? Bastian indagou.

- São servos dos demônios

- Não é possível. Aqui é o orfanato.

- Era o orfanato. Todos lá foram estão querendo comer nossa carne. O orc disse.

- Pare de brincadeiras, Or'kan.

- Vocês não notaram nada diferente?

- Sim... mais ou menos... Só o padre. Hammax respondeu.

- Isso já e um prova. Humanos só mudam repentinamente de comportamento quando estão sobre algum encanto. Willen explicou.

- Mas e os outros órfãos? Bastian falou.

- Acho que foram todos sequestrados. Os que ficaram são velhos para o ritual de conversão. Willen o respondeu.

- Caramba! Como isso foi acontecer. Eles eram nossos amigos. Hammax refletia.

- Vamos salvá-los! Roma propôs.

- Menina, vamos salvar nossos pescoços primeiro. Or'kan disse.

Do alto da torre, um rugido foi ouvido. O grupo de crianças e os caçadores reconheceram quem era. Pazuzu estava lá.

Continua

***

NOTA: "Behemoth, o cavaleiro" é uma história iniciada em outubro de 2017. A ideia era lançar um capítulo por mês na plataforma Wattpad, mas como a visibilidade para autores amadores é maior no Recanto da Letras, eu acho, decidi continuar com esse projeto aqui, no entanto, sem a certeza de que será lançado um capítulo por mês, o mesmo acontece com outros projetos iniciados, mas ainda não terminados, apesar de que na minha imaginação os enredos já estão finalizados. Para quem acompanha meus contos, obrigado pela companhia. Escrevo para compartilhar uma parte das aventuras que vivo dentro de mim.