A Queda do Dragão

Aélia encostou a cabeça no tronco da árvore onde se escorava pesadamente. Suas pernas já não tinham mais forças para correr e, sinceramente, ela não tinha mais para onde ir. Seu rosto e vestido estavam igualmente sujos e cobertos de cortes e arranhões. Duas linhas limpas e brilhantes em suas bochechas traiam seu vergonhoso choro de desespero. Seu cabelo muito calo estava cheio de galhos e seus olhos violeta, vazios de qualquer esperança. Tudo que ela podia fazer era rezar aos sete para que ela tivesse tempo o suficiente para fazer seu sacrifício valer a pena.

Com sua adaga, confiada a ela pelo irmão, ela cortou a própria palma, dizendo palavras de encantamentos quase esquecidos. Com o próprio sangue em concha na mão, ela o sorveu, manchando os lábios de vermelho. Ele tinha gosto de ferro e magia e, ao proferir as palavras seguintes, ele evaporou, erguendo-as no ar em fumaça rubra. Ela contou as palavras em sua cabeça antes de proferi-las, pois eram limitadas.

"Um dia de viagem ao sul-doeste da nascente do Rio de Prata. Eu te amo irmão. Perdão." Sua voz soou baixa, exausta e quebrada, traindo sua desilusão. Segundos depois, ela falou novamente, mas em uma voz masculina e poderosa, que não lhe pertencia. "Aélia? É você? Eu a encontrarei irmã, aguarde por mim! Estou a caminho! Espere por mim! Eu te-"

As palavras morreram, junto com a fumaça, deixando apenas amargor na boca da Targaryan. Ela sabia que a sua voz havia denunciado sua localização. Os passos pesados de diversos guerreiros corriam na sua direção, buscando unicamente dar fim a sua vida. Todo um maldito exército que partiria para Pedra Dragão assim que tivessem terminado com ela.

Ela jamais permitiria isso. Ela morreria hoje, mas seria o primeiro dragão a atear fogo nessas malditas terras e rejuvenesce-las para o reinado dos Targaryan. Ela fechou os olhos e sumonou cada partícula de magia dentro de si, sentindo o calor crescer em seu âmago.

O mestre de armas ouviu as palavras arcanas. Elas lhe enviaram um calor ardente e sufocante pelo peito. Apenas ouvi-las tornava difícil respirar. Ele sabia que a Targaryan era uma maldita bruxa, mas apenas sentir a presença da sua feitiçaria sem nem ao menos vê-la era o suficiente para incomodar até um guerreiro calejado. Ele apertou o passo em meio a floresta fechada como pode. Sua unica opção era mata-la antes que ela invoca-se demônios em seu auxilio.

A fumaça facilitou ainda mais a sua busca e alguns passos a mais ele a viu. Sua figura, jovem, bela e atrevida estava retorcida em magia, tão apavorante quanto bela. Seu vestido vermelho e cabelo, assim como a arvores e grama ao seu redor, estavam em chamas. Seus olhos se encontraram e ele hesitou por um momento, estupefado. Ela parecia grande, feroz e furiosa. Era irracional e ele lutou contra o medo, erguendo a espada para golpeá-a de cima a baixo. Mas aquele único momento de hesitação havia sido seu fim.

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Daerion sobrevoou a floresta queimada. Entre as cinzas e restos de arvores enormes, o metal de armaduras não carbonizados refletiam o sol que amanhecia. Pela quantidade de armas no chão, um exército estava na floresta quando o fogo se alastrou. Ele nunca vira tamanha destruição e mesmo assim ele se negava a acreditar. A voz de sua irmã ainda ecoava em sua mente. "Eu te amo. Perdão."

Ele só admitiu a si mesmo que ela havia partido quando seus olhos encontraram sua adaga caída no chão, manchada de cinza pelos restos de sua irmã. Enfiando as mãos no carvão, ele contou também seu medalhão dos sete e o anel dos Targaryan. Sua mente, tão racional e contida, o manteve em controle. Ele recolheu os pertences dela, um grande punhado de suas cinzas e os carregou com ele até Balerion. Juntos, eles voaram até as coordenadas que ela lhe passara, através de sua magia.

Ele precisou voar o dia todo, anestesiado demais para parar para comer ou descansar, até chegar ao vale. Era exatamente como a imagem que sua esposa fizera de seu sonho. Ali o Dragão de Três Cabeças um dia construiria seu castelo e dominaria a toda Westeros. Aélia cumprira sua missão e agora a profecia poderia se cumprir.

Daerion pousou e desceu de seu dragão. Suas pernas imediatamente falharam, levando-o de joelhos ao chão. Ele rangeu os dentes, mas mesmo assim as lagrimas escaparam dos seus olhos. Seu coração se retorceu no peito e ele enterrou os dedos na terra, deixando um grito de dor sair rangando-lhe o peito.

A profecia seria cumprida, mas não por ele. Ele perdera ambos irmãos e de três, sobrara apenas ele.

Ele estava sozinho.

E jamais colocaria os pés nessa terra maldita novamente.

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Em memória a Aélia Targaryan. Personagens memoraveis merecem receber um fim digno.

Kaomy Carvalho
Enviado por Kaomy Carvalho em 14/10/2018
Código do texto: T6476315
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