A Solidão do Dragão

Ultimo da coleção de contos de Aélia, logo anterior ao seu fim.

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Aelia se recostou na montanha de pedra, deixando que o vento acoitasse seu rosto. O próprio clima refletia seu humor: um frio tempestuoso que queimava ao toque. Mesmo assim, o ar frio que cortava como navalhas resvalava em vão na pele delicada da Targaryan. Mesmo com os músculos doloridos e mãos esfoladas da descida, ela não tremia, mesmo que encolhida em seu vestido agora sujo.

Pouco se podia ver na penumbra da lua cheia que seguidamente se escondia por entre nuvens por longos minutos sombrios. Sua respiração saia como fumaça de seus lábios, como se uma fogueira ardesse dentro dela. Mesmo indiferente ao frio, ela sentia falta do calor escaldante dos longos banhos em Pedra Dragão.

Como ela fora tola! Daerion provavelmente ficaria decepcionado com sua conduta. Apenas isso ja a fazia querer gritar de frustração. Cair em uma artimanha tão barbara e ser obrigada a partir sem limpar seu nome foi quase demais para seu orgulho suportar. Tanto que ela provavelmente sendo uma companhia desagradável ao seu grupo. Silenciosa como um fantasma.

A lua surgiu novamente, iluminando todos que dormiam. As damas dormiam juntas, assim como os homens do lado oposto, para conservar o calor de que tanto necessitavam. Mesmo trêmulos de frio, Aelia viu que realmente dormiam, provavelmente graças a exaustão do dia de caminhada e comida escassa.

Sem querer arriscar deixa-los muito tempo expostos aos elementos, Aelia se aproximou lentamente das Ladys. Lhe consumia muita energia, mas ela moveu as mãos em gestos secretos sem entoar as palavras antigas. Suas mãos esfumaçaram como sua respiração, envolvendo a Ranger adormecida em seu abençoado conforto. Logo, ela não mais tremia e suspirou de alivio em seu sono. Lenta e silenciosamente, ela o repetiu em Agatha, Samuel e Ottys.

Após isso, ela retornou ao seu pequeno ponto de vigia. Ela não precisava realmente ficar acordada, com seu circulo de proteção ao redor do acampamento pronto para alerta-la de qualquer perigo que se aproximasse. Porém, ela precisava manter as aparências. A ultima coisa que ela precisava era que seus companheiros se voltassem contra ela.

Ela precisava cumprir sua missão. Descobriria tudo que pudesse das intrigas de Westeros e retornaria ao seu irmão, ao seu lar. Não importa o que acontecesse, ela venceria tudo que os animais menores jogassem contra ela. E no futuro, como já estava previsto pelo sonho do dragão, eles pagariam pelo que lhe fizeram.

Ela se abraçou contra o vento, raiva sendo varrida para longe pelo cansaço, deixando para trás apenas uma solidão aguda e dolorosa. O que ela não daria agora pelo abraço de um dos seus irmãos, pelo seu conforto e sua proteção? Ela deixara Daerion de bom grado, pelo futuro de sua família e mesmo assim sua mente em frangalhos a traía. Ela abraçou os joelhos e abaixou a cabeça, se permitindo um momento de fraqueza para chorar em silencio.

Pela primeira vez em sua vida, não havia ninguém ali para enxugar suas lagrimas.

Kaomy Carvalho
Enviado por Kaomy Carvalho em 15/10/2018
Código do texto: T6476660
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