Batalha Final

O Herói rolou empurrando o corpo do último guarda. O último entre ele e O Tirano. Ele avançou para o centro da sala, espada erguida, sangue pingando. "Sangue daqueles que defendiam O Tirano" pensou, afastando a sensação de culpa que ameaçava tomá-lo.

Sentado no trono, completamente alheio a batalha que acontecia por todo palácio, estava o homem mais temido do reino. Velho e curvado, com uma coroa negra encimando os cabelos prateados. Sua expressão sombria pareceu fechar-se ainda mais ao perceber o jovem que se aproximava.

O Herói sabia que, apesar da aparência frágil, se encontrava em frente ao ser mais poderoso vivo. O Tirano gastou apenas um segundo de atenção ao jovem antes de fechar os olhos suspirando com... tristeza. E sem gastar mais do que um segundo para reunir coragem, O Herói pôs-se a correr, lâmina a frente apontada diretamente para o coração do seu inimigo. Que, sem um músculo mover, o parou.

A sala do trono era ampla, as paredes e colunas ricamente decoradas. O trono, localizado na parede oposta às grandes portas, era elegante e imponente. Muito diferente do homem que o ocupava, porém combinava perfeitamente com outro homem no ambiente. Interrompido em meio ao movimento, ainda assim, elegante e imponente. A armadura, amassada de batalha, resplandecia. O rosto arranhado e sujo era belo. A espada sangrenta pronta para tirar outra vida. Ele permanecia no meio da sala, completamente imóvel.

O velho abriu novamente os olhos e o jovem sentiu o sangue voltar a correr, os pulmões voltarem a obedecer. O resto do corpo, porém, continuava congelado. Com toda a força de vontade concentrada nos pés, era incapaz de mover-se um milímetro.

- Estou cansado. - declarou O Tirano. Não parecia fazer nenhum esforço para deter O Herói. Uma força inexplicável empurrou o jovem, num instante, a extensão do aço em suas mãos, era a distancia entre ele e o inimigo. Podia obsevar os detalhes no rosto do velho. As rugas não eram nada comparadas com a idade que o olhar parecia ter.

- O que espera conseguir? - Sem esperar uma resposta continuou. - Quer a magia de volta ao mundo imagino. Quer a liberdade para o povo usufruir da magia como quiser. Quer viver num mundo como nas canções dos bardos. Quer derrotar o terrível mago e se tornar um salvador, uma lenda. Assim como tantos outros antes de você. Como eu um dia quis. E como tantos depois, tenho certeza. Deseja um mundo ideal onde a magia flui e a paz reina. Mais que tudo, quer trespassar meu peito com essa espada e cessar meu entediante monólogo.

O Herói tentava em vão mover os braços, sentia que O Tirano apenas brincava com ele, a desesperança minava suas forças. O único mago existente, sugando a magia de todos os seres vivos, o maior poder de todos.

- Um fardo, na verdade, mas você não entenderia. Só há duas maneiras de te mostrar o que sei. A primeira dispersaria a magia pelo mundo, e a segunda me mataria, mas o fardo seria passado para você. Deve achar as duas opções muito atraentes, mas como eu disse. Não entende. Também fico tentado, dar o fardo para outro, finalmente descansar.

O velho fixou o olhar no do jovem. Desistindo do esforço em se mover retribuiu o olhar firmemente. Milhares de anos cabiam nos olhos d'O Tirano. O Herói percebeu a exaustão contida ali, e o velho também o examinava.

Uma alta pancada percutiu pelas enormes portas adornadas da sala do trono, mesmo impossibilitado de se virar o jovem sabia que o resto de sua companhia devia ter se livrado dos opositores e o alcançavam agora para enfrentar a última oposição. Nesse mesmo instante, sentiu novamente uma força inexplicável. Sentiu o corpo avançar quase sem resistência enquanto a lâmina perfurava carne e osso. Sentiu o último alento d'O Tirano e ouviu seu pedido de desculpas.

Sua mente foi acometida de visões, experiências e conhecimentos de todos os Guardiões antes dele. Seu corpo caiu no chão, mas a mente estava muito caótica para reparar no universo ao seu redor. Tal como o velho havia avisado, ele agora entendia, mas não aceitava.

Ainda recusava-se a aceitar enquanto argumentava com os membros da sua própria companhia, se recusava a aceitar enquanto tentava explicar para o líder, seu melhor amigo. A aceitação veio com a espada que girava em sua direção, veio quando viu o homem mais honesto que conhecia desacreditar de suas palavras e o acusar de ganância. Os poderes que naquele mesmo dia haviam impedido o jovem, agora agiam sobre seus antigos companheiros. O jovem herói agora sabia, que a humanidade ainda não estava pronta para usufruir da magia. A tão sonhada liberdade só traria o caos. Ainda não estavam prontos. Alguém tinha que guardá-la até que estivessem.

A S Adams
Enviado por A S Adams em 07/11/2018
Código do texto: T6496399
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