O conto ainda sem nome {vrs 0.1}

Ele era um viajante, estava ali no povoado de passagem.

Ela estava na feira, vendendo especiarias, com sua mãe, como sempre fizera.

Ele andava por entre as barracas quando parou na barraca dela.

Ela o olhou e fiquei sem jeito ao ver aquele rapaz sedutor parado em frente a ela.

Perguntou-lhe o que desejava, ele continuo em silêncio, olhando a variedade que estava encima do pano.

Enfim, olhou pra ela e pediu um punhado de cravo e 3 incensos de canela.

Ela sorriu ainda sem jeito, e pegou o que ele desejava, colocou em uma sacolinha e entregou a ele.

Ele agradeceu e saiu andando, logo desapareceu da vista dela.

O dia acabou, e logo após o jantar, ela subiu correndo pro seu quarto e sentou no baú que ficava em frente a janela.

Ela ficara parte da noite olhando pela janela, pensando naquele homem misterioso que havia visto na feira naquela manhã.

Já estava quase amanhecendo quando ela se deu conta que precisava descansar pois iria trabalhar o dia inteiro.

Deitou-se, mas antes que pudesse perceber, sua mãe batia na porta do quarto, falando que precisava levantar, pois já estava tarde

e elas ainda precisavam arrumar um lugar na feira, para armar sua barraca.

Ela olhou pela janela, não havia sol, naquele dia começara o inverno e ela nem tinha se dado conta.

Vestiu sua roupa de frio e desceu as escadas correndo.

Nem tomou café da manhã, pegou as sacolas com as especiarias, deu um beijo na testa do pai, e saiu correndo atrás de sua mãe que já estava um pouco adiante.

Chegaram à feira, encontraram um bom lugar ainda para colocar suas coisas, e começaram o dia ali sentadas a espera de algum freguês.

E lá estava ele denovo, com aquele sorrisinho no rosto.

Ela quase pôde sentir o coração na garganta, ele a viu, sorriu para ela e parou em frente a barraca dela.

Ela levantou-se e perguntou no que podia ajudar, se controlava ao máximo para sua voz não sair tremida ou ele perceber que estava nervosa.

Ele pediu novamente um punhado de cravos e 3 incensos de canela, ela colocou tudo em uma sacolinha e entregou a ele.

Ao pegar a sacola, ele segurou a mão dela, e a olhou por alguns segundos que para ela, fora a eternidade.

Ele pagou e saiu andando com a cabeça abaixada.

De longe ela só conseguia ver o cachecol marrom dele sumindo na multidão.

Ela passou o dia apalpando e cheirando sua mão.

Tinha um cheiro diferente, uma essência que ela nunca havia sentido.

O dia finalmente acabou e a cena se repetira, ela sentou-se no baú em frente a janela e ficou lá olhando.

Não demorou muito para perceber um vulto na rua.

No principio ficou assustada, mas depois imaginou que fosse só coisa da sua imaginação, que estava cansada, e que precisava dormir.

Quando olhou novamente para rua, viu o vulto se aproximando e logo pode reconhecer aquela pessoa.

Viu o cachecol marron e achou que estivesse sonhando.

Olhava insistentemente para baixo, quando ele se aproximou o máximo que pôde e ficou olhando para janela, como quem quisesse falar alguma coisa.

Ela abriu a janela e perguntou se ele queria alguma coisa, se ela podia ajudar em algo. Ele disse que queria ela e perguntou-lhe se ela podia ajudar.

Ela não acreditou no que ouvia, os seus ouvidos estavam enganando-a.

Ela olhava pra ele. Ele sorriu. E pediu para que ela descesse até a rua.

Ela não acreditava muito que aquilo estava acontecendo, mas pegou um cachecol, vestiu uma blusa de frio, se calçou e desceu as escadas pisando leve para que ninguém acordasse.

Abriu a porta, e lá estava ele parado, a sorrir para ela.

Ele tinha os cabelos pretos, lisos, e uma mecha particular que caia sobre os olhos cor-de-mel , uma boca pequena, com dentes brancos e um sorriso que desconcentrava qualquer pessoa, era branco, e por conta do frio, estava com as buchechas coradas, ele era alto e forte, e parecia que quanto mais ia chegando perto dela, mas ela sentia que aquele homem tomava conta do corpo dela, sem nem ao menos tocá-la.

Ele se aproximou dela, e alisou os cabelos dela. Ela podia sentir aquele cheiro que passara o dia todo sentindo em sua mãos, mas agora o cheiro era mais forte, estava misturando-se ao seu cheiro.

Ele cheirou o pescoço dela, e riu. Disse que ela cheirava a canela.Exatamente como ele havia pensado.

Ela riu e disse que ele cheirava bem, mas que ela não conseguira definir o que era.

Ele disse que criava fragâncias e que aquela havia sido feita para ele.

Não falou o que continha na fragância, mas lhe mostrou o pescoço, e perguntou se ela queria sentir mais de perto o perfume.

Ela ficou tensa, não sabia como reagir, mas não conseguiu se controlar.

Cheirou o pescoço dele, fechou os olhos e viajou naquele cheiro.

Enquanto ela cheirava,ele devagar se aproximara da boca dela, e a beijou.

Ela nunca havia beijado ninguém, mas parecia que a boca dele fora feita para dela.

Encaixaram-se perfeitamente e ali ficaram beijando-se por algum tempo.

Ele perguntou se ela queria dar uma volta com ele.

Ela olhou para porta de casa, respirou fundo e disse que sim.

Ele saiu andando de mãos dadas com ela. E conversaram sobre a vida.

Ela contara a ele que sonhava estudar e se formar em medicina, queria ajudar os outros, mas que a família não tinha recursos para mandá-la para a escola. Ele disse a ela, que saira de casa muito cedo, que decidira viajar e conhecer todo o mundo antes de tomar alguma decisão mais formal em sua vida.

Eles sentaram perto do lago, e conversaram mais.

Ele a beijou novamente, mas desta vez, fora diferente.

Ambos sentiram que aquele beijo era um pedido de mais.

Ele a convidou para conhecer onde ele estava hospedado, ela aceitou.

Entraram pela porta do fundo da hotelaria, e subiram até o quarto dele. Da escada ela sentira um cheiro forte de canela e cravo.

Ela riu lembrando de como ele aparecera do nada na barraca dela para comprar aquelas especiarias.

Ele abriu a porta. Era um quarto pequeno, com algumas roupas espalhadas e alguns vidros e algumas especiarias em um cantinho iluminado por uma luz avermelhada.

Ela entrou e ficou parada perto da porta, ele pegou as roupas espalhadas e jogou todas em um mesmo canto.

Ele pediu desculpas pela bagunça, mas alegou que aquela bagunça era necessária no dia-a-dia dele.

Ela riu e disse que não tinha problema, ela não se encomodava com a bagunça.

Ele a convidou para se sentar.

Ela sentou na ponta da cama, ele olhou para ela e pediu para que fechasse os olhos.

Ela assim o fez.

Pouco tempo depois sentiu um aroma muito bom, o mesmo que sentira nas escadas, um mistura adocicada de cravo e canela.

Ela sentiu o aroma muito próximo e perguntou se já podia abrir os olhos.

Ele disse que sim, ele segurava um vidrinho transparente com um líquido avermelhado, ele perguntou se ela gostara do cheiro.

Ela balançou a cabeça, em sinal de sim, e sorriu.

Ele disse que estava fazendo aquela fragância pra ela, para que nunca se esquecesse do cheiro dela, porque para ele, no momento em que a viu pelo primeira vez da feira, foi essas as especiarias com que ela se parecia.

Ela corou novamente e percebeu que ele também estava com as buchechas coradas.

Ele a olhou novamente, intensamente, e ela retribuiu o olhar.

Ele a beijou, um beijo quente, em um ambiente diferente, com cheiro de cravo e canela e nada mais importava para eles.

Ele tocou a nuca dela e deixou que seus dedos passassem levemente entre uns fios que se encontravam ali.

Ela sentiu um arrepio, e ele sorriu ainda a beijando.

Ele levantou, desenrolou o cachecol do pescoço, e tirou a blusa de frio, permanecendo apenas com uma camisa de algodão branca.

Sentou-se novamente e a contemplava, passou levemente os dedos pela face dela, como se decorasse cada parte.

Ela já não hesitava, fechou os olhos e deixou-se envolver por aquele desconhecido.

As coisas aconteceram aos poucos.

Ele retirou cada peça da vestimenta dela, uma a uma, sem pressa, como se eles possuissem todo tempo do mundo.

Ela se encantava a cada sorriso, cada gesto dele.

Enfim, se amaram.

Fora a primeira vez dela, e parecia que ele fazia de tudo, para parecer a primeira vez dele também, mas isso não importava para ela.

O dia amanheceu, e ela sabia que tinha que voltar pra casa, deu um beijo na testa dele, e balbuciou um obrigada.

Vestiu-se, pegou seu cachecol, passou um pouco da fragância dele.

Quando estava no meio da rua, sentiu o coração palpitar mais forte, o vento estava congelante, mas ela não se encomodava.

O rosto estava totalmente vermelho, e ela sorria, sorria o tempo todo.

Entrou em casa, estavam todos à mesa, esperando por ela.

Ela disse um bom dia, pediu à mãe que a esperasse pois já desceria para que pudessem ir trabalhar, subiu para o quarto.

Sentou na cama, e pensou em tudo que havia acontecido. Cheirou o cachecol para ter certeza que não estava sonhando.

O cheiro dele penetrou-lhe as narinas e ela sorria, feliz por tudo que havia acontecido.

Enfim, desceu com a mãe para a feira, e esperava ansiosamente por aquele desconhecido, por aquele sorriso que alegrava seus dias de trabalho.

Mas ele não aparecera aquele dia, nem no seguinte, nem no outro...

Ela não ficou triste, ela sentava-se todos os dias na sua janela e lembrava daquele estranho que marcara para sempre sua vida.

Alguns dias depois recebeu uma encomenda, pegou a encomenda, e subiu correndo para seu quarto, quando abriu a embalagem, pôde ver que se tratava de uma caixinha marrom, abriu para ver o que havia dentro, e sorrira.

Gargalhava de felicidade, dentro da caixa havia um perfume que tinha o cheiro dele, um punhado de cravos, 3 incensos de canela, e um envelope, abriu o envelope e leu a carta: ' Das viagens que fiz você foi a melhor de todas. Obrigado por me fazer feliz e me desculpe por não ter ficado, mas essa é a minha vida, quando eu terminar de conhecer todo o mundo, eu te direi que já tomei a decisão mais formal da minha vida. À propósito, meu nome é Nac.'

***

Os anos passaram, e ela sorria e andava pelas ruas do vilarejo feliz com seu filho no colo... Alguns a olhavam de cara feia, a consideravam louca de ter se entregado a um desconhecido, mas ela não se importava com o que diziam. Um dia ela estava sentada na beira do lago, relembrando como aquele homem havia mudado sua vida, e a feito se sentir única, foi quando sentiu uma fragância muito boa no ar...

Viviane Heleno
Enviado por Viviane Heleno em 13/09/2007
Reeditado em 14/09/2007
Código do texto: T650450