INOCENTES E PARCEIROS DE CELA – 1ª FASE

Prólogo

Este texto, escrito em duas fases, é ficcional. Alguns nomes de pessoas, lugares e entidades foram trocados. Mas é claro que a realidade, às vezes, se baseia na ficção e vice-versa. Fatos reais são citados e com eles são usados artifícios ou enfeites literários. Os leitores argutos, ao lerem este escrito, saberão separar “o joio do trigo”, o real do surreal, e isso será ótimo para a compreensão do contexto.

“A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão.” – (Massimo Bontempelli).

“A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.” – (Fernando Pessoa).

SOBRE OS ENCARCERADOS JOSIAS DE FARIA E LUCRÉCIO DA SILVA

SOBRE LUCRÉCIO DA SILVA

Josias e Lucrécio estavam presos por motivos diversos e diferentes, mas interligados entre si pelos desvios de caracteres e condutas sociais associados a ambos. Lucrécio foi condenado em duas instâncias, sendo que a segunda ratificou a primeira condenação e aumentou a pena para doze anos e um mês.

As condenações sempre estiveram presentes na vida de Lucrécio da Silva. Na realidade, ele já nasceu condenado à morte, como tantos milhões de crianças de sua geração e do seu meio social, no Nordeste, condenadas à morte pela fome e pelas doenças vinculadas à pobreza. Ele mesmo perdeu três irmãos, que não conseguiram sobreviver a essa condenação. Lucrécio sobreviveu, superou essa primeira condenação. Por isso ele se considera um verdadeiro sobrevivente.

Desde cedo Lucrécio aprendeu a enfrentar condenações, a encará-las de frente e a superá-las pela fé e sobretudo por acreditar que, mesmo sendo um semianalfabeto era considerado pelos puxa-sacos e por ele mesmo o homem mais honesto do Brasil. Foi com essa crença e apoio dos pobres que Lucrécio conseguiu, depois de muitas dificuldades se eleger e reeleger presidente do Brasil.

SOBRE JOSIAS DE FARIA

As acusações de abuso sexual contra Josias, o JD (Alcunha aposto por seus fiéis), chegaram ao noticiário internacional. Veículos como a rede inglesa BBC, a emissora árabe “Al Jazeera” e o jornal espanhol “La Vanguardia” noticiaram as denúncias divulgadas pelo GLOBO e pelo programa "Conversa com Bial", da TV Globo.

Na BBC, sob o título "Josias: curandeiro espiritual do Brasil acusado de abuso sexual", a matéria relata que cerca de 12 mulheres acusaram o médium de cometer abuso sexual. O veículo destaca que, Josias tem seguidores no mundo todo e menciona a apresentadora Oprah Winfrey, uma das devotas mais proeminentes do médium. A “Al Jazeera” cita que, além do Brasil, a figura do médium tem ampla inserção nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália.

No “La Vanguardia”, a matéria "Reconhecido médium brasileiro é acusado de hipnotizar e abusar de suas pacientes" além de citar as acusações de abuso sexual, destaca o fato de Josias já haver atendido pessoas como o ex-presidente Lucrécio da Silva. De acordo com os relatos das mulheres que denunciam os abusos, Josias seguia um padrão, fazendo com que elas fossem direcionadas pela entidade que dizia incorporar para uma conversa em particular, em uma sala privada com banheiro e espelhos.

AS SUPOSTAS BOLINAÇÕES DE JOSIAS

Segundo os relatos ouvidos pela mídia e investigadores, Josias apalpava ventre, seios, coxas e nádegas das mulheres e as obrigava a tocar seu pênis. Pelos inúmeros depoimentos das supostas vítimas, a inserção do "apito" do acusado entre as coxas e/ou na boca das consulentes (alusão às supostas bolinações e ao sexo oral com as fiéis) era feito com o propósito de chamar anjos e/ou espíritos de luz para curar graves doenças e/ou infecções.

Meu amigo Henrique, eu o considero meu dicotômico, sempre diz:

“Às vezes a pessoa está tão frágil que acredita em quaisquer coisas. Essa é a melhor prova de uma verdade incontestável: O ópio dos desesperados é a religião.”.

Por essa citação oportuna e pertinente minhas sinceras escusas aos religiosos sérios e comprometidos com os usos e costumes sempre de acordo com as conveniências pessoais, familiares, financeiras e sociais.

A NOTÁVEL E NOBRE MISSÃO DA JUSTIÇA

A força-tarefa, criada pelo Ministério Público, para apurar as acusações de abuso sexual contra o suposto médium Josias de Faria, o JD, já recebeu mais de quinhentos e noventa relatos de mulheres que denunciam crimes sexuais envolvendo o acusado.

OS SUPOSTOS INOCENTES PARCEIROS DE CELA

Por comprovada ignorância quase todos os criminosos, em que pesem as provas serem fortes e incontestáveis contra eles, negam seus crimes! Eles não sabem, não querem ou não são orientados por seus advogados para obterem os benefícios penais concedidos por conta da confissão.

Ora, todo criminoso sabe ou deveria saber: Preestabelece o artigo 65, inciso III, alínea "d", do Código Penal, que a confissão espontânea da autoria do crime, perante autoridade, é circunstância que sempre atua a pena. Assim, a princípio, entende-se que se o agente confessar espontaneamente a autoria do fato delituoso, em presença de autoridade, faz jus à circunstância legal genérica de redução de pena.

O reencontro entre Lucrécio e Josias não era para ocorrer em uma cela própria para condenados porque um desses supostos criminosos ainda está sob investigação e não fora, ainda, condenado. Era o caso do Josias, mas devido as idades (ambos acima dos setenta anos) o juiz das execuções houve por bem coloca-los numa mesma cela devidamente preparada para ouvir quaisquer diálogos ocorridos no interior do cubículo. Tão logo se decretou a prisão preventiva de Josias Lucrécio foi avisado que teria um companheiro para ouvir seus queixumes.

Observação: Este texto terá continuidade na 2ª fase.