INOCENTES E PARCEIROS DE CELA – 2ª FASE

Prólogo

Este texto, escrito em duas fases, é ficcional. Alguns nomes de pessoas, lugares e entidades foram trocados. Mas é claro que a realidade, às vezes, se baseia na ficção e vice-versa. Fatos reais são citados e com eles são usados artifícios ou enfeites literários. Os leitores argutos, ao lerem este escrito, saberão separar “o joio do trigo”, o real do surreal, e isso será ótimo para a compreensão do contexto.

“Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.” – (Sigmund Freud).

“Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas.” – (Jean-Paul Sartre).

O DIÁLOGO ENTRE DOIS SUPOSTOS INOCENTES

– Boa tarde colega! – Disse Josias cumprimentando o outrora anarquista líder sindical.

– Boa tarde! Já nos conhecemos. Você já me atendeu na sua cidade. Que merda foi essa em que se meteu? – Lucrécio parecia estar mal-humorado. A proximidade dos festejos natalinos estava mexendo com os nervos do ancião.

– Não me meti em merda nenhuma. Sou tão inocente o quanto você. A diferença entre nós dois é que você já foi condenado em duas instâncias e eu estou em prisão preventiva sem nenhuma necessidade. Assim me informaram os meus advogados.

Uma risada inesperada foi ouvida. A língua bifurcada que parecia presa soltou-se numa gargalhada estrondosa.

– Inocente? Você é inocente? Com mais de quinhentas e noventa acusações de abuso sexual, armas de calibres diferentes, sem registros, com números raspados, muito dinheiro escondido em guarda-roupas com fundo falso, fabricação de medicamentos sem a ANVISA saber? Ora, Josias. Não subestime minha inteligência. Sou pouco letrado, mas não sou burro! Estamos, você e eu encalacrados! Mas minha situação é diferente da sua porque estou sendo vítima de um complô político!

Ademais, confiei em quem não devia ter confiado, falei ao telefone um monte de verdades que não poderia falar e deu no que deu. O seu caso é tão grave, talvez até mais grave do que as acusações a mim impostas. Mas não sou ninguém para lhe condenar. Estamos num mesmo barco, isto é, numa mesma cela e temos mais é que nos unir contra esse sistema acusatório sem provas.

– Complô político? Sem provas contra você? Ora, Lucrécio o Brasil nunca teve um presidente sem estudo nenhum e que houvesse ficado tão rico, assim como toda a família, em tão pouco tempo. É claro que você não foi presidente de porra nenhuma! Você foi um fantoche nas mãos de seus comparsas espertos e letrados colocados em funções elevadas, mas que pudessem enriquecer, afundar o país e lhe manter sob controle com presentes, alguns insignificantes, mas danosos e outras migalhas não menos comprometedoras.

Lembra-se do “Italiano” que todos pensavam ter a língua presa igual a sua? Pois é... Os homens de preto prometeram algumas regalias e o cara está soltando a língua e cacarejando mais do que galinha d’angola. Mas afinal, como estão lhe tratando aqui nessa espelunca?

Observação oportuna e pertinente deste autor: O Italiano era o Palocci, assim disse um executivo da Odebrecht em depoimento.

– É... O Palocci é apenas mais um dos traidores. Os companheiros que estão nessa vigília, fora de nossa cela, são inocentes úteis e puxa-sacos a espera de um milagre. Aqui me tratam bem. Os carcereiros até me chamam de presidente e isso alimenta minha vaidade, eleva minha autoestima. Na primeira semana de cana quase enlouqueci.

Estou nessa vida miserável desde abril deste ano de 2018, há quase oito meses, já me acostumei. Mas é duro você passar oito longos anos sendo comandante das Forças Armadas, sendo chamado de doutor, senhor presidente; recebendo continências de almirantes, brigadeiros e generais; bebendo os melhores uísques, vinhos, licores e cachaças; recebendo convites e presentes de governantes do mundo inteiro; sendo agraciado com títulos e honrarias, merecidas ou não; tendo todo o poder que tinha e depois de alguns tropeços meus e de alguns, hoje ex-companheiros, sanguessugas (anelídeos), covardes e traidores estar numa situação dessa.

Só os puxa-sacos e assemelhados me visitam! As autoridades de outrora não mais me querem ver. Ninguém quer se contaminar! É difícil companheiro. Muito difícil. Fiquei rico porque depois que sai da presidência ministrava palestras pelo mundo todo... – Nessa ocasião um leve muxoxo assomou os lábios do velho de pálpebras caídas. Parecia estar exausto. Tentou cofiar a barba rala com os quatro dedos da mão trêmula esquerda. Percebeu que as unhas estavam grandes e sujas, desistiu.

– Mas me conte sobre você. Abusos sexuais até com adolescentes, armas com números raspados e algumas munições, muito dinheiro escondido, inclusive em moedas estrangeiras; fabricação de medicamentos sem a ANVISA saber... Como pretende se livrar de tantas acusações querido?

– Palestras? Ora, Lucrécio você mal sabe assinar o próprio nome. Como pode ministrar palestras? A PF até já sabe quem pagava e porque pagava por essa embromação... – Nesse instante ouviu-se um riso meio tímido tal qual sorriso sardônico de Josias que continuou falando:

– É verdade. Vamos nos unir sim. Não sei se meus advogados vão conseguir sensibilizar os juízes para que me concedam o “Habeas Corpus”. Igual a você estou alegando absoluta inocência. Ora, um médico precisa tocar em seus pacientes. Sou um médium que faz cura espiritual pelo toque no corpo das pacientes. Ademais, se elas voltavam é porque gostavam do meu tratamento. Estou certo ou estou errado?

Ah! E você viu a trapalhada que seus companheiros petistas, simpatizantes, "pobres" e anarquistas do MST fizeram? Viu a faixa com os dizeres: “Tirem as mãos de Lucrécio!”, os militantes, os “inocentes úteis” como você os chama, esqueceram que você já tem um dedo amputado e que por mais que tenha cometido crimes, tentado afundar a nação, não é assim que se pune pessoas em uma democracia saudável como a do nosso Brasil.

Nesse momento Lucrécio levou o dedo indicador da mão direita aos lábios e o indicador da mão esquerda apontou para a orelha esquerda. Com esse gesto silencioso ele queria dizer que “as paredes têm ouvidos”. De fato. Horas antes da chegada de Josias, durante a saída de Lucrécio para o “banho de sol”, a cela foi equipada com microfones ultrassensíveis para captar as conversas dos companheiros de cela.

– Ah! Esse negócio da faixa com frase errada é coisa de incompetente! Aliás, sempre estive rodeado de muitos puxa-sacos e incompetentes. Por falar em frase errada já pensou se seus fiéis resolverem fazer uma faixa para lhe homenagear dizendo:

“Tirem o 'apito' brinquedo dele, mas soltem nosso guru!".

– Isso seria péssimo! Nesse caso você não mais mandaria as consulentes soprarem seu 'apito' para chamar anjos ou espíritos e teria que aprender a mijar sentado. – Lucrécio fez um ar de riso. Josias fez um esgar como se estivesse sentindo uma dor lancinante na virilha.

Uma gostosa gargalhada se fez ouvir nos frios corredores da carceragem da PF e na sala à prova de som, local onde se encontravam os gravadores da conversa, os agentes (homens de preto) também deram risadas com o teor do papo entre os supostos inocentes Lucrécio e Josias.

– Tá certo colega. Vamos nos manter cada vez mais unidos e falar menos sobre nossos pecados capitais. Precisamos acreditar no milagre de um indulto. Você ainda tem essa chance, mas eu, com uma segunda preventiva nas costas, dificilmente sairei dessa encrenca ileso.

Se eu for condenado em pelo menos trinta dias por denuncia feita vou ficar trancafiado por pelo menos cinquenta anos! Ora, já tenho setenta e seis anos. Maldito ‘apito’ para chamar anjos! Maldita luxúria! Malditas pedras preciosas e maldita cupidez!

– Não sei o que é cupidez, mas gostei dessa palavra. Parece ser algo muito bom... É algo relacionado a cupido? Só sei que o companheiro que perdeu as eleições de outubro iria me conceder o indulto, mas o maldito leviano cometeu a tolice de prometer o que não podia cumprir. O incompetente fez promessas inconsequentes, levianas, insanas e desesperadas do tipo:

“Reajuste de 20% na Bolsa Família e congelar o preço do gás de cozinha (botijão com 13 quilos) em 49 reais”!

Segundo o meu entendimento e o de milhões de eleitores essa foi a gota d’água que deu início a derrocada do despreparado candidato. Acho que o nosso partido se ferrou, está acabado querido.

CONCLUSÃO

Assim trabalham as forças regulares. Preparam suas celas instalando escutas e gravando conversas de criminosos que se aproveitam das leis fracas para permanecerem em silêncio ("nemo tenetur se detegere" (o direito de não produzir prova contra si mesmo)) durante os interrogatórios. Fazendo isso eles podem aprofundar as investigações e fazer uma colheita de provas mais robustas.

Espera-se que o presidente eleito para os próximos quatro anos 2019 a 2022 seja capaz de consertar a bagunça de hoje reinante. Queremos e devemos trabalhar por uma nação próspera, que inspire confiança para os investidores estrangeiros. Desejamos construir e formar uma sólida base para os anos futuros. Enfim, eis a transcrição de Sua Excelência, o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro:

“Fui escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro. Pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um dos nossos principais compromissos de campanha. Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último.” – (Palavras de Jair Messias Bolsonaro).

A concessão de perdão de pena pelo presidente da República está prevista na Constituição Federal no artigo 84, parágrafo 21, que diz respeito às atribuições da cadeira. De acordo com o texto, compete ao chefe de Estado “conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei “.

Felizmente o presidente Michel Temer num felicíssimo "insight" ou muito bem assessorado pela primeira-dama Marcela, não vai (não vai?) assinar o indulto de Natal neste ano. A informação foi confirmada pela Secretaria de Comunicação do Planalto nessa 2ª feira (24/12/2018).

Tomara que não, mas é claro que Michel Temer pode, pelo uso do livre-arbítrio, voltar atrás e conceder o indulto natalino de 2018, contrariando a supracitada informação da Secom. Se Temer seguir a orientação de Marcela será considerado um paladino combatente de primeira linha contra a benevolência da lei. Caso resolva contrariar o assessoramento da primeira-dama Marcela será considerado "farinha do mesmo saco" se igualando aos criminosos nessa última decisão insana.

Portanto, com essa sábia ou não decisão de Temer, excelsa ou medonha capacidade de discernimento ou compreensão súbita de alguma coisa ou determinada situação, continuarão ou não encarcerados e encalacrados, dezenas de criminosos. Quanto aos supostos INOCENTES E PARCEIROS DE CELA LUCRÉCIO E JOSIAS vão continuar esperando uma mudança de rumo (situação) provocada pelo Egrégio STF para serem liberados.