OS QUEIXUMES DE LUCRÉCIO DA SILVA

Prólogo

Talvez fosse desnecessário escrever que este texto é ficcional. Escrevo porque isso me convém. Aliás, explico que há nomes trocados e verdadeiros sendo citados respeitosamente. Já alguns fatos reais foram elencados e isso também é conveniente em nome da ética e do respeito às situações dos envolvidos na trama.

"A preservação dos direitos de expressão deve ser assegurada em qualquer meio de comunicação, incluindo a Internet. Todavia, essa informalidade não deve significar a liberdade total para se escrever ou dizer o que se quer e ofender as pessoas, causando danos morais." – (Wilson Muniz Pereira).

“Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.” – (Marquês de Maricá).

“Os queixumes dos encarcerados, dos impedidos de exercerem o livre ato de cidadania como por exemplo votar e ser votado ou o simples direito de ir e vir... São na verdade vitimismo e autocomiseração já arraigados nos espíritos dos culpados.” – (Wilson Muniz Pereira).

LAMENTAÇÕES DE UM APEDEUTA HONESTO ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO

Estou nessa vida miserável desde 7 de abril de 2018. Ainda não me acostumei, mas já estou relaxando. Acomodado, não faço regularmente a barba, não penteio e tampouco corto os poucos cabelos que me restam. A desídia é tão forte que não corto nem limpo as unhas.

Dizem ser esses desleixos fortes sinais de depressão. Não creio. Sempre fui assim meio pachorrento. A verdade é uma só: Sou preguiçoso mesmo. Não leio nada, não estudo e nunca gostei de trabalhar, mas sou honesto até que se prove o contrário.

Sabe querido... É duro você passar oito longos anos sendo Comandante-Chefe das Forças Armadas, sendo chamado de doutor, senhor Presidente; recebendo continências de Almirantes, Brigadeiros e Generais; bebendo os melhores uísques, vinhos, licores e cachaças; recebendo convites e presentes de governantes do mundo inteiro; sendo agraciado com títulos e honrarias, embora reconheça não ser eu merecedor; tendo todo o poder que tinha e depois de alguns tropeços meus e de alguns, hoje ex-companheiros covardes e traidores estar numa situação dessa.

OS QUEIXOSOS SÃO OS PRIMEIROS A SEREM DESACREDITADOS

Dizem que: “Estar por cima ou por baixo o prazer é o mesmo quando se sabe mexer”. Isso é uma grande mentira! A verdade é uma só: Joguei mal. Não fiz a coisa certa. Acho que me envolvi demais com os endinheirados e fui mal assessorado.

Eu sei que “Para o mal jogador de futebol até a bola atrapalha”. Hoje estou por baixo e estou me sentindo muito desconfortável. É como se um peso enorme estivesse sobre mim. Esse peso descumunal tem um nome: CULPA ou REMORSO. Eu devia ter lutado contra a minha medonha cupidez.

As autoridades, amigos de outrora, não mais me querem ver. Igual a um absorvente feminino usado ou fralda de bebê com disenteria fui usado, explorado, e agora jogado fora. Não querem se contaminar! Mas honestidade não é doença! Sou honesto até que se prove o contrário!

Na ceia de Natal os amigos e as famílias sempre se reúnem para uma confraternização, mas eu fui rejeitado, esquecido. No meu jantar natalino frio, insosso, e sem ao menos uma promessa de liberdade provisória (alguém me disse, depois de meus queixumes caírem na "web", que não existe “liberdade provisória”, mas sim prisão temporária ou provisória) ninguém foi capaz de me fazer esboçar um sorriso. Só compareceram e ficaram a distância drapejando bandeiras alguns poucos lacaios do MST e alguns pobres inocentes úteis nordestinos iguais a mim.

Notei as faltas das companheiras e companheiros que não podiam faltar ao meu jantar de Natal: A Gleisi, a Rosário, o Haddad e o Lindbergh. Esses são especiais e não poderiam me decepcionar.

A Gleisi mandou dizer que estava com cólicas e dor de cabeça; a Rosário depois de perder horas à procura dos óculos e um diadema (ornato para cabelos), compareceu a uma outra ceia farta e em local seguro e confortável com familiares; o Haddad e o Lindbergh desapareceram, mas foram vistos velejando em direção à Ilha das Cobras, com fortes crises de soluços e refluxos gástricos. Abraçados, ambos cantavam um refrão já conhecido:

“Ai... Ai... Ai.... Ai... Ai... Ai... Está chegando a hora. O dia já está raiando meu bem, eu tenho que ir embora...”. – (Música: Está Chegando a Hora – Composição: Rubens Campos/Henricão – 1942).

CONCLUSÃO

A vida aqui neste cárcere é difícil. Muito difícil. Para completar minha infelicidade leram para mim (não li porque não leio nada mesmo. Eu já disse em entrevista noticiada em cadeia nacional que sou preguiçoso em demasia) o que um nordestino metido a escritor escreveu sobre a minha ceia natalina.

Dizem que o cara fala e escreve feito um orador e escritor sério, mas isso não dá a ele o direito (ou será que dá?) de escrever verdades (infelizmente admito que ele está certo) ao meu respeito ou sobre meus atos. Leiam o que esse tal de Wilson Muniz Pereira escreveu, depois de explicar o significado de LIBERDADE DE EXPRESSÃO, como se fosse uma previa autodefesa.

SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Recebe o nome de liberdade de expressão a garantia assegurada a qualquer indivíduo de se manifestar, buscar e receber ideias e informações de todos os tipos, com ou sem a intervenção de terceiros, por meio de linguagens oral, escrita, artística ou qualquer outro meio de comunicação.

A CEIA DE NATAL DE LUCRÉCIO

“Na iluminada noite de Natal.... Enquanto uns esperam a chegada do surreal bom velhinho Papai Noel, outros vão à Curitiba, atrás do real mau velhinho para lhe desejar saúde, paz, arrependimento e que se mantenha cauteloso quando falar ao telefone com os comparsas. As ausências importantes na ceia de natal de Lucrécio simbolizam claramente o fracasso do projeto criminoso e o abandono do apedeuta mais honesto do país.”.

Não sei o significado da palavra ‘apedeuta’ e perguntei a todos os carcereiros da PF e a outras pessoas desconhecidas visitantes, mas ninguém tinha um dicionário nem sabia do significado dessa palavra tão estranha.

Tô arretado com esse escritor conterrâneo, mas rendo minhas homenagens a ele pelas frases que dizem: “... que se mantenha cauteloso quando falar ao telefone com os comparsas.” e "... o abandono do apedeuta mais honesto do país.". Sim. Sou honesto sim. Não duvidem de mim!. Dessa parte eu gostei!

Minha atual situação tá doendo muito. Quando eu sair daqui vou ser mais cauteloso ao telefone quando falar com os queridos companheiros e estudar, não sei se conseguirei, para saber o significado, já que ninguém soube me explicar, da palavra "apedeuta".