A morte do amor

A MORTE DO AMOR

E, finalmente, o amor morreu.

Todos estavam boquiabertos e incrédulos, pois ele era jovem, grande, forte e cheio de fantasias. Acho que essa última foi a derradeira, fantasia não traz saúde, pelo contrário, traz somente ilusão.

Foi sepultado numa manhã de segunda. Logo segunda, dia que se inicia a semana e onde se tenta colocar em prática todas as promessas. Promessas, ah, promessas! Promessas foram desfeitas enquanto o amor ainda vivia. E, a partir disso, foi ficando sorumbático. Mas, voltando a questão da segunda, acho um dia muito esquisito para morrer algo tão importante.

Foi difícil de enterrá-lo, pois ainda tinham dúvidas se estava morto de verdade. Vai que ele acorda em meio ao velório. Seria um estardalhaço que só.

Isso porque havia rumores de que ele tinha morrido no passado. Mas, não, ele só tinha ficado adormecido por uns anos e, por isso, ficou esquecido num baú de recordações. E ainda haviam as impressões de todas as lembranças felizes.

Um misto de incredulidade pairava sobre o ar. Houve desespero com lágrimas sinceras vindas do coração de quem o sentiu de verdade. Mas, tiveram muitas lágrimas falsas de quem já havia tratado o amor com deslealdade.

Tentava-se, de todas as maneiras, fazer o amor ressuscitar através de áudios, fotos e palavras que foram ditas no auge do desejo. Em vão. Era um caminho sem volta.

O amor estava morto e foi sepultado com todas as honras merecidas. Momento solene, algo comovente, digno de um "grand finale", com todas as glórias inimagináveis.

A única preocupação é que ele não cisme de ressuscitar depois de ter sido enterrado.

Vivi Peixoto
Enviado por Vivi Peixoto em 03/01/2019
Código do texto: T6541891
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