Ragnarök

Pela primeira vez depois de tantos séculos presenciamos raios incendiarem a noite, e isso era o presságio que todos nós esperávamos. Há pouco podia-se ouvir cânticos antigos que cessaram assim que o som do martelo começou a rasgar o céu. Os cães fazem silêncio absoluto. As lâmpadas oscilam. Há esta altura estão todos um pouco assustados, junto-me à eles e não consigo disfarçar minha euforia. Os mais jovens não perdem tempo e começam uma orgia ali mesmo, na nossa frente. Vasculho rapidamente aquele salão, vejo um homem gordo com uma garrafa cheia de uma bebida escura, tomo-a de suas mãos e à bebo em fartos goles. Depois alguém a toma de mim, não prestei bem atenção de quem se tratava, e nem me importo muito com isso. Minutos depois vejo a garrafa sendo passada de mão em mão em meio aos jovens nus, observo suas fisionomias, a virilidade suave dos garotos em contraposição a selvageria inocente das garotas, todos excitados demais, todos se lambuzando do mesmo júbilo dos deuses. Ah, quão sortudos nós somos. Observo-os entretido por alguns instante depois volto à me distrair com os trovões lá fora. Uma única palavra ressoa freneticamente na minha cabeça: Ragnarök!