Encontro entre "amigos"

Esta história começa em uma varanda, numa casa de madeira. Em outra um velho cochila em sua cadeira de balanço. As duas com vista para uma rua pacata, com crianças brincando em algum jardim. Todo normal, a não ser para nosso local em especial.

Quatro cadeiras brancas, de ferro, com almofadas vermelhas. Uma mesa em conjunto com as cadeiras, estilo antigo, entalhada cuidadosamente por mãos hábeis. E cinco jovens.

Dois sentados em um banco de balanço, preso ao teto duas por grossas correntes. Conversam alegres, coisas tolas, entendidas somente aos participantes de seu contexto, sobre deuses inventados em suas férteis imaginações. Adoram literatura e sempre estão tentando acrescentar novas histórias a ela. Denominam-seNaru e Janus.

Dois outros sentados à mesa, vestidos de preto, com roupas totalmente fora dos padrões e do ambiente. Saboreiam um delicioso chá de camomila e alguns biscoitos colocados cuidadosamente numa tigela de prata. Não falam, somente comem e pensam, enigmáticos. Cabelos compridos e olhos penetrantes. Lesfar eTherra.

Inane sai pela porta com mais biscoitos, alegre como sempre fora. Blusinha verde e calça jeans justa. A mais descontraída do grupo, parece ser também a mais satisfeita com o encontro. Serve os biscoitos aos dois sentados ao banco e pára para observar os sentados à mesa. Combinam com a música.

Perturbando o delicado silêncio da rua duas caixas acústicas tocam um som pesado, mas que agrada aos cinco, fora escolhida em conjunto para que não houvesse desgostos. Um tipo de música jovem e um pouco depressiva, importante para o momento e para os que ali estão. Uma música termina e outra começa, seguindo o mesmo estilo.

O banco de balanço movimenta-se para frente e para traz, os que neles sentam parecem estar felizes. A animada conversa continua vagando pelos deuses e com esses várias histórias são inventadas.

A bandeja contendo biscoitos é depositada na mesa e ali fica. Quem a carregava pega uma xícara e a enche de chá. Adoça-o. Está feliz, tem seus amigos por perto, pessoas que há anos não vê, e eles ali é bom. Uma das melhores coisas que lhe aconteceram nos últimos anos. Mas algo a perturba pois nem tudo é como imaginava.

Os dois à mesa estão de cabeça baixa. Um com os cabelos amarrados e o outro prendendo os seus com a mão. Tomam chá, beliscam alguns biscoitos mas nada dizem. Não olham para nada além do vago de suas próprias mentes. Escutam a música, prestam a atenção nela e viajam na mesma.

Inane olha-os indignada. São esquisitos, não conseguiriam se entender e se divertir juntos nem mesmo em mil séculos. Tem que fazer algo, não pode ficar somente a observar o encontro acabar como começou; são seus amigos, esquisitos, mas amigos e por isso deve fazer algo.

- Aqui, comam mais – O que diz não é uma grande coisa, mas faz com que prestem atenção em si.

Lesfar e Therra pegam mais um biscoito cada. Therra leva o seu a boca e segundos depois faz expressão de desgosto. Lesfar toma outro gole de chá.

Inane percebe a desaprovação de Therra pelo seu alimento, mas nada diz. Olha para Lesfar, esse ainda não havia provado. Volta para Janus e Naru, vê que ainda seguram alguns biscoitos, mas não se lembra de quantos pegaram. Pensa em provar um, mas Therra lhe dirige a palavra primeiramente.

- Isto aqui está uma porcaria – Diz Therra.

Todos se voltam para ele espantados, ninguém diria algo assim, pensam, mas ele disse, o que causou uma gota de lágrima na face deInane.

Isto está ótimo – Responde Lesfar mastigando um.

Inane sorri para ele, pode realmente estar ruim, mas seu gesto a faz alegrar-se. Naru levanta do banco, vai até o parapeito da varanda e joga os seus na grama. Inane vê e fica ainda mais revoltada. Como pôde seus amigos fazer isso com ela? Com certeza mudaram muito desde a última vez que se viram.

- Com certeza está muito ruim – Diz Naru.

Janus percebe o que está por acontecer, levanta e vai até o aparelho de som. Muda as músicas que no momento tocam para outras mais pesadas e rápidas, no estilo metal, depois se planta na porta de entrada da casa.

Inane põe-se a chorar, debruça na mesa, abaixa a cabeça e ali fica. Naru puxa a quarta cadeira da mesa, a coloca ao lado de Therra e se senta, olhando triste sua amiga, pois agora começa a se arrepender do que fizera.

Lesfar e Therra levantam ao mesmo tempo encarando-se. Olham-se enraivecidos e um soca a mesa. O sangue ferve e os dois se afastam do grupo. As garotas estão assustadas, o soco dado na mesa fezInane pular da cadeira e agora as duas observam os dois que parecem prestes a matarem-se.

Janus entra novamente. Lesfar e Therra se avançam, um tenta um soco, mas o outro esquiva e ataca com um chute que é bloqueado. Estão cara a cara e com a adrenalina subindo quando Janus aparece novamente. Carrega duas espadas estiloninja; uma encravada com pedras vermelhas e a outra com pedras verdes. As duas detalhadas as ouro.

Quando Inane as vê prende um grito na garganta. As conhece e sabe que são perigosas. Um dia, em sua freqüente curiosidade quis testá-las, ver se realmente continham fio; somente ao encostar a lâmina cortou-se. Ficavam presas à parede, como troféu, sobre a lareira e imaginava nunca saírem dali.

As espadas são pegas pelos duelistas que as desembainham, revelando suas brilhantes lâminas. Põem-se em posição de ataque, cada um ao seu modo. Ficam assim por algum tempo, até que Naru, sem querer, deixa cair uma xícara e assim inicia a luta.

Um deles dá o primeiro golpe enquanto o outro se defende bloqueando-o a poucos centímetros de seu pescoço. Retomam a posição inicial e desta fez o defensor se torna o atacante, mas erra, acertando um dos troncos que sustentam oteto da varanda. A luta poderia acabar nesse momento, mas o adversário espera que retire a sua espada para assim continuarem.

As garotas estão apavoradas, encolhidas em um canto, Janus ri da situação é como assistir a algum filme, mas extremamente real.

A música ambiente é novamente mudada. A de agora tem um inicio lento e apavorante. Os dois parecem estar em sincronia com essa, cortando o ar com suas lâminas de acordo com o ritmo. Uma nota, um golpe, um compasso e somente os dois vêem o que acontece.

A varanda se torna um tanto pequena para a fúria que os domina e acabam entrando na casa, quase acertando Janus que se encontrava na porta de entrada.Destroem móveis, quadros, jarros e outros pertences do lar. Não têm consciência do que fazem, somente pensam em morte, destruir seu inimigo.

- PAREM – Naru aparece na porta e grita.

Os dois estacam e olham para ela. O que está com os cabelos amarrados tem a lâmina de seu adversário em seu pescoço que os corta. Enfurece-se e chuta o adversário para dentro da cozinha, fazendo-o cair ao lado do fogão.

O que é chutado, no momento em que cai corta com sua lâmina a mangueira do gás, que o deixa vazar.

O que tivera seus cabelos cortados entra na cozinha com um tufo de cabelos na mão esquerda e a espada na direita e tenta um outro golpe ao que está caído, mas esse bloqueia o ataque. O encontro das duas lâminas provoca faíscas, o que incendeia o gás, levando todos a morte por meio do fogo.Tudo explode, da casa resta somente cinzas.

Uma das crianças que brincam em algum jardim é atingida por um pedaço de madeira em chamas e morre.

O senhor que se encontrava na varanda de uma casa tem um ataque cardíaco e morre.

Do cachorro do vizinho somente resta o rabo. Caçava um gato no porão da casa. O gato sobrevive, gastando seis de suas vidas.

Na preparação da última fornada de biscoitos Inane trocara o açúcar pelo sal em metade deles. Lesfar somente provara os com a receita correta.