O Pequeno Meândrico

Eu me via perdido; milhares de vozes entrando e saindo da minha mente. Esses pensamentos intrusivos sempre me perseguem, e medo é o que eu tenho; medo para onde eles vão me levar.

Como sempre, ao andar pela rua, as pessoas me encaravam.Tanto por medo, quanto por respeito, estando, muito provavelmente, já cientes de meu poder.

Meses atrás, como de praxe, assaltei um banco e, por infortúnio meu, câmeras me filmaram no momento exato que utilizei meu poder. A polícia não conseguiria me prender, sendo assim eles desistiram de me perseguir. Porém, notícias e mais notícias acerca de mim foram ao ar, e o mais novo assunto do momento se fez.

“Um novo garoto amaldiçoado apareceu”, eles diziam.

Porém, não podia eu discordar.

Uma maldição era o que havia dentro de mim.

Caminhei por horas e horas, até parar em um pequeno arrozal.

A noite estava realmente fria naquele lugar e, na verdade, nem eu mesmo sabia o que estava fazendo parado ali. Apenas ouvindo o sibilar dos pássaros e a brisa lúgubre que passava por aquele lugar, meu peito se apertou e as vozes tornaram a surgir.

“Liberte-me.”

“Deixe-nos sair.”

“Não nos aprisione.”

Mais e mais vozes, se acumulavam umas nas outras.

Elas pareciam furiosas, mais do que o normal. Tão incisivas como estavam, decidi soltá-las.

Um choque percorreu pelo meu corpo, e uma luz avermelhada cintilou à minha frente.

Era raiva.

Fiquei pasmo. Nunca antes eu houvera feito tantos clones de mim mesmo; eu estava fascinado e horrorizado.

Fascinado pelo meu poder, e horrorizado pelos rostos que eu via.

Olhos sem vida; uma risada estremecida. Eu via no olhar de todos eles os olhos de um assassino.

Um breve silêncio se fez naquele lugar, mas interrompeu-se no momento que um de meus clones agarrou o pescoço de outro e matou-o logo em seguida.

Me senti horrorizado. Eles estavam matando uns aos outros. Sangue. Grito. Desespero. No olhar de todos que morriam eu sentia uma vida pulsando e que se esvaia logo em seguida.

Quando, por fim, restou apenas cinco, eles se voltaram para mim. Seus olhos inflamaram de raiva ao me ver.

Um funesto silêncio se fez.

Meu corpo estremeceu.

Eu já sabia o que haveria de vir.

Milene Ambrósio
Enviado por Milene Ambrósio em 28/07/2019
Reeditado em 28/07/2019
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