Gênesis Recriado

O silêncio quebrado por um som suave de águas trazia a calmaria que parecia afastar todo o medo. O canto dos pássaros se dispersava com o vento suave que movimentava as árvores e os cabelos na paisagem de uma realidade maravilhosa.

Um ganso se aproximava e se deliciava ao molhar suas penas num momento de encontro com a natureza em um belo porto. Um convite tropical para ver o alimento da arte. Na boca, o sabor de nossos gostos e caprichos, plenos de poesia. Sem sapatos e roupas, os pés percebiam a terra molhada entre a sola e os dedos.

Por um instante um sonho me vem a mente, como um ritual de fertilidade em que debaixo dos meus pés ao invés de areia são colocados ovos de codorna e esses cacos de ovos comidos por mulheres geravam seres em seus ventres, que voavam dentro do útero, como um último pedido de liberdade.

As mulheres grávidas não davam luz mais aos filhos, mas chocavam filhotes de pássaros, implorando perdão por toda a humanidade que destruiu o ar e as plantas com suas ganâncias e excessos de desejo pelo poder. Homens acharam que podiam tudo até um dia necessitarem se render aos gritos da natureza.

Estes novos pássaros-meninos cresciam com o segredo de preservar o meio-ambiente, criar novos mitos e recuperar uma cultura nômade que tirava o alimento da Terra, mas esperava ela se recuperar para dar novos frutos. Esses seres não tinham história, nasceram para criar um outro homem e limpar o céu vermelho de tanto sangue.

Eles seriam capazes de transformar as cores do medo em esperança e as pedras em sementes. Sobrevoavam labirintos em busca de uma nova razão. Os ventres prenhos de criatividade das meninas-pássaro que se fizeram mulheres passaram a gerar inspiração e canto em toda parte até alcançar uma multidão de anjos capaz de limpar os céus com toda a pureza de um ser naturalmente livre em noites de claridade e frenesi.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 27/09/2007
Reeditado em 30/05/2008
Código do texto: T670782