O Encontro

Era ainda muito cedo e o som rouco e monótono da moagem do trigo, levantava-se sobre a aldeia. Ao longe, os ondulantes campos de cevada, já preparados para a sega, recebiam os primeiros camponeses, com suas foices gastas e suas roupas miseráveis, mas o ânimo fortalecido. Os asnos esperavam dóceis, pela carga que deveriam transportar.

Sentado á beira da estrada que levava a Betânia, eu brincava com os seixos redondinhos, apanhados no leito seco do Cedron. De costas para o Monte das Oliveiras, enxergava o tortuoso caminho. Sentia uma excitação constante e crescente e sem saber o motivo, levantei-me e adentrei o Horto. Caminhei entre as centenárias oliveiras, com seus troncos rugosos e copas frondosas, até chegar á laje de pedra onde um homem meditava. Parei e por um longo momento, admirei aquela cena. Sentado na rocha, sustinha a cabeça em uma das mãos, os olhos semi cerrados e os cabelos cor de mel esparramando-se sobre o manto que levava nos ombros.

Levantou a cabeça e seu olhar doce, pousou nos meus olhos. Com um gesto, chamou-me para perto de si e por um longo tempo jogou pedrinhas comigo. Depois me devolvendo os seixos, disse com voz suave:

- Há tempos querias este encontro e parecia que tinhas muitas perguntas a fazer. Sinto que teu coração está tranqüilo e tuas perguntas já encontraram respostas. Que bom que viestes, leve a minha Paz.

Acordei ainda com sua voz e seu olhar, muito vívido em mim. E ainda hoje, quando fecho os olhos, retorno aquele Horto, um pouco acima do leito do Cedron, ás margens do caminho para Betania.

Sonho ou lembrança, seja o que for, só me faz ter a certeza da Imortalidade...