A Outra Origem de " O Cravo e a Rosa "

Há muito tempo atrás, em um lugar nem tão distante assim... Aqui! Nessa história que irei contar...

Lá pelos lados da cidade de Ouro Preto havia um jovem muito belo, de cabelos longos, tão negros como a própria noite, ele era de uma família muito distinta da cidade, amava escrever poesias e todos os dias, ao entardecer, ele sentava em sua varanda para recitar os versos que havia composto e admirar o pôr do sol, que ao longe se despedia por de trás do morro.

No final da mesma rua, quase no início de uma ladeira, havia uma moça de singular beleza que amava sentar todas as tardes à sombra de uma jabuticabeira para bordar e admirar as flores do seu jardim, as rosas eram as que ela gostava mais gostava, tanto, que no canto da sua orelha, enfeitando seus longos cabelos castanhos ela usava uma rosa branca, enquanto ela bordava, também cantava: — Rosinha branca, o que está fazendo? Bordando um xale para o casamento...

Todos os dias, ao cair do sol, ela colhia as flores mais belas para levar à Igreja de Santa Efigênia, próxima a sua casa.Certo dia, ao chegar no local, havia uma placa pendurada na porta que dizia: "Fechado para reforma", ela ficou muito triste, pois colhera aquelas flores com tanto esmero, tanto carinho.

Foi quando ela lembrou que no alto da outra ladeira,havia uma igreja tão bela quanto aquela, e não pensou duas vezes, subiu a rua sem demora,cantando alegremente: — Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava florear... Com versinhos, com versinhos bem bonitos, para o meu, para o meu amor passar...

Chegando na praça quase perto do santuário, já estava quase anoitecendo, ela ouviu uma voz bonita que ecoava do alto de uma sacada, palavras tão belas, que pareciam ser o final de uma poesia, algo mais ou menos assim: — Eu sou o mar, tu és a ilha! Tu e eu, eu e Marília!

Quando ela olhou para cima, viu um moço alto, de cabelos bem escuros e com um cravo vermelho na lapela do seu terno, ela ficou muito envergonhada, afinal, como aquele homem tão elegante, sabia seu nome? Ele de família tão distinta, e ela uma humilde bordadeira?

Acontece que da varanda da sua casa ele a via todas as tardes bordando em seu jardim, e, apaixonado pela sua beleza e doçura, resolveu que os versos que escreveria daquele dia em diante, seriam em sua homenagem.O mais triste é que eles mal podiam conversar, afinal, naquele tempo, jamais uma moça deveria ser pega falando sozinha com um rapaz, ela ficaria falada por toda a cidade,ela era pobre, ele rico, a casa dele tinha eira e beira, a dela nenhuma, nem outra.

Marília não desistiu, resolveu que todos os dias, ao entardecer, subiria a ladeira para levar as flores à igreja, e é lógico, ver aquele moço tão elegante na sacada, recitando versos em seu nome. No primeiro dia, eles trocaram timidamente olhares e sorrisos pelo canto da boca; no segundo dia, do alto de sua sacada, o moço viu Marília em seu jardim, tirou o seu lenço do bolso e acenou, ela em resposta fez o mesmo.

No terceiro dia, ela passou pela casa dele e na aldrava da sua porta, deixou um presente, feito pelas suas delicadas mãos: um lenço com um cravo bordado, com as iniciais do seus nomes, lado a lado.No quarto dia, quando ela colhia as flores e se preparava para subir a rua, ela ouviu duas senhoras que passavam pela rua , uma delas comentou com a outra: —Comadre que jardim mais belo... a senhora acredita que o meu cravo caiu da sacada e morreu? Cravo agora, só admirado no jardim alheio...

Marília quando ouviu, ficou gelada de medo , será que o belo rapaz do cravo havia caído da sacada e morrido? Ela subiu às pressas a rua e foi bater na casa de seu pretendido ( mal sabia ela que tudo não passava de um mal entendido), o cravo que da varanda havia caído era apenas uma flor, nada de mal a seu amado havia acontecido .

Nervosa, ansiosa, ela deu três fortes batidas na porta da frente, quem atendeu foi uma velhinha toda sem dente,a moça quando a viu , sem demora perguntou: — Aonde está meu amado? A senhora respondeu: — Amado? acaso meu neto é seu namorado? Ele já descia as escadas desesperado, e com as duas mãos na cabeça dizia : — Marília! Que medo! Era para guardar segredo!

E foi assim que eles conversaram pela primeira vez e também tiveram a primeira discussão, mas o amor, não acabou ali, não! Permanece vivo nessa história, ecoando na memória daqueles que ouviram com o coração.

" O Cravo brigou com a Rosa, debaixo, de uma sacada, o Cravo saiu ferido, e a Rosa, despetalada..."

Fiandeiro
Enviado por Fiandeiro em 16/11/2019
Reeditado em 16/11/2019
Código do texto: T6796277
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