Sol era uma menina feita tipo algodão doce. Uma leveza tão especial que aos olhos saltava. Serelepe que só, vivia catando sonhos em cestos de flores, ao redor do jardim da vida. E distribuía amor em potinhos.
Sempre criava conceitos próprios para explicar a natureza das coisas. Amava os cães como se gente fossem. Quando o seu maior companheiro ficou doente, vitimado por um AVC, sentava-se ao seu lado e contava histórias de livros de conto de fadas, terminando sempre com os dizeres: tudo vai acabar bem, como nesse conto.
Na rua, ao ver os que passavam fome e moravam nas pontes, olhava-os com um olhar de compaixão e apertava a mão de um dos seus, a lhe acompanhar esperando um sinal de compaixão, só estancado pós uma esmola é uma palavra de conforto.
Ele sempre soltava pérolas:
- O tempo está passando tão rápido, mamãe. É que Deus está pedalando muito em volta da terra com sua bicicleta mágica. No seu cesto carrega os pedidos do mundo, levados ao céu pelos anjos da guarda. Esses anjos que vivem feito sombra, especialmente atrás das crianças, carregam uma bolsa mágica cheia de equipamentos de detetives e salvadores das galáxias pra nos ajudarem. E quando não dão conta, já fazem logo uma carta pra Deus, não dá pra salvar a todas as crianças de suas peraltices. Eu, por exemplo, já estou com a minha cota de salvação no fim, minhas rodas-estrelas e cambalhotas, já me tomaram os dentes. Ao menos, sobraram uns três pra fada do dente, que me trouxe um presentinho em notas que dariam pra comprar umas 10 caixas de paçoca. Será?
Tinha uma espécie de mola maluca nos pés, se na cama estava, as perninhas já se juntavam e faziam pulos de altura máxima, só finalizamos pelo grito de uma em desespero, pedindo a ajuda de Deus.
- Mamãe, já sei porque anda chovendo tanto. Você sabia que lá no céu também tem vida? Lá moram muitas pessoas que praticaram o bem. As pessoas ruins estão na porta esperando alguém que possa desculpá-los e quem sabe levarem pela mão. Mas a chuva, é só Jesus reunindo a equipe dele pra fazer uma faxina, igual aqui em casa. Só que eles não foram no caminhão da CEMIG e usam tudo junto. Tem alguém lavando a roupa e o ralo sai aqui. Tem outro lavando banheiro. E tem o São Pedro de bota galocha lavando a cozinha. Todo mundo-novense que é trovão, mas é ele com esse sapato barulhento no andar de cima; a luz que vem do céu nessa hora, são os anjos bebês que ficam apertando o interruptor toda hora. E não vai parar de chover enquanto não tiver uma reunião com todo mundo pra explicar a importância de economizar a água. Deus é o professor, mas tirou férias, não é mamãe? Mas ele merece! Ele trabalha muito e deve estar cansado de resolver nossos problemas.

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 01/02/2020
Reeditado em 01/02/2020
Código do texto: T6855722
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