SENTIMENTOS

Sentada ao lado da janela, via a chuva escorrer pelo vidro. Aos seus olhos parecia um rio em que navegavam seus pensamentos. Encostou a testa na fria janela e ficou prestando atenção ao barulho que as gotas da chuva faziam ao tocá-la. Fechou os olhos e deixou que os pensamentos transbordassem como acontece a uma represa muito cheia.

Lembrou de quando criança a mãe a colocava no colo e fazia mil carinhos para espantar o medo da chuva, dos relâmpagos. Recordou as histórias que a irmã mais velha contava para fazê-la dormir. Que tempo bom! Apesar da vida difícil era tão feliz, pois se sentia uma verdadeira princesa. Viu passar através de sua mente os passeios que fazia com o pai. Aquele pequeno quintal era, para ela, um mundo enorme a ser explorado. Ouviu novamente o barulho do trem de carga que passava todos os dias lá no fundo do quintal.

De repente sentiu aquele cheiro gostoso do bolo simples que sua mãe fazia, mas que para ela era um manjar dos deuses. Naquele tempo não sabia da vida dura que o pai levava para sustentar a casa; imaginava que tudo “aparecia” em casa, e aquilo era o máximo, pois não conhecia nada melhor.

As imagens que agora vinham visitar sua mente eram do tempo da escola. Via-se tão tímida, morrendo de vergonha de tudo e de todos. Que raiva sentia disto. Queria ser risonha, brincando com todos; queria ser como aquela colega que era o centro de tudo. Ficou rindo por uns instantes e novamente seus pensamentos mudaram de rumos.

Lembrou-se da tristeza no dia que sua mãe partiu para sempre e do vazio que ficou em sua vida a partir daí.

Pensou no dia do seu casamento. Novas mudanças, e agora para sempre. Vieram os filhos. Chegaram as preocupações. Passaram os anos e com eles muitas alegrias mas também as decepções, as dores, as mágoas, a traição e por fim a separação.

Onde o amor? Porque não consegue encontrar alguém que seja honesto, que não invente mentiras, que a trate com carinho verdadeiro, que lhe dê atenção, alguém que queira receber seu amor, este mundo de amor que ela tem para dar?

Olha novamente para fora e acredita que a chuva tornou-se torrencial, absorta em seus pensamentos não notou que eram suas lágrimas que se tornaram abundantes e não a deixavam ver que lá fora já não chovia.

Rosita Barroso

08/10/2007