Meu anjo da guarda

Eu era apenas uma criança amedrontada quando no meio da noite ouvi uma voz. Alguém chamava por mim. Franci, meu bem, vamos brincar! Abri os olhos assustada. De onde será que vinha aquela voz? Levantei lentamente e olhei ao meu redor. No fundo do quarto, avistei uma luz brilhante e no centro dela um garotinho lindo. Cabelos loiros, olhos verdes. Ele vestia uma roupa toda branquinha, dos seus ombros saiam duas asas perfeitas. Aproximei-me dele, toquei suas asas e perguntei: elas são de verdade? ele sorriu e disse claro que sim. Então engatei outra pergunta: Você pode voar? Todo anjo pode voar e eu sou Ariel o seu anjo da guarda. Respondi espantada: então você existe de verdade! Mamãe sempre fala que o nosso anjo da guarda vê tudo o que fazemos. Ariel olhou nos meus olhinhos infantis e sorrindo falou: sua mãe exagerou um pouquinho. Quando você vai fazer cocô, xixi, tomar banho ou trocar de roupa eu fecho os olhos, afinal você é uma menina e eu não posso te ver pelada. Continuei a perguntar... È verdade que os anjos sempre nos protegem? È sim minha princesa. Então porque você deixou eu cair daquele muro no domingo passado? É que você é uma garota muito danada. Você lembra que saiu correndo para buscar a bola e nem olhou os carros ao atravessar a rua? Foi mesmo anjinho. Pois é, fui que te protegi para não seres atropelada, mas logo depois você enfiou o dedo numa panela quente para lamber as sobras do brigadeiro e se eu não sopro você teria sofrido uma baita queimadura nos dedinhos. Com tanta travessura você me deixou cansado. Quando sentei para descansar... num piscar de olhos você subiu naquele muro e só tive tempo de pegá-la no chão.
Foi uma noite de muita conversa e brincadeira. Eu contei ao meu anjinho todos os meus medos e segredos. Ele me ensinou a chamá-lo sempre que eu me sentisse assustada. Então eu tive uma idéia: você me leva para voar em suas asinhas? Ele segurou minhas mãos e saímos voando pelas ruas de Abaetetuba. Lá de cima eu via a minha cidade bem pequenina. Passamos pela praça onde avistamos a igreja de Nossa Senhora da Conceição, vimos também o imenso rio Maratauíra com seus barquinhos trazendo os ribeirinhos que vinham vender seus produtos na feira. Na volta para casa eu lhe perguntei: Você me leva para voar quando eu sentir saudades de passear no cèu? Você não precisa de mim para voar minha linda, pois você poderá fazê-lo sozinha. Como se as minhas costas não têm asinhas como as suas? Você usará as asas da sua imaginação.
Depois daquela noite, nunca mais eu vi Ariel pessoalmente, mas sempre que tenho medo ou solidão ainda sinto sua presença. Também confesso que durante toda a minha vida tenho encontrado pessoas que parecem anjos difarçados de gente. Quanto a voar... Eu continuo voando sempre que sinto vontade de passear no céu, aliás é exatamente isso que estou fazendo agora.

Ofereço este conto para minha filha Luiza. Ela é um verdadeiro anjo na minha vida. Peço a Deus todas as noites que mande muitos  anjinhos para protegê-la.
Francineti Carvalho
Enviado por Francineti Carvalho em 10/10/2007
Reeditado em 08/03/2011
Código do texto: T688586
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