O VIZINHO MAL FALADO OU LINHA DE JULGAMENTO

Recentemente alguns vizinhos acabaram de mudar para a pequena rua, pois os mais antigos venderam seus imóveis e se mudaram do pequeno bairro que viram crescer, e agora tomava rumo de bairro grandioso e nobre. Mas êste, sem se preocupar em se mudar, continuava lá a morar, sozinho como o encontraram os que aqui, agora chegam e moram. No começo quando chegaram os novos vizinhos a todos cumprimentavam sem distinção, tentando serem amáveis com todos os que já lá se encontravam. Mas depois notando a diferença, começam a distinguir e perceber a personalidade e a vida de cada um que lá se encontram há muito tempo. Tratando-os diferentemente uns dos outros, não dão bom dia com ênfase ao vizinho solitário; as mulheres casadas aqui agora chegadas fingem que não o vê, olhando-o apenas com o canto do olho, ou temem serem envolvida ou desrespeitada, por sentirem que no intimo ser êle um homem ainda jovem e sexy, que mora e vive sozinho. O que será que fê-lo tomar tal decisão de vida? Será que êle é gay? Não, não; não parece; afinal já o vi em companhias de algumas mulheres e tem também amigos homens. Parece ser completamente independente cozinha para si e, cuida sozinho da casa. – diz a segunda vizinha. Casa...? Sim aí está. É enorme para somente uma pessoa morar. E uma casa bem antiga precisando de reforma, mas ao que parece êle não se importa, e nem quem vem verdadeiramente visitá-lo. Não é de muito falar, e às vezes nem sabe-mos se esta em casa ou não, pois é extremamente silencioso. O que será que o faz tão silencioso? – “diz a terceira vizinha Quando cumprimenta ou conversa com outros vizinhos, coisa raríssima de acontecer, se resume em poucas palavras ou simplesmente em “bons dias’ e” boas tardes”; sai e entra da casa para comprar pão e café à parte da manhã, depois pega o carro por volta das dez horas e sai de nôvo, só voltando às duas horas, quando raramente sai de nôvo. Acho-o muito fechado. – diz a quarta vizinha. Quase não fala com a gente; bem deve ter os seus motivos. Já o vi falando com uma mulher estranha na rua, mas falava tão baixo que mal dava para ouvir. Aposto que tem amante; esses são os piores, pois se fazem de santo para esconder o demônio que tem dentro. Será que não possui parentes? Filhos, esposas, irmãos, tias, sobrinhas? – diz a primeira vizinha. Também já o vi conversando com outro vizinho mais nôvo que êle. Falavam de mulheres e assim que me viram, mudaram o assunto para futebol, mas eu já o tinha ouvido. Decidi desse dia em diante não lhe dirigir mais a palavra, nem sequer 'bom dia' ou 'boa tarde' pois, achei-o abusado. – diz a quinta vizinha. Como é que êle agüenta morar sozinho naquele casarão antigo? Será que não se sente só? Talvez necessitasse de uma companhia, amigos... Amigas. Êle costuma conversar com alguns vizinhos antigos, quando esta na esquina aqui perto, e ao que parece, êle os conhece há bastante tempo. O que será que êle faz para viver? Trabalha ou rouba? Será que é policial ou malandro trabalhador da construção civil ou vendedor? – diz a sexta vizinha. Bem rico é que não é, nem parece médico muito menos advogado, pois não teria cora-gem de morar naquele casarão quase abandonado. – diz a segunda vizinha. Não sei direito o que faz; sei somente que de vez em quando êle some e só volta tempo depois, sozinho do jeito que saiu. - diz a terceira vizinha. As línguas mais antigas do lugar, dizem que antigamente êle trabalhava em uma companhia do governo, mas agora não se tem certeza de nada, pois êle não tem hora para sair ou chegar, ou nem sabem que hora chega ou nem sabem que hora saiu. Sai e chega a qualquer hora; e capaz de nem chegar, e capaz de nem sair. – diz a primeira vizinha. Já vi algumas pessoas virem visitá-lo; parecia advogada uma das mulheres, e um dos homens, advogado, pois estava de terno e gravata e se portava como tal. Êle conversava naturalmente com os dois, como se fosse um deles. Mas êle não parece ser advogado e nem do judiciário. – diz a terceira vizinha. Uma vez escutei uma vizinha perguntar-lhe, quando êste saia de carro, aonde é que êle trabalhava. Ouvi-lo dizer que era no judiciário. Será verdade? Impossível não parece que tenha uma mente jurídica superior. A mim me parece que tenha que tenha uma mente mais de operário, de trabalhador, que tem de ganhar a sua vida todo dia, com grande sacrifício e o suor do próprio rosto. – diz a sexta vizinha. Sim mais de algum modo êle sobrevive. Às vezes fica no portão, de outras vezes nem se sabe se esta em casa entra e sai e pouco fala. Outras vezes rega o jardim. Sim... O jardim, eu já o vi plantando, parece que gosta de arvores e flores, pois acabou de plantar um pé de fictus brasileiro bem próximo ao meio fio na calçada, quase em frente do seu portão. Certamente com esperança que a árvore cresça, de sombra e perpetue a sua imagem. Ouvi-lo dizer ao falar aos meninos, que era para não quebrar os galhos do fictus e deixa-lo crescer, pois eles cresceriam juntos e d'aqui há alguns anos eles estariam subindo nela e brincando, e mais tarde, já velhos usufruiriam de suas sombras. E então se lembrariam de quem plantou tal árvore. E a única árvore diferente da rua; é apenas um arbusto, mas já mostra a vicissitude de seus galhos e folhas È um fictus brasileiro de folhas brancas – diz a quarta vizinha. Êle é bonito e tem boa altura, corpo atlético, talvez seja esportista, mas deve ser casado ou comprometido. Não acredito que seje de todo sozinho. Conheço muitas mulheres que gostaria de ter um homem assim que a sustentasse, fosse fiel, amigo e reservado. Não; não acredito. Não está sozinho, deve ter certamente alguém com quem se relacione, por isso não me atrevo a olhá-lo com mais mira – diz a sétima vizinha solteira e sonhadora. Acho que não faz o tipo do solitário, talvez seje uma imagem construída, uma representação, mas me parece ser sério e concentrado. Quais serão os seus hobbys e gostos? – diz a quarta vizinha. Parece que gosta de praia e ou futebol, pois já o vi saindo com a toalha no carro, e quando voltou estava bastante queimado bem amorenado mesmo – diz a oitava vizinha, amante da vida e separada. Será que êle bebe também? Nunca vi junto de beberrões, me parece mais o tipo abstêmio, pois já o vi com roupas esportivas e o tênis na mão, deve ser um grande desportista, praticante de algum tipo de esporte – diz a nona vizinha, instrutora de educação física. Creio que não ou nós saberíamos. Apesar disso êle usa mais jeans que roupa social. E verdade que é um jeans bem cortado, mas não me lembro de tê-lo visto de roupa social uma única vez. – diz a vizinha dona de roupa de aluguel. Êste carro que ele possuiu já é ve-lho, esta precisando de um nôvo ou no mínimo de uma reforma, talvez não tenha posses para tanto. Não creio que esteja no seguro. – diz o vizinho vendedor de automóveis. Já o vi mancar da perna esquerda, deve jogar futebol nos fins de semana com os amigos; e às vezes trás umas roupas sujas no banco do carona do carro, outras vezes notei que estava com dores de cabeça – diz a décima vizinha enfermeira. Terá alguma opinião política a respeito de ou será apolítico totalmente? Talvez viva sonhando em ser um pensador, um filosofo, ou quem sabe um escritor, professor, pois já o vi com livros, enquanto tirava-os do carro – diz o vizinho professor. Não estão errados. - Deve ser produtor de cinema, pois esta sempre de óculos escuros com CDs e DVDs na mão, pois já o vi em uma locadora aqui perto - diz o vizinho amante de cinema. Duvido que seja de cinema. - Deve ser um gourmet de algum restaurante fino, caro e de boa qualidade, pois já o vi com bastante prazer, saborear uma lasanha grande numa pizzaria – dia a vizinha cozinheira. Não com certeza e mecânico de autos e dos bons, pois já o vi vária vez consertar o seu próprio carro com roupa de mecânico e tudo, e o carro ficar perfeito – diz o vizinho do carro velho. Acredito que deva ter vida dupla vivendo de alguma ilegalidade, contrabando ou coisa pior, pois já o vi tirar embrulhos enormes do carro olhando para todos os lados, para se certificar que ninguém estava olhando – diz o vizinho policial. Certamente e coman-dante de bordo e trabalha em companhias aéreas voando por vários paises, pois já o vi com malas enormes de viagem – diz o vizinho aeroportuário. Que nada êste aí com cara de cafetão, deve trabalhar na noite, nas boates e não é de se jogar fora – diz a décima primeira vizinha, massagista. Talvez possa ser um cristão ortodoxo e não queira que ninguém saiba, pois já ouvi-lo falar sob a bíblia. – diz outra vizinha. Não seria melhor, em vez de ficarmos aqui tentando adivinhar o que êle faz da sua vida e perguntarmos? – diz outra vizinha mais afoita e atrevida. Sim, também acho mais quem terá o atrevimento de fazer isto? - pergunta outra vizinha. Não olhe para mim, foi idéia minha, confesso, mas não me atrevo a tanto. – se defende a vizinha afoita. Que tal alguém de nós mulher, se insinuarmos e deixasse-o ele pensar que poderíamos levar-nos para a cama, mas antes teríamos certamente as informações que nós todas queremos. – diz uma jovem vizinha, digo, idealista. Também acho a idéia boa, mas você fará esse sacrifício por nós? – diz uma vizinha com ironia. Talvez na hora certa, por que não? Afinal já o tenho olhado há algum tempo e creio que êle já me notou também, não seria difícil conquistá-lo e despojá-lo de todas as informações de sua vida. – diz a vizinha jovem idealista. Seja como for êle no nosso meio, é um guru ilhado, que precisa ser descoberto mostrado e assemelhado. Despediram-se todos ficando confirmado que assim que desse ou pudesse a vizinha idealista, iria colocar seu plano em voga. Um mês depois, notaram que o vizinho não aparecia, e começaram achar que talvez tivesse mudado.