Megera

Não fez mais do que um bolo de cenoura para degustar no dia. Era assim que passavam as suas horas. Um quitute a acompanhara todas as tardes.

Aquela senhora era ponto de referência para as crianças da rua. E assim, como em todo quarteirão que se preze num bairro do interior, há sempre uma senhora que todos conhecem, seja pela sua bondade ou pela forma megera de lidar com as pequenas provocações da criançada, esta criançada que ama mais a megera que a bondosa, pois, ela consegue presentear as crianças com dádivas maiores que um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate muito bem açucarada, ou com doces e balas, garrafas de tubaína.

A megera oferece o que as crianças mais desejam: o medo, a chance de uma aventura, de provar que são corajosos, que são gente grande enfim, proporciona muita alegria.

Ela sempre aparecia com alguma promessa temperada de alguma adrenalina que far-nos-ia escolher entre a calmaria, a ciência dos nossos pais sobre nossas aventuras naquele quintal ou mesmo a perda do nosso passarinho. Certamente se tivesse sabido antes que papai já tivera em seu currículo essas nossas estripulias, teria escolhido que ela nos fizesse uma visitinha, mas preferíamos nos resguardar e criar novos planos.

Sinceramente não só as crianças recebem seu bom-malgrado, pois, quando chegam a idade adulta a megera terá proporcionado novos motivos de alegrias e recordações. Belas estórias e histórias, que serão transportadas para o futuro com a hereditariedade.

Após preparado e descansado o suficiente para não gerar gases ou dor de barriga nas crianças fora até a porta interromper o percurso de um corpo parcialmente esférico cujo miolo era composto de matéria celulósica e sua epiderme era farta de fibras LUPO.

A senhora, após entregar a bandeja ao menino que acabara de fazer um gol num lance de mesmo nome, fora topar com a megera. Sentaram-se às suas cadeiras e caíram às gargalhadas vivendo as longas e belas histórias e estórias do Seu Nonô.