A INVESTIGAÇÃO

Pé ante pé, para não acordar ninguém, saí ao lusco-fusco meio receosa.

Sempre tive medo do escuro, mas ao mesmo tempo sou destemida e determinada. A determinação sempre se sobrepôs ao medo, não sem antes experimentar alguns suores frios.

Não podia correr o risco de ser vista, tinha receio que não conseguisse levar por diante o plano que tinha em mente. Sempre me deixei levar por sentimentalismos. Emociono-me com demasiada facilidade e por isso mesmo muitas das minhas empreitadas caiem por terra.

Ás vezes precisava ter um coração de pedra, mas que posso eu fazer? Não sou feita dessa matéria.

Eu sei que aqueles que se importam comigo ficam preocupados, a razão porque não posso despedir-me deles é porque não posso deixar que abortem a minha missão.

Receio que ao pedirem-me para ficar, eu não tenha coragem para partir.

Fui convidada na qualidade de investigadora científica a deslocar-me ao sete-estrelo, um aglomerado de estrelas, as Plêiades, na constelação do Touro a fim de apurar e fazer um levantamento das condições de vida humana, sem deixar de analizar a pureza atmosférica.

O nome popular sete-estrelo, sete-cabrinhas ou ainda sete-irmãs, vem do facto de sete das estrelas da constelação, bem brilhantes e de espectro predominantemente azul, serem visíveis da Terra a olho nú, para além das lendas recheadas de fantasia que se contam sobre a nebulosa. Lembro-me perfeitamente do meu avôzinho me falar disto.

As Plêiades têm vários significados em diferentes culturas e tradições, por exemplo em língua japonesa diz-me Subaru, nome que serviu de inspiração á conhecida marca na indústria automóvel. Em persa, é Soraya, nome feminino em vários países, a propósito, é o nome da minha filha.

Consta que aí, devido á morfologia do terreno e á pureza da atmosfera não há condições para o desenvolvimento de doenças, portanto se não existe doença, parece mesmo que poderemos estar perante a possibilidade da vida eterna sem precisarmos de morrer.

Fechei a porta atrás de mim e sem olhar para trás, embarquei na nave espacial acabada de aterrar nas imediações da piscina, precisamente na clareira que instantâneamente se abriu no pinhal nas traseiras da casa.

440 anos-luz nos separam do destino da viagem, contudo, á velocidade vertiginosa que a nave se desloca, muito superior á velocidade da luz, em breve estaremos lá.

Fiquem atentos ao desenrolar das investigações, se tudo correr como previsto, em breve poderemos efetuar a mudança e ver-nos livres para sempre desta terra de facto linda, mas que ficou infestada de vírus mortais e a procissão ainda agora vai no adro!

©Maria Dulce Leitao Reis

Direitos de Autor 05/10/2020

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 04/09/2020
Reeditado em 05/09/2020
Código do texto: T7054926
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