O cavaleiro da rosa

O vento agitava os ramos das árvores à medida em que ele começava a subir a estrada da montanha. Provavelmente, o tempo iria mudar, algo comum no verão naquela região, mas ele estava confiando que não iria chover até pelo menos a manhã seguinte. E, muito antes disso, já teria chegado ao castelo. Ao dobrar uma curva, viu que outro cavaleiro vinha descendo pelo mesmo caminho; pela magnífica capa adamascada que cobria a armadura, devia tratar-se de um dos oficiais da rainha Ylenor.

- Olá! - Saudou-o, erguendo a mão direita enluvada.

- Quem é você? - Indagou o oficial encarando-o com suspeição, mão no cabo da espada curta que trazia pendurada ao cinto.

- Sou Romar de Noranto - apresentou-se, parando o cavalo a poucos metros do oficial. - Fui indicado pela guilda dos armeiros da Caríngia para assumir a vaga de mestre de armas da rainha Ylenor.

O oficial retirou a mão do cabo da espada, aparentemente satisfeito com o relato.

- Então é o novo mestre de armas? Boa sorte, meu rapaz, vai precisar - redarguiu. - Eu sou Wasir, tenente do preboste Nondar. Você foi parado pelos soldados no sopé da montanha?

- Sim, encontrei um destacamento na estrada de acesso à montanha - disse Romar. - Mostrei-lhes minhas credenciais e me permitiram seguir caminho.

- Pelo menos não estamos tendo problemas no controle de fronteiras, ou eu teria que castigar o responsável pela guarda - avaliou Wasir, segurando as rédeas do cavalo. - Bem, pode continuar subindo, rapaz. O castelo está à cerca de meia légua de distância. Você será bem recebido lá, estamos realmente precisando de um mestre de armas experiente.

- Se não for muita impertinência lhe perguntar, senhor, o que houve com o seu antigo mestre de armas?

Wasir ajeitou o capacete na cabeça antes de responder:

- Se aposentou e comprou um terreno nas Terras Baixas, onde diz que vai plantar rabanetes. Ultimamente, a qualidade do serviço vinha caindo, mas não vou pôr a culpa nele; a idade pesou, e o trabalho fica mais árduo a cada ano. Mas, não se preocupe, deixou alguém no castelo para lhe passar o serviço. Procure por Ulanir!

Esporeou o cavalo e seguiu estrada abaixo, sem se despedir. Romar ficou observando-o até que ele desapareceu na curva e só então prosseguiu viagem, apreciando a paisagem das Terras Baixas que se descortinava em alguns pontos do caminho, e a floresta à sua direita. E foi justamente nesta que ele viu algo brilhante em meio às árvores, quando faltava cerca de meia légua para chegar ao seu destino. Apeou do cavalo, que prendeu num galho baixo, e entrou cautelosamente na mata.

O brilho, logo verificou, provinha do reflexo do sol na lâmina de uma faca de cabo de osso, que fora espetada no tronco de uma sorveira. Romar olhou ao redor para ver se havia alguém ali que pudesse ser o dono do objeto, mas não vendo vivalma, resolveu guardá-lo, como estudioso de armas que era. Nunca havia visto uma faca com um cabo daqueles, esculpido em uma única peça e com uma lâmina ligeiramente curva.

Já ia voltar ao ponto onde deixara o cavalo, quando avistou na orla do bosque uma roseira selvagem coberta de flores púrpuras. Ele decidiu cortar uma das rosas para enfeitar o gibão de couro e ficar mais apresentável em sua chegada ao castelo. Depois, enfiou a faca no cinto, montou no cavalo e retomou seu caminho. Pouco depois, avistou o castelo a cavaleiro de uma escarpa, seus pavilhões em vermelho e ouro tremulando ao sol da tarde. Aproximou-se da ponte levadiça, que cobria um fosso cheio de estacas afiadas e foi recebido por dois guardas que cruzaram as alabardas para impedir-lhe a passagem.

- Quem vem lá? - Gritou um deles.

- Sou o novo mestre de armas, Romar de Noranto! - Identificou-se. - Trago credenciais para apresentar à rainha Ylenor. O tenente Wasir disse que eu procurasse Ulanir.

Os guardas descruzaram as alabardas e fizeram sinal para que se aproximasse.

- Quando você entrar no pátio do castelo, vai ver a tenda do mestre de armas ao fundo - informou um deles. - Ulanir deve estar lá.

Romar agradeceu e atravessou a ponte, enquanto os grandes portões de carvalho eram abertos. De um lado e de outro, o fosso terminava num abismo, escavado na rocha. Quem quisesse conquistar o castelo, teria realmente muito trabalho, avaliou.

O pátio do castelo era relativamente grande, e estava parcialmente ocupado por soldados, cavalariços e servos em seus afazeres. Ao fundo, como haviam lhe dito, estava a tenda do mestre de armas. Ele parou em frente à ela e apeou do cavalo. Um rapaz de cabelos ruivos colocou a cabeça para fora.

- Estou procurando Ulanir - disse Romar sorrindo.

- Eu sou Ulanir - ouviu em resposta, e só então percebeu pela voz que não era um rapaz, mas uma garota em trajes masculinos.

[Continua]

- [24-10-2020]