Novos tempos

Os tempos haviam mudado, nada mais era como antes. Ainda bem, e por sinal, após um tempo de isolamento, eu já não era mais a mesma também.

A coragem que antes me faltava, agora borbulhava e queimava dentro de mim. Era como se eu fosse um leão preso e sedento pela liberdade, que agora rugia bradando para todos que finalmente estava livre. Se bem que, um leão é muito maior e amedrontador do que eu jamais poderia imaginar ser. Mas que seja, sempre gostei de analogias e agora eu me sinto preenchida de bravura.

Liberdade. Ah, a liberdade ... Enfim eu a tinha. Mas que diabos se faz com a danada? Eu não sabia ao certo o que era viver livre, não entendia como eu poderia usá-la. Mas eu iria descobrir, afinal agora eu havia me transformado.

Voei determinada a saber o que aconteceria dali para frente. Voei de forma graciosa, como eu jamais imaginei que seria possível.

O mundo era muito lindo, colorido e cheiroso. As pessoas passavam e me admiravam, falavam que eu dava sorte e encantavam-se pela minha beleza. Que alegria, eu nunca me senti amada e feliz como hoje. Era o meu primeiro dia fora do que eu chamo de casulo, onde eu curti o meu isolamento e modificação. Acho bonito falar assim, afinal a minha transformação era uma metamorfose. Enfim, eu sou uma tagarela. Mas a felicidade é tamanha que eu me sinto guiada pelo amor e ... Ah! O amor. Falando nele, eu acho que me apaixonei nesse exato momento. Uau! Ele é lindo, e tão cheio de si. Os seus cabelos dourados e porte de guerreiro, eu me sentiria protegida ao lado dele.

Me aproximei e o vi me olhar intrigado. Curioso. Com certo divertimento no olhar, talvez? Não importa, vamos descobrir para que essa tal liberdade e coragem servem. Antes de eu falar qualquer coisa, ele começou a rir e me perguntou surpreso se eu não tinha medo dele. Medo? Titubeei, afinal ele poderia ser amedrontador. Mas não. Não. Eu era corajosa, ora. Ele me olhava desconfiado e questionando-se. Seria eu feia demais para ele? Sem graça? Meus pensamentos me deixaram tonta e eu cai. Ele me segurou e com delicadeza me ajudou a ficar em pé. Foi quando os nossos olhares se cruzaram e ele encantado disse que eu era linda. Elogiou as minhas cores e bravura, afinal eu era delicada demais para me aproximar dele, tão intimidador e .... Ele era o rei, não é mesmo? Eu apenas alguém sem título majestoso, o que pareceu ser insignificante para ele. Conversamos e rimos por horas, ele me agradeceu por não ter medo dele e me fez um convite. Eu e ele correndo - no meu caso, voando - pela eternidade.

Jamais pensei em sair do isolamento e encontrar o amor, liberdade e coragem em um mesmo dia. Eu realmente deveria levar sorte, afinal eu era verdadeiramente abençoada. Esse amor era improvável e impossível, afinal ele é um leão e eu uma borboleta, mas descobrimos que poderíamos fazer dar certo e inspirar a todos. Eu estava decidida a curtir a minha liberdade, até o meu último suspiro.