As roupas sóbrias de Lazinha pouco revelavam de seu corpo cheio e mais pesado com o passar dos anos também, ninguém seria capaz de dizer qual a cor dos seus cabelos, tão apertados os levava em coque severo e antiquado todos os dias, desde que era uma menina. Sua rotina imutável, nada denunciava da vida secreta dessa mulher quase invisível quase, pois nos momentos de distração deixava escapar faíscas que só as mulheres entendidas de amores ardentes guardam no olhar. Essa luminosidade fugaz intrigava moradores mais sensíveis, mas pela extrema sutileza nela implícita acabava ignorada. As noites de Lazinha, portanto, guardavam segredos de sabores sofisticados. Sua casa antiga há muitas gerações na família, recebia visitas ancestrais, espíritos de pessoas esquecidas pelos habitantes da cidade.  A cada noite, uma surpresa. Mas, havia as visitas assíduas, como a de um espadachim, amigo de algum parente morto e apagado da memória, que há muito vagava pela casa até se deparar com a moça e por ela se encantar, desde então Lazinha entrava em casa sempre com o coração disparado, pensando se aquela seria a noite da visita preferida.

Quando sentia o cheiro de cigarro a alegria era grande, retirava o grampo que sustentava o penteado e sacudia os longos cabelos que como por magia se tornavam negros e lustrosos. Entrava no quarto, com a blusa desabotoada e olhando para aquele homem um tanto transparente e muito viril, deitado em sua cama de moça intocada, arrancava a blusa, soltando seus seios enormes e voluptuosos a revelar uma mulher linda, em pé, nua o espera e juntos se aproximam do espelho, no qual vê fascinada uma mulher jovem, carnuda, sensual, sendo acariciada pelo homem bonito, forte, apaixonado e sussurrante que preenche suas noites solitárias.

 Ao amanhecer espreguiça-se languidamente e olha para o espelho, onde vê a pequena luz vermelha a piscar. Já sabe que a bateria descarregou, corre até lá e o pequeno aviso ainda pisca: “Sorria, você está sendo filmado.”