Qual o seu sonho mesmo?

Eu estava há menos de quinhentos metros e não podia me mover. Era noite lá fora e o mundo estava um caos. Milhares de pessoas desistiram de seus sonhos hoje, pensei; e eu estava ali, há quinhentos metros de distância, aspirando o ar que um dia eles aspiraram. Sentei na carteira do "Lorenzo", quem será que fora ele? Por que será que o destino me pusera ali? Estranho como as coisas mudam de uma hora para a outra, sem a gente sequer entender. Um dia eu estava em casa, confortável no meu quarto, e no outro eu estava há sei lá quantos quilômetros longe, mas ainda assim há quinhentos metros de distância do meu sonho. O que talvez fosse mais, porque os desafios eram maiores do que eu.

Naquela noite, abri a janela do apartamento e olhei para baixo. O ar cheirava a bebida e churrasco. Um time comemorava sei lá o que lá embaixo - lembro-me que pensei ser uma vitória, mas nunca pude saber ao certo - e o céu estava limpo, sem nenhuma estrela. Desejei de todo o coração que pelo menos uma aparecesse naquele instante, para que eu pudesse fazer um pedido, porém nenhuma surgiu. Ainda assim, eu contemplei o céu por um tempo bastante longo. Pus a cabeça no travesseiro e pensei no quão sortuda eu era por estar a apenas quinhentos metros de distância.

  Também não tive nenhum sonho. No outro dia pela manhã, o hotel estava lotado pro café. Muitos bolos, pãezinhos de queijo, frutas, ovos. Sentei-me a mesa mais próxima da porta, o copo de café me acompanhava, assim como a ansiedade pelo que viria depois dele. Saímos do hotel por volta das nove, e a medida que a hora passava, os metros diminuiam. Eu estava cada vez mais próxima. Até que o carro parou, e eu desembarquei, mas meus pais continuaram lá. Foi o sentimento mais puro que já senti: o apoio deles. Eu não estava caminhando sozinha... no portão, ao apresentar minha identidade, tinha toda uma história por trás. Uma menina de nove anos que era apaixonada por aquilo, amigos e pais que acreditaram nela, o hotel, cachorros, ex-namoradinhos, festas, estudos, músicas, ambições, reviravoltas, medos. O bom dia do porteiro deu um fim nos meus pensamentos. Quando eu pisei naquele chão, não mais há quinhentos metros, eu senti o quanto aquilo parecia certo pra mim. Era o meu lugar, onde eu pertencia.

Já na carteira do Lorenzo, que eu pude recuperar o fôlego e refletir um pouco mais, só que as horas do teste passaram voando. Em seguida, eu já estava dando tchau para lá, mas é como se o lugar nunca tivesse saído de mim. Eu lutaria por ele, e o mereceria. Aquele dia foi o dia mais próximo que eu vivi do meu sonho, e foi simplesmente esplêndido poder tê-lo sentido tão próximo e tão realizável.

   A verdade é que todo esse texto era para te dizer que muitas vezes a caminhada é longa e árdua, e justamente por isso, esquecemos o motivo por trás de toda a nossa luta. Esquecemos o quanto um dia nós amamos "aquilo". Então, se puder concretizar o seu amor pelo sonho que você tem agora, isso irá facilitar as coisas quando todos os desafios aparecerem. Se você leu isso, eu espero que continue tentando, saiba que eu acredito em você. Agora me conta, qual o seu sonho mesmo?

Ana Carolina Fretta
Enviado por Ana Carolina Fretta em 27/06/2021
Reeditado em 27/06/2021
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