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Eurico caminhava sempre pelo mesmo passeio. Todos os dias passava por um velho sentado, num banco de jardim, no lado errado do passeio, sempre desconfiado, a olhar de lado.

Suscitava a atenção de um colosso, filho do velho sentado no banco de jardim, que causava frenesim e que tinha um pescoço mais largo que um cilindro de betão. Tinha medo quando ele se ria, imaginando o seu corpo inerte numa ria, perto do meio-dia.

O azedume imperou, a virtude enegreceu, a vontade simplesmente desapareceu e Eurico sentou-se no banco do jardim, Então o colosso juntou-se ao velho no banco de jardim e choraram, abraçados como nunca o haviam feito. E quando se fartou foi para casa, envelhecendo dois dias num só. O velho e o colosso também já há muito tinham ido à sua vida.

Um dia Eurico foi notícia na televisão, no meio de muita comoção e o primeiro-ministro teve direito a intervenção. Enquanto isso deitou-se, sonhou com um rio transparente, deserto de poluentes. Ia à janela, no quarto da casa do seu sonho e via todos abraçados, nos bancos de jardim desinfectados.

Ia-se deitar no seu sonho, para sonhar ainda mais, e a felicidade não parar. E no jardim todos chamavam por Eurico que num acidentado corolário apareceu em pijama vindo directamente da cama para consolar os amigos, os polícias e os perdidos na fé, os larápios e os sem-abrigo. A polícia abriu alas, algumas pessoas assomaram às janelas. Outros houve que se aproximaram do fenómeno, deitando-se no chão como se fosse a ordem do patrão, gerando uma enorme confusão.

E o coração, cansado de tanta excitação pediu uma explicação rápida em forma de ataque e Eurico, alarmado, passou a ser desconfiado, mesmo a tempo do feriado.
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 09/10/2021
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