Profissões do passado

Fim de tarde. Sob o olhar atento de Parnell Langstone, de pé ao lado da entrada da choupana, Agnes alimentava as galinhas com grãos de cevada e milho-painço.

- Como estão as aulas de runas com sua tia? - Indagou a bruxa, braços cruzados.

- Bem... mãe - respondeu Agnes cautelosamente. Temia que Parnell ficasse com medo dela optar por seguir a profissão de cervejeira, e restringisse o acesso à residência de Grissell Aldebourne. Mas o rosto da bruxa iluminou-se ao ser chamada de "mãe".

- Ei... eu ouvi o que estou pensando que ouvi?

Agnes parou de jogar grãos às aves alvoroçadas, que cacarejavam à sua volta.

- Mãe - repetiu, muito séria.

Parnell descruzou os braços e encarou embevecida a filha adotiva.

- É muito bom ouvir isso - admitiu baixinho, meio que para si mesma.

E já entrando para dentro de casa:

- Depois que recolher todas ao galinheiro, vou tomar a sua lição.

Aquilo era novidade, ponderou Agnes. Mas fez um aceno afirmativo e continuou a jogar grãos para as aves, recuando em direção ao galinheiro, para que a seguissem.

* * *

Crepúsculo. Agora, Parnell e Agnes estavam sentadas frente a frente, em lados opostos da única mesa da choupana. Entre elas, uma vela acesa num castiçal e um velho códice aberto, com páginas de pergaminho ostentando ilustrações diversas e textos com capitulares coloridas.

- Suponho que você ainda não vai conseguir ler isto - ponderou Parnell, estreitando os olhos ao encará-la.

Agnes franziu a testa; reconhecia uma runa, aqui e ali, mas era muita informação para quem havia começado a decifrar o alfabeto há poucas semanas.

- Não mãe - teve que confessar. - Agora é que estou juntando as sílabas...

- Certo, certo - Parnell pareceu ficar satisfeita com a informação, como se um conhecimento maior fosse colocar em risco a segurança da menina. - Mas os desenhos, você consegue ver o que são? Este aqui, por exemplo...

E apontou para uma ilustração na página aberta, virada para Agnes.

- É uma mulher trabalhando, - avaliou Agnes, temendo parecer estúpida ao erguer os olhos para a mãe adotiva - com um avental em cima do vestido, e um martelo de ferreiro na mão... martelando ferro na bigorna.

E franzindo novamente a testa:

- É estranho. Nunca vi uma mulher trabalhar como ferreiro.

Parnell fez um gesto de aquiescência.

- Hoje em dia, isso é raro... mas já foi mais comum tempos atrás, antes dos koryosaram chegarem com o seu ferro em lingotes, das minas de Alwa.

- Mulheres podiam ser ferreiras? - Indagou Agnes, apoiando os cotovelos na mesa e encarando a mãe adotiva.

- Sim - assentiu gravemente Parnell. - Podiam, e ainda podem. Amanhã vou te levar para conhecer uma delas: Gwaeddan, a Negra.

Os olhos de Agnes se arregalaram: nunca havia visto uma pessoa negra antes!

- [12-11-2021]