Diário de uma Assassina > As nossas Cinzas...

Faz tanto tempo que não me lembro quando foi que realmente aconteceu...Acho que faz uns dez anos desde que eu o vi pela última vez, partindo para longe de mim, longe disso tudo...Longe dos pensamentos que o faziam se lembrar de mim e de tudo o que tinha acontecido.

Eu não posso o culpar... Eu era jovem, e o mundo mais parecia um parque de diversões particulares do que algo a ser tratado com seriedade. Na verdade houve poucas coisas na vida que tratei com a seriedade necessária, mas isso não importa mais agora. Pouca coisa imposta depois que você perde tudo.

Na minha opinião, foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Desde a primeira noite, onde eu mais parecia uma criança perdida até a última quando estava com as mãos manchadas de sangue, com uma espada ameaçando inocentes. Ele tinha razão, eu estava ficando louca... Vejo que não tinha como ser diferente, eu teria que ter ido embora daquela casa, com o coração partido Tanta razão que eu parti e me permiti sentir culpada por algo, a única vez que me senti daquele jeito tão sujo.

É... Eu devia saber que não iria dar certo.

As Nossas Cinzas.

O Duque de Ibelin 21/08/ ....

Era tarde da noite quando eu dei por mim em um bar sujo do subúrbio da cidade, as três da manhã, sentindo uma forte tontura e uma dor nas costas. Tinha sido uma noite daquelas. O bar estava lotado apesar do horário, pessoas se agarrando nos cantos, a música alta e a loira ao meu lado rindo e balançando uma adaga de modo ameaçador para o homem sa mesa a nossa esquerda. Sim, havia sido uma longa noite de trabalho.

As bebidas que ficavam na prateleira do bar pareciam sorri refletidas no espelho que havia atrás delas. Sorriam e chamavam os mais fracos para sucumbirem as suas vontades, se embriagarem em prazeres vazios que durariam apenas algumas horas e teriam conseqüências desastrosas depois. Bem vindos à magia dos bares na madrugada! Onde nem tudo parece triste ou desolado.

Bares da madrugada, ou melhor, bares que eram feitos para pessoas como eu que se mantinham bêbadas para esquecer os problemas. Local cheio naquela quarta -feira. As poucas mesas, seis no total se a memória não me falhar, estavam ocupadas e cada vez mais pareciam que seriam poucas para aquele festejo descontrolado, isso por que a maioria das pessoas ali achava que a morte era motivo de comemoração, e eu, não era muito diferente. A mesa que eu e a Nina sempre ocupávamos era de frente para o bar e dava uma visão ampla do salão e das outras mesas. Era perfeito, via tudo o que acontecia no bar e algumas vezes as brigas que tinha do lado de fora.

Enquanto a loira continuava a ameaçar o cara a nosso lado, meu pensamento voltava se para o homem que eu havia mandado para um lugar melhor mais cedo. Alto, magro, com um andar elegante e cabelos negros...Poderia até dizer que era bonito e bem rico, mas tinha se metido com as pessoas erradas. E eu só estava cumprindo ordens, e se ele havia se metido com o Vallon, à culpa não era das Sexy & Deadly.

Eu precisava sair daquele bar antes que eu começasse a exagerar nas palavras e ações. Minha espada ainda estava manchada de sangue e a minha cabeça estava girando, tinha uma visão distorcida do mundo ao meu redor e toda vez que isso acontecia alguém tinha que me segurar e isso não era fácil. Cutuquei a Loira ao meu lado que deixou a adaga cair no chão fazendo uma marca no assoalho. Eu apenas avisei que estava indo embora, já sabia que ela ia continuar ali apenas para se divertir as custas dos idiotas que achavam que teriam uma chance com ela. Ela riu e me entregou uma bolsa vermelha e algumas notas para o táxi e mandou eu respirar fundo até em casa. É, ela me conhecia bem até demais.

Não estava frio nem calor quando sai do bar. Deixei o casaco no bar e nem me preocupei em pega lo de novo, não se fazia necessário para mim, talvez ele poderia ser para alguma outra pessoa. Enquanto saia dor bar, senti um leve empurrão nas minhas costas, mas o leve para a pessoa foi forte demais pra mim e se não fosse um braço que segurou com meu com força eu teria ido ao chão sem muito esforço:

- Está tudo bem?

Eu olhei o dono da mão e arquei a sombrancelha direita, tentando me manter numa expressão séria, mas foi em vão já que dei uma gargalhada e passei a mão nos cabelos desarrumando os enquanto tentava ficar de pé sozinha. Era um lembrete pessoal não encher mais a cara nos dias que ia para casa sozinha. A música alta, o cheio forte de bebida, a brisa quente que começou a soprar me fez tremer, parecendo me deixar ainda mais fraca:

- Tudo ótimo.

Assim que me preparei para desviar do homem e sair andando, tudo deu um belo rodopio e escureceu me deixando sem ar, sem chão. Quando estava preste a concluir meus pensamentos sobre a situação, fui ao chão ou o chão veio até mim, tanto faz. Não sei bem o que aconteceu depois daquilo, só sei que acordar o dia seguinte foi a pior idéia que tive, ainda mais acordar da cama de um desconhecido.

Um quarto branco enorme. Tão branco que os meus olhos arderam quando eu olhei tudo aquilo com os raios de sol batendo nas paredes. As paredes estavam cheias de prateleiras cheias de fotos e vários quadros de pintores quase famosos nas paredes, moveis chiques, coisas que nem de longe lembrariam o meu quarto. É, não sabia onde estava e nem por que. Pouca coisa além de olhos castanhos eu conseguia me lembrar da noite anterior. Fiz um esforço para conseguir levantar a parte superior do meu corpo daquela cama fofa que estava manchada de vermelho. Vermelho...

A minha cabeça latejava, parecia que tinha uma bateria nela, tocando sem parar como se quisesse me levar a loucura e com isso deixei meu corpo cair na cama de novo, me sentindo cansada. Que ótimo, não sabia onde estava, uma ressaca tremenda estava vindo e o lençol estava sujo de sangue e tudo isso na cama de um cara desconhecido. Não queria ter saber o que tinha feito na noite passada, não seria algo que me orgulharia.

A porta abriu fazendo um barulho estranho, fazendo eu me esforçar para olhar quem entrava. Um cheio de café delicioso invadiu o quarto e o homem da noite anterior entrou trazendo uma bancada com um café da manhã. Não tinha como não sorrir para ele e aquela mesa deliciosa. Ele pareceu um pouco sem graça com a situação, mas eu não me importei com o que aquilo estava parecendo. Apenas sentei na cama com dificuldade e ele colocou a mesa no meu colo e sorriu enquanto sentava na cama:

- Aposto que não é todo dia que tem uma mulher estranha na cama.

- Você não é uma estranha.

Eu arregalei os olhos feito uma criança assustada. Como ele sabia? Será que ele era... Não era bom pensar naquilo.

- Bem vinda a Mansão Ibelin, Dahaja Nénar.

Nenar
Enviado por Nenar em 16/11/2007
Reeditado em 16/11/2007
Código do texto: T739017
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