A princesa e seu dragão

A princesa Adhelin estava cavalgando há horas, e à medida em que ia subindo o caminho que levava às montanhas, o terreno ao redor tornava-se mais árido e desolado. Finalmente, árvores secas e esqueletos de animais lhe indicaram que seguia na direção correta: a da gruta onde residia Myrnath, o dragão. Não era exatamente um destino dos mais procurados, e era exatamente isso o que ela buscava.

Diante da boca escura da gruta, no sopé das montanhas, mais esqueletos e restos enferrujados de espadas e armaduras; certamente, muitos campeões haviam encontrado ali o seu fim; mas isso não demoveria Adhelin do seu intuito.

- Myrnath! - Ela gritou, pondo as mãos em concha diante da boca.

Por alguns instantes, nada ocorreu. Finalmente, uma baforada de fumo veio do interior da gruta e o cavalo empinou, assustado.

- Calma, Bo! - Ordenou a princesa, acariciando o pescoço do animal.

Bo não tentou fugir, embora estivesse tremendo debaixo dela. A visão do dragão, que agora surgira à luz do dia, era de fato assustadora, mesmo para um guerreiro empedernido.

- Ao que devo a honra? - Indagou o dragão, asas fechadas sobre o dorso escamoso.

- Vim cobrar o favor - replicou a princesa. - Preciso passar um tempo no seu esconderijo.

- Justo aqui? - Myrnath semicerrou os olhos amarelos. - Você sabe o que vão dizer quando souberem que está comigo...

- Naturalmente; que você me sequestrou - avaliou Adhelin.

- Ou coisa pior - ponderou o dragão. - Eu e você sabemos que essas armas e ossadas são só decoração, e que não sou responsável por nenhuma das mortes, mas a fama dos dragões é de serem bestas cruéis, certo? Talvez imaginem que a comi como aperitivo...

- Não quando receberem o pedido de resgate - redarguiu a princesa. - Você concorda em me soltar em troca de 1/3 do tesouro real.

- Isso não vai acabar bem - disse o dragão. - Seu pai é capaz de mandar um exército me atacar, e, naturalmente, vou ter que me defender. Matar gente é tudo o que não me interessa...

- Todavia, eu posso ser salva sem que meu pai tenha que pagar o resgate - atalhou Adhelin. - Na verdade, já tenho um interessado que fará exatamente isso.

- Ah, percebo... - o dragão soltou uma baforada meditativa. - Você é resgatada por um bravo herói, que mata o dragão e herda o reino. Não acha que é um preço um pouco alto demais pelo favor que lhe devo?

- Mas você não morre - corrigiu Adhelin. - Meu pretendente apenas irá lhe paralisar com um feitiço, enquanto fugimos. Quando estivermos bem longe, você irá recuperar os movimentos, mas não poderá mais voar para dentro do reino.

- Não que eu tenha algum interesse em voar para o seu reino... - ponderou Myrnath. - Mas, se isto nos deixa quites, só me resta concordar.

- Agradecida! - Exclamou a princesa, apeando do cavalo. - Você vai gostar do Tage, é um bom rapaz. Foi dele a ideia do encantamento, aliás.

- Naturalmente; sabemos que não posso ser derrotado pela força das armas - comentou o dragão. - E agora, que tal me acompanhar para os seus aposentos? O chá será servido às 17 h, como de costume...

- [07-02-2022]

Alex Raymundo
Enviado por Alex Raymundo em 07/02/2022
Reeditado em 01/07/2023
Código do texto: T7447020
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