O dragão e sua princesa

A princesa Adhelin lançou um olhar comprido para o dragão Myrnath, deitado aos seus pés como um cão de companhia. Quem os visse assim, poderia imaginar que tudo estava bem entre os dois, mas na verdade...

- Você está com ciúmes do Tage - disse a princesa, fazendo bico.

Myrnath abriu um olho e encarou a princesa.

- Quem, eu? Não seja ridícula!

- Você ia aceitar o plano dele de me libertar sem pagar o resgate, e mudou de ideia de repente - insistiu Adhelin.

O dragão encarou-a com os dois olhos bem abertos.

- Vamos falar sério? Esse Tage até pode não ser feio, mas está de olho mesmo no reino do seu pai... e tanto melhor se você fizer parte do pacote.

- Tage me ama - afirmou com irritação a princesa.

- E quem não amaria? - Questionou o dragão. - Mas, em primeiro lugar, ama o tesouro que vai ser dele depois de casar com você.

- Então, não vai me soltar? - O tom de voz da princesa agora era de lamúria.

O dragão abanou a cauda no ar, como um gato.

- Você é livre para ir embora à hora que quiser... infelizmente, como seu cavalo fugiu, receio que terá que voltar à pé para casa; é bem longe.

- Você poderia me dar uma carona durante a noite... ninguém precisaria nos ver juntos - sugeriu Adhelin.

- Nem pensar - replicou o dragão. - Onde fica a minha reputação, devolvendo uma princesa que acabei de sequestrar, sem receber uma peça de ouro como resgate?

- Mas... você é meu amigo - insistiu a princesa. - E além disso, está me devendo um favor!

O dragão suspirou.

- Eu lhe DEVIA um favor, lembra? Já foi pago quando você veio até aqui com esse plano ridículo de sequestro fajuto bolado pelo seu namorado. Não é culpa minha se tem mais furos do que uma peneira.

Adhelin fez cara de que ia cair no choro e Myrnath achou que já tinha sido duro o suficiente.

- Ei, espere... acho que posso dar um jeito na situação e lhe devolver ao seu reino. Mas desconfio que nem Tage nem seu pai vão gostar muito da ideia.

- Por quê? - Indagou Adhelin, subitamente interessada.

- Porque eu teria que assumir a minha forma humana - explicou Myrnath. - Afinal, eu sou um humano enfeitiçado; não nasci dragão.

A princesa abriu a boca de espanto.

- Você pode virar gente? E por que não fez isso antes?

O dragão balançou as asas membranosas, como quem dá de ombros.

- Sabe quanto tempo um dragão pode viver? Milhares de anos! Por que eu iria querer voltar a ser humano de novo?

Adhelin ergueu-se num gesto teatral e levou as mãos ao peito.

- Por minha causa? Por favor?

Myrnath suspirou e levantou a cabeça para encará-la.

- Você se acha, não é?

E antes que ela reclamasse, acrescentou:

- Vire de costas e feche os olhos. Vai me ver na minha forma original...

E quando disse à Adhelin que podia se virar e abrir os olhos, ela se deparou com um belo rapaz. Mais bonito do que Tage, avaliou.

- Encantado em conhecê-la, princesa - disse, fazendo uma vênia. - Meu nome humano é Vensel!

- Encantada, Vensel - ela retribuiu o cumprimento.

- Acha que vão acreditar que livrei você do dragão? - Indagou o rapaz.

Adhelin levou a mão ao queixo.

- Agora que falou, estou aqui pensando num jeito de livrar VOCÊ do dragão.

Vensel riu.

- Não tão depressa, princesa!

- [15-02-2022]

Alex Raymundo
Enviado por Alex Raymundo em 15/02/2022
Reeditado em 01/07/2023
Código do texto: T7452873
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