A GENEALOGIA DA EXISTÊNCIA

O mundo se resumia ao nada. Ninguém sabia o que ele era. Não se pode descrever o inconcebível. Esse era o mundo: nada. Não havia espaço, tempo, tampouco hora ou lugar.

Da magia inconcebível do nada, nasceram Caos, Ciência e Equilíbrio. Não são o caos, a ciência e o equilíbrio. Não há designação de gênero, essas três criaturas eram como ideias, não havia matéria até então. Não tinham forma e seus desejos eram muito bem definidos.

Caos mantinha os Confins (um estranho lago primordial) borbulhando em incertezas. Essa era sua função e tudo que o seu ser, concebido apenas em ideia, estava disposto a fazer.

Por outro lado, Ciência cuidava de partículas ideais conhecidas como Curiosidade. Diferente de Caos, Ciência adorava tentar entender o que havia por trás das funções designadas aos outros. Porém, ela não poderia assumir outro posto, apenas cuidar das partículas de Curiosidade.

Equilíbrio era responsável por observar se Caos e Ciência estavam em seus devidos postos. Equilíbrio era uma espécie de vigia primordial que tinha admiração pelas inúmeras perguntas sem respostas de Ciência.

Um certo momento no inconcebível tempo que se passa por essa historia, Ciência resolveu que gostaria de saber o porquê, mas para isso, precisava enfrentar as borbulhas dos Confins.

Após distrair Equilíbrio com a pergunta: "o que é que você deve fazer quando as coisas já não forem como são?" Ciência deixou que suas partículas de curiosidade entrassem em contato com as incertezas de Caos.

Uma onda, agora carregada de matéria e energia, colapsou o nada. E onde antes não havia imagináveis ideias, agora haviam muitas coisas novas.

Equilíbrio decidiu punir Ciência e Caos, pois agora o existente já não era o que antes fôra. Foi assim que de Equilíbrio nasceu Justiça.

Justiça decidiu que agora que o mundo passaria a existir, as coisas precisariam de leis, então, unindo as ideias dos três seres primordiais (Caos, Ciência e Equilíbrio) criou dois humanos: a robusta, racional, veloz e verossímil Matemática. Além dessa primeira criatura, a rainha do mundo racional, criou o curioso, empirista, existencialista e humano Filosofia.

Matemática e Filosofia regiam a primitiva terra dos outros seres ao seus moldes. Mas, Ciência, que havia experimentado a junção da incerteza com a curiosidade, sabia que apenas a Matemática e o Filosofia não seriam suficientes para explicar o mundo.

Então, dotad de curiosidade, Ciência buscou Armadilha, uma pequena ideia que havia surgido da onda de choque que veio da primeira peripécia de Ciência. Armadilha andava desatarefado desde que Equilíbrio havia lhe entregue a Paixão Voluptuosa (a primeira de todas as bebidas) para ser vigiada.

Não havia ninguém interessado em buscar a Paixão Voluptuosa. Entretanto, Ciência deu a Armadilha a função de embebedar Filosofia, pois sendo ele mais sensível a sua natureza humana, com certeza ficaria ébrio mais facilmente.

Filosofia provou da Paixão Voluptuosa e passou a viver em função de Matemática.

Todos os teoremas, figuras e números encantaram o Filosofia de tal modo, que o mesmo resolveu declarar-se para a Matemática. Após muitas tentativas falhas, Filosofia finalmente conquistou sua donzela, ao tecer em muitas palavras e teses a existência dos infinitos. Apaixonada pela ideia que surgira de Filosofia, Matemática exigiu que os dois formassem uma nova criatura, capaz de unir as perguntas básicas de Filosofia ao rígido método da Matemática. Da união de ideias dos dois nasceu Física, a hegemônica. A única rainha humana e imortal que deu ao mundo não somente explicações, como provas de sua nobreza.