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Pensamento e o Tempo...

Duas semanas que pareceram uma vida.

Talvez foi o tempo que estive longe, talvez foi a saudade daquilo que me pareceu impossível... Duas semanas foi o tempo que eu precisei me afastar do mundo para ensinar Melissa a segurar uma espada. Duas semanas foi o tempo que levei para rever alguns conceitos sobre a minha vida. Não que eu não goste de ser uma assassina, eu gosto, mas que eu precisei tomar algumas decisões que estava fora da pauta inicial. Certas coisas na sua vida sempre precisam ser mudadas, se não o tempo te engole, de modo fantasioso, é claro.

Depois daquele dia, mais um, na casa do Arafis, resolvi pensar nele não como um cara que eu tinha passado a noite, mas sim como o cara que eu passaria muitas noites mais. Não que isso fosse um namoro, eu não sei o que é namorar, já que o último cara que falou sobre isso não pode mais contar como terminou, mas como uma relação entre duas pessoas adultas que não tem muito tempo para ficar brigando uma com a outra já que isso pode acabar muito mal. Depois de ter citado a Elen, eu cai no sono de novo e quando acordei ele me deu um caderno, com folhas amareladas e um desenho de uma rosa na capa. Bem, é nele que escrevo agora. Resolvi juntar todas aquelas folhas perdidas e colocar tudo num só lugar. É mais fácil organizar as coisas desse jeito, eu acho. Pode ser que nas folhas anteriores tenha rabiscos ou tempos diferentes, mas culpem as minhas anotações que fiz agora.

Essas folhas rabiscas que eu escrevo todos os dias agora é um tipo de diário. Eu não gostei da idéia, mas isso me faz bem... eu consigo colocar pra fora todas essas milhares de coisas que tenho na cabeça, o que são muitas por sinal. Como eu já disse uma vez, ser assassina não é fácil, é doloroso demais. Existem cicatrizes que não podem ser curadas, como é o caso da Elen, um pequeno pedaço de mim que ficou perdido em algum lugar no tempo, um lugar que eu não posso voltar mais. Mas que seja... eu acho que foram escolhas que eu fiz errado, escolhas que eu não posso voltar mais e arrumar.

Bem, eu acho que tenho que contar como foi com a Melissa agora. Tenho que admitir que tive vontade de mata lá pelo menos umas duas vezes ao dia. Ele é arrogante e prepotente, mas nem sabe segurar direito uma espada. É irritante como ela se acha superior a mim, e como com essa coisa dela ter poderes a faz ser melhor do que os outros. Se não conhecesse bem o Justin, diria que isso é um tipo de castigo pelos serviços que não quis fazer, ou que eu matei alguém que não devia... Hm... Mas isso é apenas um modo de ficar de olho nos meus inimigos, apesar daquela pirralha não ser lá essas coisas, e apesar dos meus esforços, não vai mudar muita coisa. Ela é apenas uma criança que quis se jogar no precipício errado e caiu no meu.

Eu não forcei as coisas. Na verdade, não estava a fim de forçar nada, eu queria apenas que ela soubesse que nem tudo nessa vida é fácil. É, ela até chorou quando matou o seu primeiro homem. Eu achei deprimente a cena, mas ela chorou como um bebe, mas depois... depois ela sentiu vontade de fazer de novo. Isso é como um brinquedo que você tem medo de ir, mas quando vai e sente a sensação boa que é, quer ir mais e mais. Para o começo, isso é bom. Só para o começo... depois as culpas te invadem e vai acabar como eu, precisando escrever para não endoidar.

Estive pensando em como eu sou velha. Não do modo ruim da palavra, mas do modo significativo... estou nisso há tanto anos, que não sei mais onde foi o começo e onde pode ser o fim. Eu vi aqueles que eu amava cair... Vi pessoas que era importantes irem embora. Deixei pessoas, conheci pessoas. Até hoje eu sinto saudade das feiticeiras, com quem aprendi tanta coisa, até do velho Mago Azul, e hoje são cinzas de um passo antigo. Tenho que admitir que sinto saudade até da minha irmã...

Eu sou cinzas e eu conto a história das nossas cinzas. Nossas, por que existe tanto dos outros na minha história que as vezes tudo se confunde numa coisa só.

Nenar
Enviado por Nenar em 21/11/2007
Código do texto: T746611
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