O DILÚVIO - 1/08/2021 - INCOMPLETO

1/08/2021 - INCOMPLETO

O DILÚVIO

Nos anos esquecidos, diluídos na espuma do mar, os homens permaneciam com o sopro de vida por centenas de anos a mais do que normalmente se vive hoje. Mas eles usavam todo este tempo, durante todos os dias o dia todo, engendrando somente o mal. E por isso corrompiam-se cada vez mais e mais, e conforme suas cidades e reinos avançavam por toda a Terra enchiam-na de violência, o que os desligou do Céu. A escuridão dominava este mundo, e a perversidade era tão forte que apenas um ser do céu podia contê-la. E então Akã foi enviado, junto dum batalhão de guerreiros, trazendo em si o brilho devastador do Céu para a Terra.

Haviam muitos tidos como heróis, homens renomados e adorados pelos povos, que foram receber e aplacar as estrelas quando as viram despencar do céu e foram os primeiros a morrer. Akã caiu no coração dum gigantesco oceano, com seus pés o rasgou ao meio. Seus pés transformavam em fogo o chão que tocavam. Sua respiração se alastrava por toda a terra como uma nuvem de poeira quente, incendiando todas as ilhas e continentes. As torres e palácios daquele tempo quase tocavam o céu, mas o fogo subiu mais alto e os destruiu. A ar era como enxofre, e a terra expeliu uma escuridão densíssima que engoliu o mundo. Os que ainda tinham olhos viram o sol desaparecer atrás da neblina negra, entrando numa noite que durou uma semana. As agitações no Oceano de Akã dominaram o resto das águas do mundo das profundezas até as ondas que se alçavam, avançando para as massas de terra, enquanto o calor derretia as massas de gelo e as nuvens de escuridão despenhavam tempestades.

ALTERAÇÕES GEOGRÁFICAS, TERRAS PERDIDAS, REGISTROS

A água só baixou depois de dez dias, e havia submergido até mesmo continentes inteiros como Mu, que ficava ao lado da Grãtúbia, cuja maioria das terras também foram submergidas sobrando o que hoje é a Túbia, Tlali e Ilhas Karaíbas. No leste, a Lemúria, Austro-Lemúria e Havilá eram uma só terra firme interligada com Gwon. No norte, a Hiperbórea era formada por 10 ilhas consideravelmente maiores do que as vinte uma pós-diluvianas; e havia terra firme onde hoje é o mar interior de Parwa Tartar. Afundaram também duas ilhas bem próximas à Láuracles, a leste de Ultima Thule, a maior delas tinha uma área maior do que a península de Witala.

O oceano de Akã, ou Akânico, era conhecido como Oceano de Tantark, devido a ilha de Tantárkia, que era uma porção de terra mais ou menos do tamanho das ilhas Karaíbas que se movia como um navio do sul ao norte e do norte ao sul no oceano: no início do ano estava na longitude das ilhas Mac’lohínas, mas quando a constelação da Ema surgia no Sul, já estava na de Láuracles. Tantárkia tinha este nome por causa de Tantark, um rei da beira de Láuracles que a havia colonizado construindo invejáveis cidades adaptadas as características únicas da ilha, e enfeitadas com metais preciosos de todos os cantos daquele mundo. Depois de arruinada e inteiramente submergida ela extraviou e colidiu com alguma outra terra, causando maremotos e forjando montanhas para depois se aquietar ao fundo do oceano de Akã para sempre, ecoando na eternidade de boca em boca apenas como uma lenda.

Não menos importante eram outros continentes submersos, como Mu, rico em tudo que fosse riqueza natural e esfacelado pelos furacões ácidos, implodido por vulcões e varrido pra debaixo do abismo por maremotos e tempestades. Foi lá onde os homens daquela época apareceram pela primeira vez e de lá migraram pro resto do mundo devido, no geral, a brigas entre as nações; mas principalmente pelas muitas guerras contra uma raça de homens-besta que investiam contra as cidades e as pilhavam. Estes homens-besta eram de força e resistência quase sobrenaturais, tanto que alguns conseguiram fugir para Kitay e sobreviver ao cataclismo, nas suas montanhas mais altas ou nos últimos escombros que ainda resistiam: os palácios subterrâneos arruinados do Império Oewors, que abrigaram muitos sobreviventes e alguns poucos registros do que aconteceu. Com o tempo estas escrituras acabaram destruídas, a não ser por placas de pedra em Tlali (o norte de Grãtúbia era dominado pelos Oewors, a nação mais extensa e poderosa da época) onde uma mistura de raças sobreviventes transformadas pela passagem dos séculos veio a formar uma civilização isolada, que apesar de muito culta acabou tendo algumas partes de suas relíquias dilapidadas pelas guerras constantes entre as várias etnias, e isso inclui pedaços das placas diluvianas, o que as tornaram ainda mais indecifráveis. Talvez a tradição oral de tribos Tartarianas formadas por descendentes de Oewors tivesse algo a falar sobre a época predilúvio, mas estas foram assimiladas e perderam sua cultura.

Além dos homens-besta, haviam também toda uma fauna e flora de mega-criaturas como dragões e gigantes que acabaram sendo as principais vítimas, pois seu grande tamanho e robustez não podiam lidar com aquilo e nem eram úteis pra achar esconderijos e implorar piedade aos deuses, muito menos pra alojá-los em arcas. Mas, no geral, em todo o mundo existem criaturas e povos remanescentes desta antiga era, como os draconatos; e muitos que habitam terras no oceano lemúrio podem descender de seres da antiga Havilemúria, aquele grande bloco de terra ligado a Gwon.

E sobre Gwon, lá é onde se encontra a maior diversidade de criaturas colossais, bestas poderosas, selvagens ou dóceis tanto em terra quanto em água doce ou salgada. Talvez o continente tenha sido menos hostil as mega-criaturas durante o desastre; em Túbia também se encontram alguns traços pre-diluvianos nas formas de vida, mas já mais adaptados à nova era.

Os hiperbóreos tinham um contato mais íntimo com o Céu e por isso podiam viver até milhares de anos e até se preparam para a destruição. Assim, mesmo sofrendo muitos desastres, conseguiram resistir, preservar grãos e animais e deixar uma descendência para nova era. Por isso, é na hiperbórea onde se pode encontrar um corpo mais consistente de coisas que restaram do mundo antes do dilúvio.

SOBREVIVENTES

Milhares de Oewors se esconderam no subterrâneo de suas cidadelas, -o Império se estendia desde (onde hoje é) Parwa Tartar até Kitay e Tlali- principalmente na região central de Tartar, que era a capital. Lá, eles fugiram de campos arbóreos cheios de paisagens urbanas pra depósitos labirínticos onde guardavam seus grãos; e depois emergiram num deserto frio e arenoso, que hoje é conhecido como Wubikl¹. Pelo menos as dunas geladas serviram como um ótimo véu protetor para ruínas e cadáveres, que de tempo em tempo os descobre a simples lufadas de vento. Isto as tornam mais atrativas para caçadores de relíquias em comparação ao gelo hiperboreano, que apesar de mais preservador é tão impenetrável e remoto quanto os oceanos abissais que cobrem os restos de Tantárkia e Mu.

1 - O caos tectônico criou cordilheiras que alteraram completamente o sistema de chuvas. Uma estiagem em toda região norte de Tartar e leste de Parwa Tartar, e mais intensa na região central que sediava o Império Oerow, secou todo o ambiente. E a água salina que restou do dilúvio se concentrou em grandes lagos pantanosos; por outro lado massas de ar do norte começaram a circular por ali, mas tudo que trazem é o frio do ártico e tempestades de areia, além de desgastar totalmente as rochas e o solo, que se tornam mais e mais arenosos.

Ossadas gigantes expostas espicaçaram a imaginação das tribos nômades que passaram por Wubikl. A mistura de memórias reais e mitos lhes concederam uma rica cultura, apesar do solo não ser tão convidativo a uma civilização agrária e sedentária. Ao contrário, fizeram morada nas estepes e vagando por elas encontraram uma paisagem aberta, cavalos fortes e um deus-céu que os convidava a se espalharem cada vez mais pelo continente, dormindo em tendas e abatendo quadrúpedes lanudos com arco e flecha. E graças a estas tribos Oewors pode se perpetuar, seu principal trabalho foi carregarem sua língua pré-diluviana por todo o continente, compartilhando e interagindo com várias outras tribos nômades que apesar de não serem estes tais descendentes legítimos, (assimilados, como já mencionado) acabaram por tornar-se o que chamamos genericamente de “Oewors”, ou pra ser mais específico, “Oewors pós-diluviano”

Fora desta região desértica donde sugiram as tribos nômades, alguns oewors sobreviveram em Grãtúbia e Kitay.

Os Qidwei (endonômio dos Kitay) receberam este nome de seu grande ancestral, U Qi Dwei, filho de Hia Qi, o rei dos homens, e Dang Dwei, a rainha das montanhas.

Hoje, atravessa Kitay um rio com o nome de U, que antes do dilúvio era diferente e se chamava Hii. Este rio hoje, tal como naquele tempo, vem do interior do continente, chega ao mar pelo Nordeste de Kitay atravessando o coração desta região, onde, na época do dilúvio, haviam cinco cidades comandadas cada uma por uma tribo.

Na cidade do fogo, um agricultor se destacou por suas virtudes a ponto do Rei lhe oferecer suas filhas em casamento, seu nome era U. Depois disto ele se tornou uma espécie de ministro real, e a maneira como ele lidava com assuntos de agricultura lhe dava muito prestígio, pois a cidade do fogo era muito atrasada nesta área em comparação com suas vizinhas e precisava de melhorias. Mas seu principal papel foi de filosofo e doutrinador moral. Dividiu as terras igualmente para todos os fazendeiros e estabeleceu uma ordem onde as pessoas, famílias e castas não competiam entre si, mas se dedicavam a um cumprimento virtuoso da ordem natural e trabalhavam pelo bem da cidade.

Quando o rei morreu, U tomou o seu posto, mas quanto mais poder ganhava mais justo se tornava, inspirando todos a fazer o bem. Isto lhe conferiu um contato com o Céu, e logo, chegaram os avisos de um grande desastre que arruinaria o mundo todo.

A Cidade da Água, mais poderosa de todas, germinada entre as montanhas do norte, também encarava problemas com agricultura, pois sendo a mais avançada e populosa via a demanda crescer. Desceu rumo a planície de Hii, e conforme estabelecia vilarejos e fortes militares ali na margem, onde bem do outro lado estava sua rival, Cidade do Fogo, criava uma animosidade territorial entre as duas.

Rei U revelou seu lado militar. Ele se preparou para guerra filtrando muito o número de soldados no exército, enquanto o inimigo convocava até agricultores, comerciantes e artesãos. O resultado foi a anexação de todos os vilarejos e campos ao sul da Cidade da Água em poucas escaramuças, e a captura de sua população. Felizmente, o Rei da Cidade da Água, Ma, não era inferior a U em questão de educação e bom coração, e se preocupando com as consequências duma guerra resolveu ele mesmo encontrar com U. Se não para uma solução diplomática, iria para uma batalha individual, em ambos casos os monarcas representavam o todo de suas cidades. Sabe-se que U dominou sobre a cidade da Água, e logo as pequenas Cidades da Madeira, Terra, Metal e vilarejos associados temeram e concluíram que era melhor abaixar a cabeça perante a soberania de U. O que era uma única cidade se expandia a níveis quase imperiais, e isso foi o convite mais do que suficiente à maldade, que da mesma maneira reinava em toda terra, para dominar o coração do virtuoso rei. No final, U se deixou corromper.

Como filósofo, o rei U tinha um discípulo, como rei, este mesmo era um promissor sucessor no novo sistema eletivo. Este era o jovem U, chará do rei, o velho U. O jovem U era um grande inventor. Tão virtuoso quanto um dia fora seu mestre, foi o único a se atentar à decadência moral do Rei. Ateve-se a desenhar plantas de casas, palácios e templos, projetos de navios, catapultas de guerra e fórmulas alquímicas, até que se lembrou de quando o rei lhe falava sobre crípticos sonhos convidando-o a investigar as mensagens celestiais, o que os levava a suspeitas duma eminente catástrofe, uma como nenhuma outra.

O Mal sabia sobre a purificação que viria, por isso não aceitaria ninguém fora do seu domínio enquanto podia mantê-lo. Dia e noite, quanto mais virtuoso fosse um coração dum rei, mais ele o atacava, e com uma vitória fazia explodir uma avalanche de vícios. A depravação do Velho U foi a depravação de todo o vale do Hii. O jovem U era o último justo, e como o Céu havia se afastado do Velho, os únicos avisos da destruição ao rei vinham de seu discípulo, tomados como histeria. O jovem U não tinha algo como sonhos e visões reveladores, não recebia instruções inquestionáveis dos deuses embora o desejasse. Não sabia em que confiar.

Kyá
Enviado por Kyá em 06/05/2022
Reeditado em 07/05/2022
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