Eros e Psiquê

Num antigo reino da Grécia, vivia um rei nobre em companhia de sua esposa e suas três filhas, as duas irmãs eram bonitas, mas Psiquê era sem dúvida, a mais bela de todas, sua beleza era tanta, que pessoas de todas as regiões vinham prestar devoções e admirar a beleza da jovem princesa.

- Contemplem a mais bela criatura que anda por essa terra- disse o rei.

Psiquê começou a ser adorada como uma divindade do Olimpo, e as homenagens que antes pertenciam a deusa Afrodite, passaram a ser destinadas a princesa. A deusa, furiosa, decide chamar seu filho, Eros, deus da paixão e do amor.

-Filho querido, tal mortal acha que está no mesmo patamar dos deuses, merece ser punida por tamanha insolência. Por isso, faça com que tal mortal se apaixone pela mais horrenda criatura!!!

- Sim minha amada mãe, como queira- respondeu Eros.

No decair da noite, o cupido dirigiu-se até o palácio da jovem princesa, e minuciosamente, chegou aos aposentos de Psiquê, e a mesma, encontrava-se dormindo. O deus, curioso com que o que diziam sobre a beleza da princesa, verificou se era verdade o que todos diziam. Em um movimento inesperado, Psiquê acaba se movendo enquanto dormia. Eros assustado com o movimento, acaba ferindo-se com sua própria flecha, e então, o jovem cupido fica apaixonado pela bela mortal e não consegue cumprir a tarefa pedida por sua mãe, mas Afrodite não deixaria que Psiquê escapasse impune de sua ira.

O tempo se passou, as irmãs de psique se casaram, enquanto a bela princesa, ainda continuava solteira. O rei inquieto com a situação, decide visitar o oráculo de Delfos em busca de respostas sobre Psiquê, e uma das pitonisas do templo lhe diz:

- Sua filha se casará com um ser alado perverso, que se satisfaz ao ferir os mortais e divindades do Olimpo, a princesa deverá ser abandonada na beira do abismo, vestindo trajes matrimoniais, onde será entregue a essa terrível criatura, que será responsável pela sua morte.

O rei fica desolado ao saber o destino de sua filha, e então, decide seguir as orientações do oráculo para evitar que uma maldição caísse sobre seu reino. A princesa é levada até o abismo por uma procissão nupcial, que mais parecia um cortejo fúnebre. Depois dos lamentos de tristeza e sofrimento, Psiquê é abandonada a beira do precipício à espera de seu marido, uma brisa começa a elevar a jovem até o céu, este vento, era Zéfiro, o vento do oeste que conduziu a jovem até um palácio nas nuvens onde Psiquê encontraria o marido a quem ela havia sido destinada.

O local era de uma beleza exuberante, onde não faltava ornamentos de ouro e prata, também possuía magníficos jardins, que nem mesmos os mais hábeis jardineiros seriam capazes de cultivar. A jovem, ficou boquiaberta com tamanha beleza do palácio, foi quando ela ouviu uma voz, porém não via ninguém ao seu redor e percebeu que se tratava de criados invisíveis.

- Minha senhora, tudo que vês agora lhe pertence, e estamos a sua disposição para lhe ajudar, em tudo que desejar- disse a voz.

Os criados ajudavam Psiquê no banho, nas refeições e cantavam as mais harmoniosas canções, e lhes disseram que somente a noite, o seu esposo iria surgir.

Chega a noite, e aflita, Psiquê aguarda o seu temido marido. O quarto encontrava-se na mais completa escuridão, onde era impossível enxergar qualquer silhueta, a jovem sente a presença de seu marido, e ao contrário do que imaginava, ela foi tratada com todo afeto e amor. Todas as noites, Psiquê era visitada por seu marido, mas quando a alvorada surgia, o mesmo já havia desaparecido. Em uma noite a princesa pergunta ao seu marido:

- Meu amor, por que se esconde nas sombras ? queria tanto saber como você é.

- O amor que compartilhamos não é o bastante ?- perguntou Eros

- Só peço que não me veja, pois na escuridão, somos como iguais.

Psiquê decide respeitar o pedido do marido, e passa a não tocar mais no assunto. Com o passar do tempo, a princesa começa a sentir falta de sua família e faz o seguinte pedido ao seu esposo:

- Meu amor, sinto tanta saudade de minha família, e dói meu coração saber que eles pensem que estou morta. Suplico, deixe-me visitá-los.

Eros decide conceder o pedido da princesa, pois acredita que se deixar a mesma partir, e ela retornar, é um sinal que a jovem o ama genuinamente. Os familiares de Psiquê ficaram surpresos com o retorno da menina, já que achavam que nunca mais a veriam de novo. O retorno foi triunfante, Psiquê estava vestindo as mais belas joias, a princesa parecia a mais rica das rainhas.

Suas invejosas irmãs não acreditavam nas histórias que Psiquê contava enquanto distribuía os mais valiosos presentes. Foi quando uma das irmãs disse:

- Tudo que você disse, tende ao exagero, e não acredito que realmente seja tão maravilhoso.

- Não precisam acreditar em mim, venham comigo e poderão ver com seus próprios olhos - disse Psiquê.

Assim, Zéfiro conduziu Psiquê e suas irmãs até o palácio celestial, e lá elas perceberam que tudo que sua irmã disse era verdade. O que só fez crescer ainda mais a inveja que elas tinham sobre Psiquê que lhes disseram:

- Sei que tudo parece maravilhoso, mas não se esqueça do que foi dito pelo oráculo, você se casou com um monstro e ele será responsável por sua morte.

-Faça o seguinte, quando sentir que ele está dormindo, pegue uma faca, ascenda uma luz e após ver o monstro, corte a garganta dele.

Suas irmãs partiram, mas deixaram a semente da desconfiança no coração da princesa. Chega a noite, e Psiquê sente seu marido dormindo, a menina empunha uma faca e ascende uma lamparina, ao se aproximar da cama, ela notou que não se tratava de um monstro, e sim de um jovem com uma beleza divina. A garota se aproxima para comtemplar a beleza estonteante de seu marido, contudo, uma gota de óleo fervente cai sobre o peito de Eros que acorda assustado e se depara com Psique empunhando uma faca em sua mão, irritado ele diz:

- Como pode ser tão tola?! é assim que retribuí meu amor ? julgando-me como monstro e querendo cortar minha garganta?

-Perdoe-me meu amor, sei que errei- Disse Psiquê.

- Eu lhe fiz um único pedido, e você não foi capaz de cumpri-lo, por isso, não retornará a me ver nunca mais- disse Eros voando do quarto.

Ao saberem que a jovem foi repudiada por seu marido, as invejosas irmãs foram até o precipício onde se jogaram na esperança de serem levadas por Zéfiro, porém o mesmo não as segurou e deixou que caíssem no abismo. Desolada, a princesa decide ajudar nas tarefas do templo da deusa Deméter, mas em nenhum momento parou de pensar em seu amor perdido. A deusa Deméter que a tudo via, diz:

- Pobre Psiquê, sinto compaixão por sua dor, por isso, lhe dou o seguinte conselho, vá até o templo de Afrodite e se ofereça a deusa com humildade e submissão, e assim, poderá aplacar a ira da deusa e quem sabe, poderá reconquistar seu amor.

Ouvindo o conselho da deusa, a jovem parte em direção ao templo da deusa do amor, e lá é recebida por Afrodite, com muita desconfiança.

- A mais insolente e desleal das criaturas que anda por esta terra, agora quer me servir?- disse a deusa

- Não crés que será perdoada facilmente por mim, após roubar minhas honrarias e ferir meu filho. Expurgar seus pecados será muito penoso, e você terá de realizar os mais difíceis trabalhos, que poderão custar a sua própria vida.

-Estou desposta a tudo- disse Psiquê

- Para ao menos ter uma pequena chance de conseguir seu perdão, e reconquistar o meu amor.

Como primeiro trabalho, Psiquê teria de ir ao celeiro de grãos e separar as variedades de grãos que se encontravam no local, contudo estavam completamente misturados, a dificuldade dessa tarefa teria espantado até mesmo Hércules. Eros que a tudo via, pede que as formigas ajudem a princesa em sua tarefa, assim, a jovem termina seu trabalho em tempo recorde. A deusa indignada com tal feito, designa Psiquê para coletar a lã dourada de carneiros selvagens muito perigosos. Com a ajuda do Deus rio, a princesa consegue remover a lã sem ser atacada. Incrédula com o retorno da menina, a deusa da beleza agora exige que Psiquê lhe traga águas da nascente do rio Estige, que ficava no alto de uma montanha.

Escalar a montanha parecia uma tarefa impossível, mas Zeus que a tudo observava, pede que sua águia colete a água e entregue-a para Psiquê, assim mais um trabalho foi concluído. Furiosa a deusa do amor diz a Psiquê:

- Sei que tens conseguido realizar essas tarefas por teres conquistado a piedade dos deuses, mas seu próximo trabalho custará um preço que só você poderá pagar. Os aborrecimentos que tens me causado desgastaram minha beleza, por isso, exijo que vá ao reinos de Hades e peça que a rainha Perséfone encha essa caixa com um pouco de sua beleza, para que assim eu possa restaurar meu esplendor, e assim, terá o meu perdão e minha benção para se reunir com meu filho.

Psiquê sabia que seu fim estava próximo, e não sabia outra maneira de adentrar o submundo a não ser tirando sua própria vida. A jovem estava prestes a saltar do alto de uma torre, quando escuta uma voz:

- Existe outra maneira, indicarei a forma de ultrapassar obstáculos, com Caronte o barqueiro e Cérbero o cão guardião de três cabeças, mas ao retornar, lembre-se não abra a caixa em hipótese alguma.

Psiquê desce por uma gruta e alcança as margens do rio Estige, ao encontrar o barqueiro Caronte, ela lhe entrega duas moedas como pagamento e lhe diz:

-Estou a serviço da deusa Afrodite e tenho uma audiência com a rainha Perséfone que me aguarda.

Assim, a princesa atravessou o rio das almas rumo aos domínios de Hades. Já, frente a frente com Perséfone ela diz:

-Estou aqui a pedido de Afrodite que lhe pede que encha essa caixa com um pouco de sua beleza, para que assim ela restaure a beleza que perdeu.

Perséfone lhe devolve a caixa, que agora está mais pesada, e Psiquê parte em direção a saída do submundo, lá ela se depara com Cérbero impedindo sua passagem, todavia ela havia levado consigo um pão de cevada e mel embebecido em sonífero e ofereceu ao cão, e este, caiu no sono e assim Psiquê pôde progredir ilesa rumo a superfície.

Enquanto o barqueiro fazia a viagem de volta, a princesa vê seu reflexo nas águas e percebe que todos estes trabalhos lhe deixaram com um aspecto de uma pessoa cansada, enquanto caminhava, Psiquê pensa:

-"essa caixa está transbordando de beleza, não fará mal eu pegar só um pouquinho para mim, e assim quando eu reencontrar meu amor, estarei bela e radiante para ele"

A princesa abre a caixa, e de lá, sai uma névoa escura. Ao aspirar a névoa, a jovem começa a desfalecer lentamente, e Eros, ao saber o que houve com sua amada, parte para encontra-la e após o reencontro, o deus usa seus poderes para colocar a névoa de volta na caixa, Psiquê então, acorda nos braços de seu amado e diz:

-Meu amor, sinto que agora posso olhar nos seus olhos sem o risco de te perder.

E então o casal se beijou apaixonadamente, Eros orienta que Psiquê termine seu trabalho, enquanto ele orienta Zeus a convencer Afrodite a permitir a união do casal. Quando Psiquê termina seu último trabalho, ela é levada ao monte Olimpo e das mãos do próprio Zeus, ela recebe néctar e ambrosia, onde lhe concederiam a imortalidade. E assim, a jovem pôde finalmente estar ao lado de seu grande amor.

Apuleio e Foca na história
Enviado por Thalisson Medeiros em 19/11/2022
Reeditado em 21/11/2022
Código do texto: T7653555
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