MECSTAR — O APRENDIZ DE HERÓI • 15

• Capítulo 15 — O Devorador de Sonhos •

— Pois bem, jovem Svam, — Disse o Sábio quando terminamos de comer — vamos começar pelas suas dúvidas mais básicas. — A Polícia Espacial, na verdade não me espanta muito que não a conheça por essas bandas, também chamada de polícia galáctica, ela interfere nos assuntos interesse intergaláctico. Uma força independente, que trabalha para manutenção e cumprimentos das leis intergalácticas. Já a Aço e Fogo é uma ordem arcana e muito antiga. Sua origem é milenar, nas primeira guildas dos ferreiros, construtores e projetores...

— Veja lá o que você vai falar, velho! Como um membro da A&F não vou permitir calúnias e desinformações sobre a nossa iluminada ordem.

— Saber nunca é demais, meu jovem. Qualquer quantidade de saber é de menos. A A&F já foi chamada de muitos nomes no passado, Ferro & Fogo, Lâmina & Chama, ou ainda, Tocha & Aço. Foram os membros dela, aliás, que abriram os portais dimensionais...

Aquilo realmente estava me interessando. Pouco tempo atrás tudo o que me importava era ter algo para por no meu estômago sempre faminto. Agora, se eu seria um herói, teria que saber tudo sobre essas coisas e mais.

— Eram heróis?

— Heróis? — a palavra aparentemente causou estranheza ao velho. — Nããão. A era dos heróis há muito já tinha passado quando o lema “tocha numa mão e aço na outra” foi proclamado pela primeira vez. A tocha representando a iluminação graças ao conhecimento, e o aço, a conquista e mantimento da ordem através do poder, ou da violência, se preferir. Novos mundos foram descobertos, colonizados e, assim se diz, civilizados graças a esta ordem de enorme poder. A Coroa só domina tantas galáxias hoje graças a isso, as aberturas dos portais dimensionais. Com eles era possível ter acesso a uma grande quantidade de segredos antes ocultos. Algo que por meios convencionais levaria séculos, talvez milênios para ser descoberto, revelava-se por inteiro, graças a tais portais. Mas isso foi há muito, muito tempo. Muitas estrelas já morreram desde então, e não apenas no sentido poético da palavra. Houve rebeliões, claro, sempre há, mas nunca houve nada tão grave quanto a libertação de Kat’rarkzort, o Devorador de Sonhos.

— Quem? — Perguntei, sentindo inexplicavelmente um arrepio nos numerosos pelos dos meus braços.

Um cara que não saia da padaria sem comer um sonho! — Disse Bongo, explodindo numa gargalhada e dando fortes tapas na barriga volumosa dele.

— Qual é o seu problema, Bongo? — Eu disse, mas nem olhei para ele. Não parava de fitar o Sábio das Bolhas de Sabão. Sentia-me de certa forma arrependido por ter desperdiçado meu primeiro encontro com ele. Quantas coisas eu já teria aprendido?

— O Devorador de Sonhos é o contrário da vida, meu jovem. Não uma vida humana, cujo inverso seria a morte, ou uma morte simples, mas a Vida, com V maiúsculo. Essa coisa que pulula em tantos pontos do universo, que faz os seres nascerem, crescerem, evoluírem e se espalharem em tantos infinitos padrões possíveis. O Devorador de Sonhos se alimenta de tudo que existe. Físico, mental, espiritual... Houve uma época que ele ficou tão forte que, dizem, era capaz de devorar planetas inteiros. Ele não engolia a terra, os oceanos e o recheio quente e vermelho... Ele devorava os sonhos, todos os sonhos do mundo, e com isso o caos e a destruição se seguiam inevitavelmente. A Coroa o combateu, claro, era uma ameaça a seu próprio poder, mas as perdas foram grandes, e os portais foram destruídos. Um portal foi aberto para a estranha dimensão do Vazio, e foi nela que aprisionaram o Devorador de Sonhos. As Bolas de Gude Carambola foram as chaves criadas para esse portal. Eram três. Cada uma foi dada a um Defensor da Coroa de alta patente que viajou pelo universos sem destino determinado. Alguns dizem que seria melhor tê-las destruído, eu sou um deles. Mas a Coroa não ia querer se livrar tão fácil de um poder como aquele. Enquanto os mundos soubesses que estava na mão da Coroa o poder para libertar o mal indizível, todos a temeriam e se sujeitariam a ela. Assim, apesar da destruição dos portais, o poder da Coroa continuou a crescer após o selar do Comedor de Sonhos.

— Falando em poder. — Eu disse sem pensar, tirando minha Zitara de um bolso do colete. — O que o senhor sabe sobre armas como esta?

— Agora estamos diante de algo realmente surpreendente, meus jovens. De que museu você roubou isso, Svam?

— Se alguém roubou esse troço, foi o Bongo aí. Foi ele quem me deu.

— Foi encontrada em escavações de planetas em ruínas. — Disse Bongo, indiferente — Provavelmente é da época das Primeiras Guerras da Coroa... aliás, eu nunca o falei, Mectá, mas ela nunca tinha funcionado com ninguém, até que você a usou.

— Não diga! — Gritei. — E eu achando que você tinha tido algum tipo de consideração por mim... mas veja só, queria que eu matasse uma Miltopéia de Três Cabeças e Cento e Um Ferrões com uma arminha quebrada?

— Não achava que uma arma faria qualquer diferença em suas mãos... em todo caso, veja onde chegou.

— Eu podia está morto!

— O importante é que não está. — O sábio falou calmamente. — E o fato dela ter funcionado com você pode o dar uma grande esperança... ou uma grande decepção.

— Como assim?

— Não posso confirmar se é verdade ou não. Mas grande parte da tecnomagia dos primeiros anos da Coroa era muito superior à aplicada hoje. Armas como estas eram criadas com uma ligação mágica única com o dono. Em poucas palavras, elas só funcionavam de verdade nas mãos para as quais tinham sido criadas. Logo, é provável que você seja no mínimo um descendente distante do soldado para o qual a arma foi feita. E isso é uma boa esperança, não acha? — De minha parte, eu achava que não. — Por outro lado, pode significar também que ela já vinha apresentando defeitos, por funcionar em suas mãos... e agora finalmente quebrou de vez.

— Isso não importa. — Bongo falou — O que realmente importa é o súbito interesse dos Come Sombras nas bolas.

Olhei para o sábio e levantei uma sobrancelha.

— Ah, os Come Sombras. Uma seita antiga surgida após o aprisionamento do Kat’rarkzort. Eles o adoravam e invocavam em rituais buscando aprender os meus de eles mesmos devorarem sonhos mas tudo o que conseguiam comer era sombras... e corria o boato de que planejavam trazer o Grande Vazio de volta, para que Kat’rarkzort os ensinassem.

— O que explica pra você, Mectá, o profundo interesse da minha Ordem Galáctica nas esferas, não?

Eu ainda não tinha pego o fio da meada, mas não ia deixar ele me por para trás.

— Claro que sim.

— E o Re-Claw, aquele que tirou a vida de meus amigos, é membro dos Comedores de Sombras?

— O Re-Claw? — Bongo riu. — Ah, não aquele ali não faria parte de nenhum grupo que ele não fosse o líder... e não teria capacidade para fazer um ritual se quer... não passa de um caçador de recompensas.

Essa eu peguei.

— Que pode muito bem está trabalhando para os Come Sombras, não é mesmo?

— Caramba, Mectá! Quer um prêmio? — Bongo continuou: — O senhor não está em condições de se defender, e, como sabe, a situação parece ser um tanto urgente...

— Sei onde quer chegar. E minha resposta é sim.

Me perdi novamente.

— Oi?

— Vocês terão a bola de gude carambola, a última que existe neste planeta e talvez no universo, já decidi isto.

— Já? Tão rápido? — Falei, olhando para um relógio invisível no meu pulso.

— Qualquer um que capaz de soprar bolhas de sabão, sem prática nenhuma, diga-se de passagem, por uma hora com um velho desconhecido e maluco como eu, merece um pouco de confiança. E aliás, que me resta? Eu não confio na Coroa, se quer saber, nem tenho medo de morrer por falar isso... o que tenho a perder? Nunca fui guerreiro, meus amigos se foram há muito, os dois últimos há pouco. Vocês são minha melhor escolha para confiar este segredo nesse momento de urgência.

De dentro da veste dele, ele retirou um mapa velhíssimo e nos entregou.

Estava todo marcado com a letra Y. Exceto num único local.

— O local não marcado por um Y é onde vocês devem ir. No Dragão de Fogo, na Cordilheira das Chuvas Infinitas.

— Espera. — Bongo falou. — Deixa eu adivinhar. Alguma besta mortal gigante vai está nos esperando lá.

— O primeiro desafio será as chuvas, claro, mas isto pode ser resolvido com a compra de um guarda-chuva aqui mesmo na feira, se vocês forem espertos o bastante para não esquecê-lo. O segundo, e pior, será recuperar a bola de gude carambola, que se encontra na barriga do Thar-Dragão.

Minha cabeça começou a doer.

— Mas... e a Bola que foi destruída? Se só eram três o portal não mais poderá ser aberto.

— A Bola que vocês encontraram era falsa, um réplica muito bem feita implantada por mim no provável local que a Coroa a procuraria se a quisesse um dia. A Bola verdadeira está em Farafandor, em Thar-Dragão, na Cordilheira das Chuvas Infinitas.

— Ah, entendi. E eu pensando que iria sair vivo dessa história.

O Sábio olhou para mim e deu de ombros.

— As chances são relativamente boas, meu amigo, desde que não se esqueça de comprar um guarda-chuva...

Davyson F Santos
Enviado por Davyson F Santos em 24/11/2022
Reeditado em 24/11/2022
Código do texto: T7657267
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