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O Outro Lado 16/09

Nem todos são bons, nem todos são maus...

Existem coisas que nós, reles seres humanos, nunca vamos entender.E eu, sinceramente, não faço muita questão mais dessas coisas... Aprendi a sobreviver sem muitas expectativas de vida, sem coisas importantes, sem muita coisa pra chamar de meu. Era apenas eu e as minhas loucas aventuras com a Williams, sem se preocupar com o dia seguinte, apenas com que eu mataria naquela noite ou em que bar eu beberia até não pode mais. Mas tudo muda... E não adianta falarmos que não, não adianta você tentar se manter preso há um tempo que passou, usar as mesmas frases repetidas que se tornaram sem efeito, falar sobre vinte anos atrás e de como as coisas eram melhores, como todos eram pessoas melhores.

Havia apenas duas coisas que mantinham a minha cabeça no passado: Charles e Elen. E parecia que quanto mais eu lutava contra tudo aquilo, mais o destino mostrava que de um jeito ou de outro eu teria que resolver tudo, por mais que isso doesse e machucasse ambos os lados, e na noite anterior, no bar, ficou mais claro o possível o que eu teria que fazer: Estava na hora de colocar fim aquela situação e ver o que seria de mim a partir daquele momento, uma assassina ou uma mãe. Para ser bem sincera, eu não estava com muita cabeça para escolher o que seria de mim.

Quando puxei a espada ele ficou me olhando por alguns segundos, como se estudasse o que eu estava fazendo. Foi tão rápido que eu nem senti quando a mão direita dele enfiou alguma coisa nas minhas costas, apenas o vi me segurando e escutei a minha espada caindo no chão. Aquilo não doeu mais do que perceber o que estava acontecendo de verdade, perceber o que ele tinha feito. A única coisa que eu escutei ele dizer era um pedido chulo de desculpas e que tudo ia ficar bem, mas é claro que era mentira. Você não pode se levantar e sair andando, não estou querendo dizer pelo fato físico, mas pelo emocional da situação. Eu jamais iria ferir ele, eu nunca poderia fazer isso...

A pior parte é acordar no dia seguinte. E quando abri os olhos, havia quatro rostos impacientes me olhando do sofá que tinha em frente à cama, com uma expressão mais preocupada impossível. Rostos embaçados, mas reconhecíveis ao se olhar um por um. Surpressas...

- Vaso ruim não quebra. Já escutaram essa expressão?

Nina sorriu pegando no colo o menor dos rostos que me observava. A pequena criatura estava um tanto sonolenta e os olhinhos azuis me olhavam sorridentes com a mão na boca. Era a cena que jamais iria se repetir em minha vida: Nina Williams segurando uma criança sem nojo nenhum e ainda por cima minha filha. Tão pequenina e tão fofa. Ao vê lá sorridente daquele jeito, eu me derreti inteira, senti meu corpo mais leve e ouvi a voz imperiosa da Melian de fundo, enquanto pegava Elen no colo e abraçava.

- Ah, foi melhor do que eu imaginava Dah. Você não morreu e agora tem uma filha linda, um homem bom e uma vida pela frente.

Como num estalo, entendi tudo o que aquelas três doidas queriam. Estavam ali apenas para eu criar juízo e sair daquela vida, elas queriam o meu bem e me manter longe do perigo. Bem... tinha que ser as três para tentar fazer algo do tipo. Porém, por alguns instantes, quis apenas ficar olhando a garota em meus braços, a minha filha que estava com um sorriso no rosto e apenas me dei o luco de olhar como estava bonita: Cabelos negros como os meus, a pele pele clara, o nariz pequenino e arrebitado como o do pai, os olhos azuis claros. Era uma boa tentativa. Levar uma vida normal, criar ela e ficar junto do Arafis, este que continuava sentado na cadeira, apenas olhando tudo aquilo.

- Bem... Eu não sei se ele se importa de eu ter uma filha já.

Ele sorriu se levantando e andando até a cama e me deu um beijo na testa. Fez um carinho no rosto da Elen, que sorriu me abraçando de novo.

- Vamos ter que arranjar um quarto para ela.

Estava tudo indo tão bem que parecia mentira. Parecia que era um conto de fadas e tudo estava terminando bem no final...Só faltava aquela música que toca junto com os créditos finais. Mas eu sabia, e todos ali, que seria temporário apenas. Nina sorria sem graça, sabendo que as coisas iriam mudar de verdade dessa vez e seria difícil. Melian estava calada, apenas ouvindo Arafis falar dos seus planos para os três. Eu ficava cutucando Elen, vendo os milhares de sorrisos que saiam sem muito esforço.

- Bem Dah, eu tenho que ir...Alguém ainda trabalha por aqui não é? Vejo-te a noite, não pense que irá se livrar de mim tão fácil, sua vaca.

- À noite. Cuida-se Nina.

Eu podia sentir que a Loira não estava bem. Nós sabíamos que não seria fácil deixar a Sexy & Deadly, eu ainda tinha vários compromissos, tinha a mimada da Mellisa, tinha o Charles... Eu sabia que nada iria ser como antes, mas sabia que o pior ainda estava por vir. Ninguém sai tão fácil, ninguém pode simplesmente deixar de ser o que é. Melian sabia disso muito bem, conhecia me desde que eu nasci e como minha irmã sabia que aquele era apenas o começo de uma nova história, talvez pior que a anterior. Medo? Talvez...Sabia que nada ficaria por isso mesmo. E o tempo não cura as feridas, só fazem nós as esquecermos por algum tempo...

Uma nova vida, uma nova pessoa? Definitivamente não... Por mais que eu queresse começar tudo de novo, no fundo eu sabia que não tinha como dar muito certo. Sabia que o tempo ia passar e tudo ia acabar mudando de novo, por que não temos como nós manter numa redoma de vidro para sempre. Com todos esses problemas, Arafis sugeriu uma viagem a três para passarmos um bom tempo longe da bagunça que eu estava vivendo. Não tinha como querer algo melhor. Não tinha como pedir um homem melhor. E foi desse jeito que deixei tudo para trás, pelo menos por algum tempo... Mas antes de partir, Nina me deu uma carta do Justin, meu ex-chefe.

Se eu abri? Não...Talvez algum dia. Mas o que ainda martelava na minha cabeça é que nada mais podia ser como antes e quando eu voltasse a realidade iria fazer menos sentido que a ficção.

Nenar
Enviado por Nenar em 08/12/2007
Reeditado em 10/12/2007
Código do texto: T769887
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