Meu Filho foi Abduzido

Nossa, que loco meu; muito loco, isso! Analise o leitor, que deixei de comer, juntei as ninharias de dinheiro das assistências governamentais, vendi os sacos de leite em pó e torrei a preço de picanha o botijão de gás que recebo mensalmente, para presentear meu filho Gaspar com um celular; e nunca mais tivemos contato. Assim que pegou a pecinha nas mãos, configurou-a e fez os primeiros ensaios: vupt, o mocinho evaporou. Sumiu do mapa. Acho que feito verme de porco, a pecinha entrou na mente dEle e era uma vez Gaspar.

Sei que Ele não saiu de casa, tenho quase certeza, mas não o encontro em lugar nenhum. Acredito que está tão inebriado pelas centenas de amigos de Sapp, tik-tok, facebook, Instagran, Tinder, Twiter, jogos virtuais e de tanto bater teclas, ficou zureta pela tela de celular e acabou levado, tragado, abduzido pela máquina. Agora, não sei como foi parar lá dentro: para se ter ideia, está prestes a completar 15 anos e calça tênis número 44. Gaspar é grande menino, pequeno gigante de pés proporcionais ao seu gigantismo. E se continuar como era antes do celular, cada passo dado fará estremecer o globo.

Esse diabo de celular que come gente viva, é loco, muito loco, meu. Faz um mês que não durmo. Por perder meu filho para ele, estou profundamente arrependido.

Em um mundo editado pelas máquinas e validado pelos homens, os males fazem algazarra silenciosa na mente do usuário; ademais, os males bagunçam o coreto sem serem vistos. Com isso, conclui-se que certas máquinas são drogas alucinógenas lícitas.

P.S.: ladrão legalizado é aquele que colhe as hortaliças, ou come a fruta (maçã por exemplo) que não plantou.

Um dia (in) feliz na Cracolândia, São Paulo

Olha, Eu tenho oitos filhos que são preciosidades de filhos. Para não dizer que não falei das bitucas de cigarro e naguilés, ou cachimbos cracados, para valer o investimento diário em alimentação, papel higiênico, absorventes, internet, vestimentas, calçados, pressão familiar, etc, enquanto Eles dispendem esforços aos montes para produzir o valor equivalente a um creme dental pequeno por trimestre, Eu descabelo, dou meus pulos, roda à baiana, queimo as minhas reservas de paciência para fazer dEles cidadãos honestos e responsáveis.

Mas é aquele aforismo popular: "quem pariu Mateus, que balance-o, pois Ele quer dormir". Apesar de todos os contratempos e as misérias de assistências dadas pelos governos, meus oito filhos, - incluindo um nascituro - Eu curto demais, amo-os, adoro Eles; e isso basta!

Bem vindo ao dia, hoje!

Despertei nesse instante, madrugada de segunda-feira, meio sem inspiração para iniciar o dia, corri ao espelho, olhei minha cara de lua cheia, estilo queijo furado; desejei-me um bom dia e enviei uma mensagem para minha mente: hoje, além de ser domingo, é feriado. Não encha o saco, falou?!

Voltei correndo para o quarto e com a mesma cara e toda coragem do mundo, mergulhei meus sonhos, arquivei-os, debaixo do edredom.

Para o ateu praticante e funcionário público como Eu, até feriado religioso deve ser comemorado e além do mais, guardado. Santo Mutagambi, o Santo de todos os dias dedicado aos vagabundos, proteja-me!

Boa noite, Sol, boa noite, nuvens, boa noite insone do Recanto, boa noite, dia! Bem vindos ao dia, hoje; que amanhã seja igual, Amém!

Maldição

Bati um frasco de repelente no quarto: nada. Estapeei-o: nada. Amaldiçoei-o: nada. Quebrei suas patas e asas com um peteleco: nada. Isquei-o com uma bisnaga de sangue: não caiu no engodo. Ô inferno!

Tentei matar o pernilongo de todas maneiras. Ao passar a mão e notar as elevações e ver no espelho a minha cara picotada, desisti. Nunca mais duvidarei que existem bichos feitos de aço inoxidável. Cruz-credo!

Percebendo o meu cansaço, fraqueza e inoperância, explodiu: buuuum! Tombou desfalecido nos braços do vudoo que cultuo. Tomado pelo susto, no momento da explosão o vudoo saiu do abajour, pousando sobre o criado-mudo. Feito bom sentinela, circulava por todos os ambientes da casa.

Amanhã, limparei os respingos de sangue que impregnaram as paredes brancas, alvas como nuvens de algodão. O mesmo não posso dizer sobre mim: impossível deitar e dormir, sujo como estou.

Sempre ouvi dizer que não é preciso sair à procura, pois, quando menos espera, a maldição adentra a casa do descrente.

Certamente, esse conto de "terror", Alan não apoia, afinal, fraquíssimo. Reconheço que não tenho aptidão para a ficção verdadeira, Edgar.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 13/02/2023
Reeditado em 02/03/2023
Código do texto: T7718323
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