Imprevisíveis infidelidades II

Embarcamos a bordo do Caledonia no píer da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Faríamos uma escala em Salvador e Recife. Depois, direto à Lisboa. Em Le Havre, desembarcaríamos e continuaríamos nossa lua de mel, viajando em trens por toda a Europa.

Bartolomeu tinha como companhia seu secretário particular e eu uma dama de companhia. Ambos ficaram alojados em cabines da segunda classe, ou seja, uns dois conveses abaixo dos nossos.

Desde do primeiro momento que nos encontramos e nos deixaram a sós, Bartolomeu mostrou-se um amante controlado e viril. Foi de uma ternura infinita devido ao meu descontrolado furor sexual, que ele pensava que era medo do primeiro contato carnal.

Carinhosamente domou a égua luxuriosa em mim e... desmontou.

Em minutos, enquanto me preparava para conhecer seu corpo detalhadamente, ele se ergueu da cama vestindo o robe-du-chambre e se dirigiu ao banheiro.

“Ah! Essa é a regra então? É assim que devemos nos comportar? O que eu estou sentindo deve passar. Acho que não devo entrar no banheiro enquanto ele estiver lá. Muito bem! Aos poucos vou aprendendo.”

Desta forma eu pensava e passei a aceitar docilmente esta maneira de vida sexual. O amor que eu dava e recebia de Bartolomeu amainavam as pulsações de minha libido.

Durante o dia, Bartolomeu e o secretário tratavam das correspondências e dos assuntos relativos ao senado. A dama de companhia, era ao mesmo tempo subserviente e acabrunhada, assim eu passei a dispensá-la e dois dias depois de partimos eu lhe disse que se precisasse dela eu a chamaria.

Meu marido não se comportava como o típico marido latino ciumento. Assim, eu socializava constantemente com as pessoas, que se pode dizer, eram da minha classe.

Certa noite durante a soirée, eu senti um pouco de enjôo. Vendo que Bartô parecia estar absorvido em alguma conversa interessante, não quis perturbá-lo e me dirigi sozinha pro camarote.

Fecho a porta às minhas costas e logo sou imobilizada por trás por braços tenazes e minha boca tapada por uma mão de dedos nodosos. A ponta de um punhal aparece na ponta de meu nariz e depois desaparece pra em seguida sentir uma picada no pescoço.

- Isto é só uma amostra da imensa dor que é ter a garganta cortada de lado a lado! Vou te soltar. Não grite, pois não há modo de escapar e aceite desde já o inevitável. Só sairei daqui depois de matar teu marido! É só isso que eu quero...portanto não faça nada que vá aumentar a lista de mortos!

O terror em mim era tanto que a indisposição se tornou uma incontrolável cólica abdominal e sem pensar em mais nada corri pro banheiro.

Enquanto me recompunha depois do vomito foi que me conscientizei da presença daquele homem encostado no umbral da porta do banheiro. Meu choro veio em ondas incontroláveis.

Senti um ardor numa face. Depois o mesmo na outra face e garras segurando meus braços me balançavam violentamente. Só no terceiro tapa no rosto é que parei com o choro histérico.

Ele me fez sentar numa poltrona e insistiu que eu desse uns dois goles numa das bebidas fortes que estava a disposição.

Algo estava acontecendo comigo, além do terror de ter que presenciar o assassinato de meu marido. Eu sentia uma fervura por todo meu corpo e tinha certeza que meu rosto estava ruborizado, pois eu notava de vez em quando que o assassino me fitava como se estivesse admirando algo extraordinário belo.

Pareceu-me que seus olhos eram de um azul escuro. O formato de suas pálpebras pareciam de um oriental, mas seguramente ele era um caucasiano, mestiço talvez. Não era belo, tinha porém, marcas viris no rosto e aparentemente seus dentes eram sadios. Ele mantinha a aba do chapéu praticamente escondendo as hirsutas sobrancelhas negras.

- Por que? Ao menos eu devo saber o porquê!

- Os Correas não gostam dos Odervrecht. Há anos que eles matam-se um ao outro. Não sabia? O coronel Correa me contratou...

- Mas... assim, friamente? Não existe remorso em voce? Deus! O que voce dirá a Deus?

- Deus quer distancia de homens como eu. Conheço muita gente que me contratariam para matá-lo...se ele pudesse ser encontrado!

Vislumbrei um leve sorriso de escárnio no rosto dele. Meu pavor aumentou ao saber que estava diante de um ateu, de um materialista predador. Sua moral se baseava somente em aplacar a fome do dia seguinte. Isto até poderia ser considerado amoral pelas circunstâncias que a vida tinha lhe aprontado e seu livre arbítrio só obedecia a determinação de arranjar o pão de cada dia, vencendo todas as imprevisibilidades que aparecessem a sua frente.

Ao arranjar meus pensamentos dessa maneira, meu instinto de sobrevivência me dizia que eu deveria contornar sua inquebrantável determinação.

- Eu sou Adélia e sou rica. Sei que pra voce isto é só um trabalho remunerado e...

- Não desperdice suas palavras, dona Adélia.

- Mas..mas, deve haver algo dentro de voce dizendo do absurdo que é esta atitude. Voce é um lacaio de outro assassino que deixa somente voce com mãos ensangüentadas! Voce se sente masoquistamente feliz tão quanto teu senhor demonstra satisfação. Voce é um palhaço. Palhaço, não. Um capacho! Teu patrão está satisfeito não por teu trabalho realizado, mas pelo estorvo que saiu do caminho dele pelas tuas mãos assassinas e covardes!

- Pouco me abala essas elucubrações. Eu recebo o pagamento e pronto. Pouco me interessa que terei fantasmas me olhando das paredes do negócio que terei.

- Aah! Então voce tem um futuro!

- Não disse isso...

- Quanto falta pra esse... negócio?

- Escuta, dona Adélia! Não há paralelas pra mim, só uma reta que estou determinado a parar antes do infinito. Falta pouco, mas este pouco vale muito mais do que a senhora possa me oferecer. Portanto aceite o destino do jeito que ele se apresenta.

- Como eu posso aceitar isso tão calmamente como voce sugere? Eu estou em plena juventude e amando com todas as células de meu ser! É isso! Voce não ama nem foi amado! É um lacaio assassino e pária social!

- Chega! Puta! Eu posso ter voce aqui e agora! E tua única alternativa é se sujeitar!

- Jamais! Nunca um merda como voce seria capaz de me fazer sentir alguma coisa que fosse humana! Nada, nada mesmo, faria com que eu me sujeitasse a voce, besta assassina!

- Nem mesmo a vida de teu maridinho?

A única justificativa pela minha insensata impetuosidade de provocar o assassino, só podia ser a minha plena e inexperiente juventude. E agora, estava eu ali diante do imprevisível. Simplesmente gelei. Será que ele estava propondo a troca da vida de Bartolomeu pela minha?

De repente a realidade da presença da força do assassino pesou no meu autocontrole. Eu não conseguia reagir as suas palavras e esta involuntária mudez fazia meu sangue ferver de raiva.

Ele vem até onde estou sentada e uma de suas mãos me envolve o queixo fazendo eu olhar para cima. Ao mesmo tempo ele se inclina e me beija.

Por completa surpresa eu permaneci imóvel enquanto seus lábios sugavam os meus e sua língua serpenteava em busca da minha!

A mesma sensação que senti nos seios quando vi Bartolomeu com as calças arregaçadas montando o cavalo, aconteceu ali!

Sei que por uns segundos correspondi ao beijo e confesso que foi com grande esforço que me desvencilhei daquele beijo.

Eu sabia que deveria mostrar asco ao passar a costas da mão na boca, mas ao invés disso baixei a cabeça e apertando uma mão na outra, as posicionei em cima do colo. Se, naquele exato momento, ele tivesse tentado me beijar novamente, eu me entregaria totalmente!

- Vou lhe propor um trato. Quero voce pelo menos uma vez ao dia. Acontecendo isso, teu marido está salvo... nesse dia!

Eu levantei a cabeça e o encarei com olhos arregalados. Que poderia eu fazer? Novamente as circunstâncias não me deixavam alternativas. Como seria meu futuro?

- ... e quero uma garantia por escrito de certa quantia para que eu possa abrir um comércio... vamos dizer, em Portugal.

Quem cala, consente. O assassino vai até a mesa onde estão os papéis de meu marido e volta com um pedaço de papel, onde está escrito uma sigla alfanumérica. É a localização da cabine dele na segunda classe.

- Esteja lá às dez horas. Voce tem hoje a noite até amanhã pra me dar a garantia. Aah! Ia me esquecendo! Mostre a mercadoria pela qual estou escambando!

Vergonha. Humilhação. Ódio. Impotência. Estas eram as verdades de minha circunstância. Aquele ordem dissipou a mínima simpatia pelo ser humano que eu podia sentir por ele, já que eu teria que me submeter aos seus caprichos. Aquilo era uma atitude própria de um canalha. Já não era nada imprevisível. Eu simplesmente não movi um músculo.

Ele agarrou-me um dos braços fazendo-me levantar. Em instantes meu vestido longo de cetim pérola estava em frangalhos aos meus pés. Meus seios tremiam levemente e meus rosados mamilos ficaram tão empinados como meu queixo. Mantive minha cabeça erguida durante todo o tempo que ele rasgava meu vestido. Eu não iria me comportar como uma virgem amedrontada.

O assassino deu um passo atrás pra admirar meu voluptuoso corpo, que nem mesmo Bartolomeu, agora um pré-corno, tinha visto dessa maneira. Eu tinha os braços ao longo dos meus flancos e estava vestida com uma lingerie de seda que cobria um pouco abaixo do umbigo até a parte de cima das minhas esplendidas coxas. Um pouco mais abaixo, meias apertadas com ligas cobriam ambas as coxas. Meus sapatos eram de salto médio, como era moda na época.

Novamente o crápula se aproximou de mim e suas mãos vieram em direção a minha cintura. Antes que elas alcançassem o elástico da lingerie, eu as afastei com um tapa. Ele parou surpreso pra logo em seguida abrir a boca em admiração, mostrando seus belos dentes, quando viu que eu própria despia minha lingerie, levantando uma perna e depois a outra até que toda minha genitália ficasse exposta ao seu olhar libidinoso .

- Pudera eu ter voce agora! Mas é muito arriscado! E eu teria que lhe matar também!

Ele veio até minha frente e passando a mão por minha nuca, forçou-me a beijá-lo. Desta vez, resisti. Ele não percebeu nenhum tremor em todo meu corpo nu encostado ao seu. Mas se tivesse passado a mão em minha feminilidade, sairia com os dedos pingando!

Raferty
Enviado por Raferty em 13/12/2007
Reeditado em 15/12/2007
Código do texto: T775982